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INFÂNCIA
Febem investiga em Franco da Rocha outras regalias, como visita íntima e TVs particulares
Disque-pizza atendia infratores
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), Paulo Sérgio de Oliveira,
investiga regalias como entrega
noturna de pizza, televisores particulares, visitas íntimas e transferências concedidas a pedido dos
próprios internos do complexo de
internação de Franco da Rocha,
na Grande São Paulo.
A unidade enfrentou rebelião
com a fuga de 121 internos no sábado. Os jovens saíram pelo portão da frente. Há suspeita de que
funcionários facilitaram a ação.
"Isso é inadmissível", afirmou
Oliveira, ontem, a respeito das regalias, durante entrevista. "Mas,
às vezes, quando não há regras
claras, os diretores [de unidade",
como medida de desespero, deixam essa permissividade."
O presidente do sindicato dos
funcionários da Febem, Antônio
Gilberto da Silva, afirma ter cópias de memorandos de diretores
de unidades de Franco da Rocha e
Vila Maria (zona norte) ordenando que funcionários permitissem
a entrada de pizzas e de objetos
particulares para os internos. "A
regalia não é de hoje."
Dois dias após a fuga em Franco
da Rocha, a Febem anunciou a
mudança do diretor do complexo. Antônio dos Anjos assumiu o
cargo no lugar de José Tomaz Celidônio Gomes dos Reis.
Oliveira participava, ao lado do
governador Geraldo Alckmin
(PSDB) e do secretário da Educação, Gabriel Chalita, do lançamento de um programa de formação profissional de infratores,
na Febem Raposo Tavares.
O presidente da fundação confirmou a suspeita de que a transferência, dia 24, de Edivaldo José de
Araújo Lima, o Baianinho, para a
unidade onde estava Fábio Paulino, o Batoré, teria sido feita a pedido dos próprios menores. A
mudança é tida como o estopim
da rebelião do fim de semana.
"Na época, chegamos a dizer
que a transferência era algo arriscado, mas o diretor de unidade
tem liberdade para fazer essas coisas caso julgue adequadas", disse.
A liberdade da qual gozavam internos como Baianinho e Batoré e
a relação deles -assim como a de
Weberson de Paula Lima, o Edinho- com funcionários da Febem é, na avaliação de Oliveira, o
elo que poderá explicar a rebelião.
"Houve uma articulação entre
os mais velhos, não temos dúvida.
Houve também facilidades para
que a fuga tenha ocorrido e é sobre isso que queremos saber",
afirmou. "Foram inúmeras as situações suspeitas, nebulosas, naquele dia", completou.
Ainda de acordo com ele, os 65
internos recapturados desde domingo foram interrogados em
Franco da Rocha. "Os menores
disseram que Batoré e seu grupo
tentaram agredir outros internos
do "seguro" [setor onde ficam os
menores ameaçados]. Além disso, encontramos algumas facas na
unidade rebelada", disse.
Ontem, o governador defendeu
mudanças na legislação para que
infratores próximos da maioridade ou que a tenham ultrapassado,
como Batoré, 20, e Baianinho, 18,
recebam tratamento diferenciado
ou sejam transferidos para o sistema penitenciário. "É importante
entender que há certos casos que
precisam ser separados", disse.
Alckmin defendeu que, caso seja recapturado, Batoré seja levado
para uma penitenciária comum.
Porém, para isso, seria preciso
que ele cometesse novos crimes.
Os antigos estariam prescritos
já que foram cometidos enquanto
era menor de idade. Para o presidente da Febem, no entanto, as
circunstâncias da fuga de Franco
da Rocha já seriam criminosas o
suficiente para condená-lo.
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