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URBANIDADE
Direito à paisagem
ALTAR DA PÁTRIA Reflexão abaixo das esculturas de Ettore Ximenes (italiano, criticado pelos modernistas por ser "acadêmico"): a história cede frequentemente ao impulso de derrubar estátuas e, com poucas exceções, manda os homens a combater por isso; contudo parece oportuno distinguir entre guerra e guerra justa, quando os mortos (e as estátuas) são amontoados de um lado só. (VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O movimento de resistência começou silenciosamente quando os moradores
dos chamados "predinhos" de
Pinheiros descobriram que uma
construtora, reverente ao estilo
neoclássico, tinha comprado um
estacionamento nas imediações.
Além do desgosto estético de
viver ao lado de um monstrengo
neoclássico, sentiram-se vulneráveis: mais cedo ou mais tarde,
viriam para os proprietários dos
"predinhos" as propostas de
compra dos seus imóveis. Os terrenos ali atraem, há muito tempo, a cobiça de especuladores e
de construtores.
Erguidos na década de 40,
aqueles 21 prédios de três andares -dois apartamentos por andar- transformaram-se numa
espécie de oásis urbano. Os apartamentos são silenciosos, amplos, iluminados, com pé-direito
alto, cercados de jardim. Com
um generoso recuo da rua, não
exibem muros, como se não se
rendessem ao pânico paulistano.
É uma rara paisagem provinciana, apesar de os prédios estarem localizados entre a avenida Rebouças e a rua Teodoro Sampaio -uma barulhenta região
na fronteira com a Vila Madalena. "É refúgio", conta o morador
Daniel Annenberg. Essa cumplicidade facilitou os encontros informais para que se tramasse a
resistência imobiliária.
O problema é que os simpáticos "predinhos" não têm valor
arquitetônico nem histórico.
Não se sabia como garantir sua
conservação. Apelaram, então,
para Paulo Bastos, um dos mais
famosos arquitetos paulistanos
-é o responsável pela restauração da catedral da Sé e está fazendo os planos da revitalização
do gasômetro, no Brás, e da "cracolândia". De resto, ele mora na
região. "Aquele conjunto faz
parte da paisagem paulistana e,
por isso, merece ser preservado",
justificou, dizendo que os "predinhos" são exemplo de bom gosto
e respeito ao trânsito das ruas.
Montou-se, então, um arrazoado técnico com base no direito à paisagem, apresentado pelos
moradores às entidades de preservação do patrimônio. Ganharam a simpatia do arquiteto Jorge Wilheim, secretário municipal do Planejamento. "Gosto da
idéia", afirma.
Nesta semana, o movimento
de resistência recebeu a notícia
de que está prestes a vencer a
guerra: o conselho municipal
que cuida do patrimônio da cidade deu indicações de que os
pequenos edifícios serão tombados -e farão parte para sempre
da paisagem paulistana.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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