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GUERRA URBANA/ JUSTIÇA
Funcionários das Justiças Federal e Estadual receberam autorização para saírem antes; audiências que não ocorreram serão remarcadas
Fóruns encerram expediente mais cedo
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As ameaças de morte a um desembargador paulista, juiz-substituto do Tribunal de Justiça de
São Paulo, motivaram ontem o
pedido de proteção especial. O
magistrado concedeu liminar
num caso de crime hediondo,
contrariando o crime organizado.
O episódio foi simbólico da crise
atual. "Estão pipocando ameaças.
Muitos juízes estão assustados, a
coisa foi longe demais", admitiu
um desembargador estadual.
O gabinete do juiz ameaçado fica na rua Conselheiro Furtado,
próximo do Fórum João Mendes.
Outro juiz, vendo a improvisação
do esquema de proteção, sugeriu
que os policiais ficassem escondidos no prédio, prontos para reagir, mas sem exibir as escopetas.
A decisão das Justiças Estadual e
Federal de antecipar o fechamento dos fóruns levantou uma dúvida entre alguns juízes: em que
medida os cuidados com a preservação de sua segurança e a dos
funcionários podem vir a ser interpretados como intimidação,
como seria o objetivo dos criminosos. Na Justiça Federal, os funcionários receberam por e-mail a
autorização para saírem mais cedo. Junto, a recomendação de não
afixar esses comunicados em nenhum local. O Tribunal de Justiça
antecipou o fechamento de 348
fóruns e comarcas do Estado em
duas horas, das 19h para as 17h. O
diretor de cada fórum teve autonomia para encerrar os trabalhos
antes. Foram suspensos os prazos
de tramitação processual. As audiências que não ocorreram ontem serão remarcadas.
A Associação dos Magistrados
Brasileiros emitiu nota, assinada
pelo seu presidente, juiz Rodrigo
Collaço, em que repudia a onda
de violência no Estado. A entidade vê "uma clara tentativa de intimidação da criminalidade organizada", mas ressalta que "a situação de São Paulo, que não difere
muito de outros Estados, é resultante de vários anos de negligência". A AMB aponta, entre outras
causas, a legislação inadequada e
a ausência de segurança nos presídios.
"Estão atirando para todos os
lados. O sentido disso é a intimidação. Nenhuma autoridade pode ser intimidada. A Justiça está
funcionando e é importante que
não pare", diz o presidente da Associação Juízes para a Democracia, Marcelo Semer. Mas ele admite que ontem o pânico tomou
conta de funcionários.
"Nós estamos percebendo que
há um vácuo do Executivo. O Estado não manda dentro das prisões e o episódio deixou evidente
que o governo é incapaz de antecipar-se", afirma Semer.
O TJ paulista pediu ao comando
da PM o reforço do policiamento.
O tribunal requisitou o uso de armamento pesado em todos os fóruns do Estado. A série de ataques
a instalações do Judiciário também trouxe à tona a questão da
vulnerabilidade dos juízes em São
Paulo. "Não temos proteção da
Polícia Militar", diz um desembargador. Ele diz que uma agência da Nossa Caixa, no antigo Tribunal de Alçada Criminal, recebia
maior proteção policial.
Juízes paulistas que viajavam
para Campinas, costumavam sair
em comboio e, mesmo assim, já
foram alvo de assaltos, mesmo
usando carros oficiais.
O tribunal deverá avaliar a situação na abertura do expediente,
mas acredita-se que poderão ser
suspensas as sessões em algumas
câmaras, nesta terça-feira. Se, por
hipótese, as cinco câmaras do TJ
não funcionarem, haverá um acúmulo de 800 a 1.000 processos
sem julgamento.
Em Presidente Venceslau, ladrões invadiram o fórum e roubaram um caixa eletrônico. Em
Adamantina, duas bombas caseiras foram achadas perto do fórum
ontem. O fórum de Guararapes
foi alvejado no domingo.
Colaborou CLÁUDIA ROLLI, da Reportagem Local
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