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GUERRA URBANA/ PERFIL MARCOLA
Líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camargo começou no crime como batedor de carteiras no degradado bairro paulistano
Das ruas do Cambuci à "Arte da Guerra"
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Punguista. Foi nessa função,
ainda na segunda metade da década de 70, que Marcos Willians
Herbas Camacho, 38, o Marcola,
hoje o líder máximo da facção criminosa PCC (Primeiro Comando
da Capital), começou sua vida no
crime pelas ruas decadentes do
bairro do Cambuci, na região central de São Paulo.
Hoje, Playboy, como também é
chamado pelos amigos criminosos, é o responsável pela maior
onda de atentados já ocorrida no
Estado de São Paulo e tem fama
internacional, muito parecida
com a que teve o traficante colombiano já morto Pablo Escobar, líder do Cartel de Cali.
Ávido leitor, Marcola PCC gosta
de indicar aos amigos de cárcere a
leitura de "A Arte da Guerra", livro escrito há mais de 2.500 anos
pelo filósofo chinês Sun Tzu e que
também é a obra de cabeceira do
ex-técnico da seleção brasileira de
futebol Luiz Felipe Scolari.
Com base no ensinamento máximo da obra, "para derrotar um
inimigo, é preciso conhecê-lo",
Marcola conquistou o respeito da
massa carcerária e conseguiu a façanha de mobilizar milhares de
detentos ao mesmo tempo, até
mesmo fora de São Paulo. No início da década, numa tentativa de
isolá-lo e diminuir seu poder, o
governo paulista o mandou passar temporadas em um presídio
do Rio Grande do Sul e em um
outro de Brasília (DF).
A receita do isolamento teve
efeito contrário e Marcola, que
também gosta de indicar a leitura
do poeta italiano Dante Alighieri,
conseguiu difundir ainda mais as
"filosofias" do P.J.L. (Paz, Justiça e
Liberdade), que, teoricamente,
regem a conduta daqueles que fazem parte da organização criminosa, criada em agosto de 1993,
durante uma partida de futebol
disputada por oito amigos de
Marcola, dentro da Casa de Custódia de Taubaté (130 km de SP).
De fala mansa e muito galanteador, segundo as pessoas que mantêm contato mais direto com ele,
Marcola tem uma filha. Atualmente, ele namora uma moça que
estuda direito. Marcola foi casado
com a advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45, assassinada com dois tiros na cabeça,
em 23 de outubro, em Guarulhos
(Grande São Paulo).
O crime foi cometido, segundo
a polícia, a mando de outros
membros da facção criminosa
que estavam revoltados com a
postura da advogada em tentar
impedir que os integrantes do
PCC cometessem atentados como
os dos últimos dias.
Antes de ascender ao posto de
líder do PCC, Marcola teve de destituir do poder os ex-companheiros e fundadores da facção José
Márcio Felício, o Geleião, e Cesar
Augusto Roriz, o Cesinha, ambos
considerados "radicais" por defenderem ataques contra às forças
de segurança do Estado.
A rede de proteção de Marcola
no comando da facção é formada
por homens que também têm poder de manipulação junto à massa
carcerária: Júlio César Guedes de
Moraes, o Julinho Carambola,
também conhecido por gostar de
fazer citações de livros, Orlando
Mota Júnior, 34, o Macarrão, com
quem o governo estadual negociou durante os últimos dois dias
o fim da onda de violência, Alejandro Juvenal Herbas Camacho
Júnior, 34, irmão de Marcola recém recapturado pela polícia, e
Rogério Jeremias de Simone, o
Gegê do Mangue, apontado como
um dos envolvidos na assassinato, em 2003, do juiz Antonio José
Machado Dias, 47.
Carombola, Macarrão, Júnior e
Gegê, assim como o mentor Marcola, quase nunca falam gíria e
sempre sabem, de acordo com
agentes penitenciários que cuidaram deles, como negociar moderamente aquilo que desejam.
Para manter a facção, Marcola e
os seus "irmãos", como são tratados os membros do PCC, cobram
R$ 500 dos criminosos que estão
em liberdade e R$ 50 dos que estão presos, em troca de proteção.
Essa verba, sempre depositada
em contas bancárias de pessoas ligadas aos líderes, serve para financiar o tráfico de drogas, o resgate de presos e atentados.
"Bin Ladens"
Quando um "irmão" do PCC,
ou um "primo", denominação
dada aos simpatizantes da facção,
não consegue dinheiro para quitar sua contribuição mensal com
o grupo, ele passa a ser aliciado
para cumprir missões a mando
dos "pilotos" do grupo, que são os
detentos que têm contato mais direto com Marcola e seus subordinados imediatos.
Pela hierarquia de comando
criada em 1993, pilotos são aqueles detentos que cuidam das "faculdades", ou seja, das prisões onde há domínio do PCC. São eles
também quem repassam, com o
uso de telefones celulares, as ordens para que ataques ou mortes
em nome da facção sejam cometidos pelos "bin ladens" ou homens-bomba, em referência a
Osama bin Laden, líder da Al
Qaeda, e aos membros de organizações terroristas islâmicas.
Para pressionar um "bin laden"
a cometer crimes, os pilotos da
facção dão um "salve" (aviso) em
que apresentam duas opções aos
arregimentados: ou ele acerta o
valor que deve ao grupo ou cumpre a missão, seja ela no seu bairro
ou em uma outra área; caso contrário, ele passa a ser considerado
um traidor do "Partido do Crime"
ou do "15.3.3" (por causa das posições das letras "P" e "C" no alfabeto), as outras nomenclaturas da
facção paulista.
Em muitas situações, os ataques
são cometidos por jovens que tentam "fazer o moral" perante os
criminosos do bairro onde vivem
e que são membros do PCC. Isso é
uma maneira de demonstrar a
vontade de entrar para o grupo.
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