|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lagos ajudam no combate a enchentes, diz especialista
Diretor da ONG Floresta Urbana defende concentração de água em área pública
Ter lagos em boas condições nos parques ajuda a regular o clima da cidade, analisa
o representante técnico
da ONG, Jörg Spangenberg
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 1960, o lago do parque do Ibirapuera era ainda
usado literalmente pelos moradores de São Paulo.
Quem frequentava o parque
naquela época tem na lembrança passeios de barco pelo lago
principal e, porque não, uma ou
outra pescaria.
Os tempos são outros. A prefeitura diz que, agora, o lago do
parque é apenas um integrante
da paisagem. E que ele cumpre
muito bem essa função.
Os lagos paulistanos, entretanto, têm muitas serventias.
Eles não são importantes apenas para abrigar algumas espécies de peixes ou então vários
grupos de aves, diz o urbanista
especialista em áreas verdes
Jörg Spangenberg, diretor técnico da ONG Floresta Urbana.
Ter lagos em boas condições
nos parques públicos da capital, segundo ele, ajuda, por
exemplo, até na regulação do
clima da cidade.
Veja, a seguir, trechos da entrevista com o especialista.
(EDUARDO GERAQUE)
FOLHA - Um parque público tem lagos que não servem para nadar,
nem para beber a água. Para que
eles servem?
JÖRG SPANGENBERG - Uma coisa
importante, além da biodiversidade, é a climática. Um lago,
um espelho de água em grandes
proporções, ajuda a reter a água
nas épocas de fortes chuvas. Essa retenção, para evitar cheias,
é muito importante.
FOLHA - Os lagos dos parques são
artificiais, mas se relacionam com o
subsolo. Existe alguma relação benéfica nesse relacionamento?
SPANGENBERG - Os lagos são
bons para abastecer os lençóis
freáticos. As plantas, por exemplo, ajudam no processo de limpeza. Eles servem como um filtro que acaba por limpar a água
que se infiltra no solo.
FOLHA - Esses lagos poderiam fazer a função dos piscinões?
SPANGENBERG - É mais ou menos o mesmo processo. É bom
lembrar que o lixo todo que é
jogado na cidade, a poluição difusa, vai para o lago. Assim como vai para os piscinões. Neste
segundo caso, inclusive, todos
esses detritos acabam ficando
visíveis, depois das grandes
chuvas na cidade.
FOLHA - Os lagos, de alguma forma, ajudam a "refrescar" o clima
das cidades de concreto?
SPANGENBERG - Agora vamos
entrar no inverno, que é sempre uma época bem mais seca.
O lago tem um papel importante nesse período, porque ele
evapora. Essa água vai para a
atmosfera e ajuda a umidificar
o ar urbano. Isso é menos desejado no verão, porque o ar já está úmido, mas é um processo
muito desejado no inverno.
FOLHA - Atrapalha, o fato de determinados lagos estarem com uma
água poluída parte do tempo?
SPANGENBERG - Quem costuma
se dar bem com isso são as chamadas pragas urbanas. Tem
certos animais, como os ratos,
que se dão bem em águas poluídas. Esse animais comem de tudo. Outros bichos, mais sensíveis, vão ter menos sucesso
nesse tipo de ecossistema.
FOLHA - Ter lagos em áreas públicas é uma tendência mundial?
SPANGENBERG - Por princípio,
essa questão da água, e da natureza de forma geral, é algo que
cada vez mais fica muito importante. Cuidar disso, inclusive, tem a ver com consciência.
Os lagos, em cidades urbanas,
funcionam como oásis. Áreas
de muito conforto. A Coreia [do
Sul] faz isso muito bem hoje.
Eles procuram trazer as águas
para o centro da cidade. Para
melhorar a qualidade de vida.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Prefeitura avalia efeitos da poluição nos lagos Índice
|