São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Lagos ajudam no combate a enchentes, diz especialista

Diretor da ONG Floresta Urbana defende concentração de água em área pública

Ter lagos em boas condições nos parques ajuda a regular o clima da cidade, analisa o representante técnico da ONG, Jörg Spangenberg

DA REPORTAGEM LOCAL

Nos anos 1960, o lago do parque do Ibirapuera era ainda usado literalmente pelos moradores de São Paulo.
Quem frequentava o parque naquela época tem na lembrança passeios de barco pelo lago principal e, porque não, uma ou outra pescaria.
Os tempos são outros. A prefeitura diz que, agora, o lago do parque é apenas um integrante da paisagem. E que ele cumpre muito bem essa função.
Os lagos paulistanos, entretanto, têm muitas serventias. Eles não são importantes apenas para abrigar algumas espécies de peixes ou então vários grupos de aves, diz o urbanista especialista em áreas verdes Jörg Spangenberg, diretor técnico da ONG Floresta Urbana.
Ter lagos em boas condições nos parques públicos da capital, segundo ele, ajuda, por exemplo, até na regulação do clima da cidade.
Veja, a seguir, trechos da entrevista com o especialista.
(EDUARDO GERAQUE)

 

FOLHA - Um parque público tem lagos que não servem para nadar, nem para beber a água. Para que eles servem?
JÖRG SPANGENBERG -
Uma coisa importante, além da biodiversidade, é a climática. Um lago, um espelho de água em grandes proporções, ajuda a reter a água nas épocas de fortes chuvas. Essa retenção, para evitar cheias, é muito importante.

FOLHA - Os lagos dos parques são artificiais, mas se relacionam com o subsolo. Existe alguma relação benéfica nesse relacionamento?
SPANGENBERG -
Os lagos são bons para abastecer os lençóis freáticos. As plantas, por exemplo, ajudam no processo de limpeza. Eles servem como um filtro que acaba por limpar a água que se infiltra no solo.

FOLHA - Esses lagos poderiam fazer a função dos piscinões?
SPANGENBERG -
É mais ou menos o mesmo processo. É bom lembrar que o lixo todo que é jogado na cidade, a poluição difusa, vai para o lago. Assim como vai para os piscinões. Neste segundo caso, inclusive, todos esses detritos acabam ficando visíveis, depois das grandes chuvas na cidade.

FOLHA - Os lagos, de alguma forma, ajudam a "refrescar" o clima das cidades de concreto?
SPANGENBERG -
Agora vamos entrar no inverno, que é sempre uma época bem mais seca. O lago tem um papel importante nesse período, porque ele evapora. Essa água vai para a atmosfera e ajuda a umidificar o ar urbano. Isso é menos desejado no verão, porque o ar já está úmido, mas é um processo muito desejado no inverno.

FOLHA - Atrapalha, o fato de determinados lagos estarem com uma água poluída parte do tempo?
SPANGENBERG -
Quem costuma se dar bem com isso são as chamadas pragas urbanas. Tem certos animais, como os ratos, que se dão bem em águas poluídas. Esse animais comem de tudo. Outros bichos, mais sensíveis, vão ter menos sucesso nesse tipo de ecossistema.

FOLHA - Ter lagos em áreas públicas é uma tendência mundial?
SPANGENBERG -
Por princípio, essa questão da água, e da natureza de forma geral, é algo que cada vez mais fica muito importante. Cuidar disso, inclusive, tem a ver com consciência. Os lagos, em cidades urbanas, funcionam como oásis. Áreas de muito conforto. A Coreia [do Sul] faz isso muito bem hoje.
Eles procuram trazer as águas para o centro da cidade. Para melhorar a qualidade de vida.


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