São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Motoqueiros dizem sofrer preconceito da polícia

Dois motoboys já foram assassinados pela PM neste ano em São Paulo

Profissionais descrevem agressões cometidas por policiais e desrespeito de motoristas; reportagem não conseguiu falar com a PM

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem anda de moto em São Paulo não reclama apenas dos perigos do trânsito. Os motociclistas da cidade também se dizem vítimas de preconceito.
A Folha foi à General Osório (centro), famosa pelas lojas e oficinas especializadas em motos, e ouviu a mesma queixa tanto de pessoas que têm a moto como instrumento de trabalho quanto de quem a usa como mero meio de transporte.
"Basta estar em cima de uma moto, e você vira um bandido. É assim que as pessoas raciocinam", afirma o motoboy Adilson Cabral, 28, que trabalha para uma empresa de seguros.
A situação mais grave, segundo eles, é quando são parados nas blitze da Polícia Militar. "A abordagem é estúpida. Mandam pôr a mão na cabeça, são violentos, te chamam de vagabundo, multam por qualquer coisinha...", afirma o motoboy Lúcio Rodrigues, 31.
"Existe uma minoria [dos motociclistas] que faz besteira [comete crime]. A maioria está na rua para trabalhar. Mas, quando um faz, todos pagam."
O mecânico Tiago Cristiano, 26, que só usa a moto para ir ao trabalho, diz ser parado pela polícia quase todos os dias: "Já levei pontapé [de policial]. O curioso é que eles nunca fazem isso com quem está de carro".

Capacete proibido
A Folha não conseguiu contato com a Polícia Militar na sexta para que comentasse as declarações. Dois motoboys foram mortos pela PM nas últimas semanas em São Paulo.
A moto permite fuga rápida e o capacete impede que se identifique o criminoso. Procurada pela Folha, a Secretaria de Estado da Segurança Pública disse não ter estatísticas sobre crimes em São Paulo cometidos por ladrões em motos.
Em 2007, um juiz da cidade alagoana de São Sebastião contrariou as leis de trânsito e proibiu os motociclistas de usarem capacete no município. Alegou questões de segurança.

Mulheres assustadas
O constrangimento mais comum, de acordo com os motociclistas, ocorre no sinal vermelho. Quando a moto para, a pessoa que dirige o carro ao lado não esconde o temor: corre para fechar a janela, trancar a porta e esconder a bolsa.
"Algumas mulheres viram a cabeça para o outro lado. Têm medo até de olhar. Se pudessem furariam o sinal vermelho para sair dali", conta o advogado Sérgio Cordeiro, 27.
Ele diz que já se acostumou aos olhares tortos quando está em cima de uma de suas duas motos. "A culpa também é da TV. Já reparou que o bandido está sempre de moto?"
Os motociclistas dizem que também veem expressões de susto quando entram numa loja ou num edifício com o capacete na cabeça.
De acordo com a Abraciclo (associação de fabricantes de motos), São Paulo é o Estado com mais motos no país -cerca de 3,6 milhões.


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