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Motoqueiros dizem sofrer preconceito da polícia
Dois motoboys já foram assassinados pela PM neste ano em São Paulo
Profissionais descrevem agressões cometidas por policiais e desrespeito de motoristas; reportagem não conseguiu falar com a PM
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem anda de moto em São
Paulo não reclama apenas dos
perigos do trânsito. Os motociclistas da cidade também se dizem vítimas de preconceito.
A Folha foi à General Osório
(centro), famosa pelas lojas e
oficinas especializadas em motos, e ouviu a mesma queixa
tanto de pessoas que têm a moto como instrumento de trabalho quanto de quem a usa como
mero meio de transporte.
"Basta estar em cima de uma
moto, e você vira um bandido.
É assim que as pessoas raciocinam", afirma o motoboy Adilson Cabral, 28, que trabalha
para uma empresa de seguros.
A situação mais grave, segundo eles, é quando são parados
nas blitze da Polícia Militar. "A
abordagem é estúpida. Mandam pôr a mão na cabeça, são
violentos, te chamam de vagabundo, multam por qualquer
coisinha...", afirma o motoboy
Lúcio Rodrigues, 31.
"Existe uma minoria [dos
motociclistas] que faz besteira
[comete crime]. A maioria está
na rua para trabalhar. Mas,
quando um faz, todos pagam."
O mecânico Tiago Cristiano,
26, que só usa a moto para ir ao
trabalho, diz ser parado pela
polícia quase todos os dias: "Já
levei pontapé [de policial]. O
curioso é que eles nunca fazem
isso com quem está de carro".
Capacete proibido
A Folha não conseguiu contato com a Polícia Militar na
sexta para que comentasse as
declarações. Dois motoboys foram mortos pela PM nas últimas semanas em São Paulo.
A moto permite fuga rápida e
o capacete impede que se identifique o criminoso. Procurada
pela Folha, a Secretaria de Estado da Segurança Pública disse não ter estatísticas sobre crimes em São Paulo cometidos
por ladrões em motos.
Em 2007, um juiz da cidade
alagoana de São Sebastião contrariou as leis de trânsito e
proibiu os motociclistas de
usarem capacete no município.
Alegou questões de segurança.
Mulheres assustadas
O constrangimento mais comum, de acordo com os motociclistas, ocorre no sinal vermelho. Quando a moto para, a pessoa que dirige o carro ao lado
não esconde o temor: corre para fechar a janela, trancar a porta e esconder a bolsa.
"Algumas mulheres viram a
cabeça para o outro lado. Têm
medo até de olhar. Se pudessem furariam o sinal vermelho
para sair dali", conta o advogado Sérgio Cordeiro, 27.
Ele diz que já se acostumou
aos olhares tortos quando está
em cima de uma de suas duas
motos. "A culpa também é da
TV. Já reparou que o bandido
está sempre de moto?"
Os motociclistas dizem que
também veem expressões de
susto quando entram numa loja ou num edifício com o capacete na cabeça.
De acordo com a Abraciclo
(associação de fabricantes de
motos), São Paulo é o Estado
com mais motos no país -cerca
de 3,6 milhões.
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