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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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TRANSPORTE

Jilmar Tatto diz que prefeitura só percebeu neste ano estratégia de empresários de ônibus para SPTrans assumir garagens

Secretário admite "indústria" da intervenção

ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários de ônibus criaram uma "indústria" da intervenção em São Paulo, que levou a prefeitura a injetar R$ 74 milhões, durante seis meses, em cinco viações -cujas frotas representavam 15% do sistema municipal.
A administração Marta Suplicy (PT) se deu conta dessa estratégia empresarial somente neste ano, quando a prefeita determinou que a SPTrans (órgão municipal que cuida do setor) não assumisse a frota de mais nenhuma garagem -apesar da existência de greves e da descontinuidade dos serviços.
Essa versão é relatada por Jilmar Augustinho Tatto, 38, que assumiu a Secretaria dos Transportes no final de novembro de 2002, substituindo Carlos Zarattini -que não quis se manifestar.
O dinheiro injetado nas empresas equivale à metade da arrecadação mensal de todas as viações da capital paulista. Ele seria suficiente para a compra de 500 ônibus zero-quilômetro.
Embora aponte a ação articulada e intencional das viações, Tatto evita reconhecer, em entrevista à Folha, falhas da prefeitura por ter atendido ao desejo empresarial e realizado a maior quantidade de intervenções desde a gestão Luiza Erundina (1989-92).
Com esse discurso, Tatto nega que elas fossem "forjadas" pela prefeitura, conforme Romero Niquini afirmou à Polícia Federal. O empresário, que tinha a segunda maior frota da cidade, disse que havia um "esquema" entre donos de viações e a SPTrans para que as garagens fossem assumidas por interventores públicos, que pagariam os salários atrasados e as devolveriam saneadas.

Folha - Além de sindicalistas e empresários de ônibus, a PF já declarou que a prefeitura está no alvo das investigações em razão de denúncias sobre intervenções forjadas no transporte. Qual é a posição do sr. sobre essas acusações?
Jilmar Augustinho Tatto -
Fomos os primeiros a passar a documentação em relação ao comportamento de sindicalistas e empresários. E estamos processando as empresas que, na época, ficaram sob intervenção. Em relação ao dinheiro injetado, reafirmamos que não entregamos nenhum centavo aos empresários. Ele foi usado para fazer funcionar a frota. Forjar intervenção [é algo em que] eu não acredito. O Niquini tenta confundir a Polícia Federal.

Folha - O sr. diz não acreditar que tenha havido intervenção forjada. O sr. sabe dizer exatamente se houve ou não intervenção forjada?
Tatto -
Eu falo dessa forma porque não estava aqui [a série de intervenções começou em junho de 2002, e Tatto assumiu a pasta em novembro]. Mas não houve.

Folha - A prefeitura dá aval para viações obterem empréstimos?
Tatto -
Não. O máximo que se fez foi [parcelamento] de três vezes [do dinheiro injetado].

Folha - Parcelamento não é uma vantagem para o empresário? Ele deixa de pagar salários, a SPTrans intervém, paga, devolve a viação e ele recebe prazo para pagar.
Tatto -
Mas ele é punido. O Niquini, por exemplo, sofreu intervenção por fraude. Ele foi punido por não ser autorizado a operar mais [ele foi retirado do sistema]. De todas as empresas que sofreram intervenção, não sobrou nenhuma. Se houve alguma vantagem, hoje ela não existe.

Folha - A prefeitura injetou R$ 74 milhões em cinco viações. Os empresários tinham razão ao dizer que elas davam prejuízo?
Tatto -
Se a empresa não opera bem, ela perde passageiro. Se uma área está levando prejuízo, a culpa é do empresário, porque ele não fez direito, não renovou a frota.

Folha - Neste ano, não foram feitas novas intervenções [exceto por decisão judicial], apesar de haver greves. Por que houve essa decisão?
Tatto -
Nós achamos por bem [não fazer novas intervenções]. Na verdade, havia uma indústria. O empresário agia de maneira que acontecesse isso. Havia uma operação por parte dos empresários, que a gente descobriu agora, nos últimos meses. Daí falamos: vamos dar um basta.

Folha - Então havia uma indústria da intervenção provocada por empresários?
Tatto -
Essa mudança de procedimento [da prefeitura] precisa ser analisada no tempo. É uma guerra. Eles não queriam a licitação, queriam subsídios. A gente resolveu enfrentar. Então, falamos: vamos dar um basta. Foi uma decisão firme da prefeita, mesmo tendo transtornos.

Folha - Mas com qual interesse eles provocavam as intervenções?
Tatto -
Para desestabilizar a administração do ponto de vista político ou para tentar mudanças na licitação do transporte.

Folha - Mas a prefeitura, então, caiu no jogo dos empresários ao fazer as intervenções?
Tatto -
São momentos diferentes. A gente estava numa discussão de aprovação da nova lei. Foi uma batalha. E coincidiu que, quando eu cheguei, já havia um processo de publicação do edital. Entramos numa nova fase.


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