Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
Jilmar Tatto diz que prefeitura só percebeu neste ano estratégia de empresários de ônibus para SPTrans assumir garagens
Secretário admite "indústria" da intervenção
ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários de ônibus criaram uma "indústria" da intervenção em São Paulo, que levou a
prefeitura a injetar R$ 74 milhões,
durante seis meses, em cinco viações -cujas frotas representavam 15% do sistema municipal.
A administração Marta Suplicy
(PT) se deu conta dessa estratégia
empresarial somente neste ano,
quando a prefeita determinou
que a SPTrans (órgão municipal
que cuida do setor) não assumisse
a frota de mais nenhuma garagem
-apesar da existência de greves e
da descontinuidade dos serviços.
Essa versão é relatada por Jilmar
Augustinho Tatto, 38, que assumiu a Secretaria dos Transportes
no final de novembro de 2002,
substituindo Carlos Zarattini
-que não quis se manifestar.
O dinheiro injetado nas empresas equivale à metade da arrecadação mensal de todas as viações
da capital paulista. Ele seria suficiente para a compra de 500 ônibus zero-quilômetro.
Embora aponte a ação articulada e intencional das viações, Tatto
evita reconhecer, em entrevista à
Folha, falhas da prefeitura por ter
atendido ao desejo empresarial e
realizado a maior quantidade de
intervenções desde a gestão Luiza
Erundina (1989-92).
Com esse discurso, Tatto nega
que elas fossem "forjadas" pela
prefeitura, conforme Romero Niquini afirmou à Polícia Federal. O
empresário, que tinha a segunda
maior frota da cidade, disse que
havia um "esquema" entre donos
de viações e a SPTrans para que as
garagens fossem assumidas por
interventores públicos, que pagariam os salários atrasados e as devolveriam saneadas.
Folha - Além de sindicalistas e
empresários de ônibus, a PF já declarou que a prefeitura está no alvo
das investigações em razão de denúncias sobre intervenções forjadas no transporte. Qual é a posição
do sr. sobre essas acusações?
Jilmar Augustinho Tatto - Fomos
os primeiros a passar a documentação em relação ao comportamento de sindicalistas e empresários. E estamos processando as
empresas que, na época, ficaram
sob intervenção. Em relação ao
dinheiro injetado, reafirmamos
que não entregamos nenhum
centavo aos empresários. Ele foi
usado para fazer funcionar a frota. Forjar intervenção [é algo em
que] eu não acredito. O Niquini
tenta confundir a Polícia Federal.
Folha - O sr. diz não acreditar que
tenha havido intervenção forjada.
O sr. sabe dizer exatamente se houve ou não intervenção forjada?
Tatto - Eu falo dessa forma porque não estava aqui [a série de intervenções começou em junho de
2002, e Tatto assumiu a pasta em
novembro]. Mas não houve.
Folha - A prefeitura dá aval para
viações obterem empréstimos?
Tatto - Não. O máximo que se
fez foi [parcelamento] de três vezes [do dinheiro injetado].
Folha - Parcelamento não é uma
vantagem para o empresário? Ele
deixa de pagar salários, a SPTrans
intervém, paga, devolve a viação e
ele recebe prazo para pagar.
Tatto - Mas ele é punido. O Niquini, por exemplo, sofreu intervenção por fraude. Ele foi punido
por não ser autorizado a operar
mais [ele foi retirado do sistema].
De todas as empresas que sofreram intervenção, não sobrou nenhuma. Se houve alguma vantagem, hoje ela não existe.
Folha - A prefeitura injetou R$ 74
milhões em cinco viações. Os empresários tinham razão ao dizer
que elas davam prejuízo?
Tatto - Se a empresa não opera
bem, ela perde passageiro. Se uma
área está levando prejuízo, a culpa
é do empresário, porque ele não
fez direito, não renovou a frota.
Folha - Neste ano, não foram feitas novas intervenções [exceto por
decisão judicial], apesar de haver
greves. Por que houve essa decisão?
Tatto - Nós achamos por bem
[não fazer novas intervenções].
Na verdade, havia uma indústria.
O empresário agia de maneira
que acontecesse isso. Havia uma
operação por parte dos empresários, que a gente descobriu agora,
nos últimos meses. Daí falamos:
vamos dar um basta.
Folha - Então havia uma indústria
da intervenção provocada por empresários?
Tatto - Essa mudança de procedimento [da prefeitura] precisa
ser analisada no tempo. É uma
guerra. Eles não queriam a licitação, queriam subsídios. A gente
resolveu enfrentar. Então, falamos: vamos dar um basta. Foi
uma decisão firme da prefeita,
mesmo tendo transtornos.
Folha - Mas com qual interesse
eles provocavam as intervenções?
Tatto - Para desestabilizar a administração do ponto de vista político ou para tentar mudanças na
licitação do transporte.
Folha - Mas a prefeitura, então,
caiu no jogo dos empresários ao fazer as intervenções?
Tatto - São momentos diferentes. A gente estava numa discussão de aprovação da nova lei. Foi
uma batalha. E coincidiu que,
quando eu cheguei, já havia um
processo de publicação do edital.
Entramos numa nova fase.
Próximo Texto: INSS de viação deverá ser retido Índice
|