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AIDS
Meta prioritária de cientistas é reduzir transmissão de mãe para filho e tornar medicamentos acessíveis à população
Congresso coloca África como prioridade
GABRIELA SCHEINBERG
ENVIADA ESPECIAL A DURBAN
O 13º Congresso Mundial de
Aids, que se encerrou anteontem,
foi bem-sucedido em sua missão
de priorizar a África Subsaariana.
"Não vamos mais esconder a realidade do que está acontecendo na
África", disse Mark Wainberg, ex-presidente da Sociedade Internacional de Aids (IAS), que organizou o encontro realizado em Durban, na África do Sul.
A sociedade tentou priorizar alguns aspectos da epidemia durante o evento. "Reduzir a transmissão vertical (de mãe para filho) é a nossa meta prioritária",
informou a sociedade, por meio
de um comunicado.
Para isso, é preciso tornar acessíveis remédios que podem impedir a transmissão. Após longas
negociações entre os países africanos e a Unaids (programa de Aids
da Organização Mundial de Saúde), foi possível firmar um acordo
com um laboratório.
O laboratório Boehringer Ingelheim anunciou durante o congresso na África do Sul que oferecerá a droga Viramune de graça
durante cinco anos, como uma
forma de viabilizar a redução da
transmissão vertical.
A discussão de acesso às drogas
anti-retrovirais deve continuar,
no entanto. Alguns cientistas
aproveitaram o encontro para
manifestar suas opiniões.
"Em um curto período, precisamos obrigar a redução do preço
dos tratamentos para Aids. Precisamos torná-los o mais acessíveis
possível", disse Ronald Bayer, do
departamento de saúde pública
da Universidade Columbia, nos
EUA. "A comunidade internacional e, principalmente, os países
mais ricos do mundo precisam
aumentar os recursos disponíveis
para cuidar de pessoas infectadas
pelo HIV."
Segundo a Unaids, é preciso de
US$ 3 bilhões para tratar os africanos já infectados hoje e prevenir a
transmissão do HIV no futuro.
"Esse valor é dez vezes maior do
que o que está sendo aplicado hoje", disse Peter Piot, diretor-executivo da Unaids.
Além de cientistas, muitas
ONGs aproveitaram o encontro
para acusar os laboratórios farmacêuticos de serem responsáveis pelo "holocausto da Aids",
como chamam a epidemia no
continente africano.
A mais ativa foi a Act Up, que
chegou a invadir vários estandes
dos laboratórios durante o encontro. As ONGs pretendem continuar a fazer barulho enquanto
julgarem necessário.
Enquanto a discussão com os
laboratórios continua, entidades
filantrópicas decidiram tomar a
iniciativa e doar recursos para que
os países mais atingidos pela epidemia tenham acesso às drogas o
mais rápido possível.
A Fundação Bill e Melinda Gates doou US$ 90 milhões para diversas entidades que trabalham
com a Aids na África. Além de
comprar medicamentos, os recursos serão aplicados em cuidados básicos para a população e
para ajudar os órfãos da Aids,
crianças que perderam os pais em
razão da doença.
Alguns governos também aproveitaram o congresso para anunciar doações. A Usaid (Agência de
Desenvolvimento Internacional
dos EUA) vai repassar US$ 5 milhões para o Fundo Nelson Mandela para Crianças.
O governo holandês ofereceu
US$ 19,4 milhões para a Iniciativa
Internacional para uma Vacina
Anti-Aids (IAVI), grupo que está
testando um imunizante capaz de
prevenir a infecção.
A vacina anti-Aids, uma promessa que ainda deve vingar,
também foi considerada fator
prioritário durante o encontro.
No entanto, o foco não foi científico. A intenção é que, mesmo que
em fase de desenvolvimento, a vacina tenha acesso universal. A IAS
quer evitar uma discussão similar
a que está acontecendo agora com
medicamentos no futuro, quando
uma vacina que previna a infecção pelo HIV existir.
Ainda na área de prevenção, a
sociedade valorizou o desenvolvimento de microbicidas, pomadas
que são aplicadas por mulheres
na vagina ou no ânus antes de
uma relação sexual sem preservativo. A pomada será capaz de matar o vírus. Os microbicidas, que
devem dar à mulher a liberdade
de se proteger contra a infecção
pelo HIV, estão sendo testados.
Além dos fatores científicos da
prevenção, discutiu-se também
formas alternativas de reduzir a
transmissão do HIV.
"A educação e a informação de
como evitar a contaminação pelo
HIV deve ser prioritária. Ela deve
induzir uma mudança de comportamento, de forma que todos
entendam os riscos envolvidos",
disse Roy Anderson, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Outros centros científicos também estão atuando no campo da
prevenção. Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na
sigla em inglês) anunciou durante
o congresso a criação de uma rede
de estudos para prevenção do
HIV, que visa desenvolver estratégias locais para prevenir a transmissão. A rede terá a participação
de centros espalhados pelo mundo todo.
"Precisamos investigar todas as
possíveis estratégias para acabar
com a transmissão do HIV, incluindo microbicidas e outras intervenções biológicas e comportamentais", disse Anthony Fauci,
diretor do setor de doenças infecciosas do NIH. "A rede fortalece a
nossa capacidade de descobrir
novas e melhores formas de proteger as pessoas, principalmente
crianças e mulheres."
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