São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


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AIDS
Meta prioritária de cientistas é reduzir transmissão de mãe para filho e tornar medicamentos acessíveis à população
Congresso coloca África como prioridade

GABRIELA SCHEINBERG
ENVIADA ESPECIAL A DURBAN

O 13º Congresso Mundial de Aids, que se encerrou anteontem, foi bem-sucedido em sua missão de priorizar a África Subsaariana. "Não vamos mais esconder a realidade do que está acontecendo na África", disse Mark Wainberg, ex-presidente da Sociedade Internacional de Aids (IAS), que organizou o encontro realizado em Durban, na África do Sul.
A sociedade tentou priorizar alguns aspectos da epidemia durante o evento. "Reduzir a transmissão vertical (de mãe para filho) é a nossa meta prioritária", informou a sociedade, por meio de um comunicado.
Para isso, é preciso tornar acessíveis remédios que podem impedir a transmissão. Após longas negociações entre os países africanos e a Unaids (programa de Aids da Organização Mundial de Saúde), foi possível firmar um acordo com um laboratório.
O laboratório Boehringer Ingelheim anunciou durante o congresso na África do Sul que oferecerá a droga Viramune de graça durante cinco anos, como uma forma de viabilizar a redução da transmissão vertical.
A discussão de acesso às drogas anti-retrovirais deve continuar, no entanto. Alguns cientistas aproveitaram o encontro para manifestar suas opiniões.
"Em um curto período, precisamos obrigar a redução do preço dos tratamentos para Aids. Precisamos torná-los o mais acessíveis possível", disse Ronald Bayer, do departamento de saúde pública da Universidade Columbia, nos EUA. "A comunidade internacional e, principalmente, os países mais ricos do mundo precisam aumentar os recursos disponíveis para cuidar de pessoas infectadas pelo HIV."
Segundo a Unaids, é preciso de US$ 3 bilhões para tratar os africanos já infectados hoje e prevenir a transmissão do HIV no futuro. "Esse valor é dez vezes maior do que o que está sendo aplicado hoje", disse Peter Piot, diretor-executivo da Unaids.
Além de cientistas, muitas ONGs aproveitaram o encontro para acusar os laboratórios farmacêuticos de serem responsáveis pelo "holocausto da Aids", como chamam a epidemia no continente africano.
A mais ativa foi a Act Up, que chegou a invadir vários estandes dos laboratórios durante o encontro. As ONGs pretendem continuar a fazer barulho enquanto julgarem necessário.
Enquanto a discussão com os laboratórios continua, entidades filantrópicas decidiram tomar a iniciativa e doar recursos para que os países mais atingidos pela epidemia tenham acesso às drogas o mais rápido possível.
A Fundação Bill e Melinda Gates doou US$ 90 milhões para diversas entidades que trabalham com a Aids na África. Além de comprar medicamentos, os recursos serão aplicados em cuidados básicos para a população e para ajudar os órfãos da Aids, crianças que perderam os pais em razão da doença.
Alguns governos também aproveitaram o congresso para anunciar doações. A Usaid (Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA) vai repassar US$ 5 milhões para o Fundo Nelson Mandela para Crianças.
O governo holandês ofereceu US$ 19,4 milhões para a Iniciativa Internacional para uma Vacina Anti-Aids (IAVI), grupo que está testando um imunizante capaz de prevenir a infecção.
A vacina anti-Aids, uma promessa que ainda deve vingar, também foi considerada fator prioritário durante o encontro. No entanto, o foco não foi científico. A intenção é que, mesmo que em fase de desenvolvimento, a vacina tenha acesso universal. A IAS quer evitar uma discussão similar a que está acontecendo agora com medicamentos no futuro, quando uma vacina que previna a infecção pelo HIV existir.
Ainda na área de prevenção, a sociedade valorizou o desenvolvimento de microbicidas, pomadas que são aplicadas por mulheres na vagina ou no ânus antes de uma relação sexual sem preservativo. A pomada será capaz de matar o vírus. Os microbicidas, que devem dar à mulher a liberdade de se proteger contra a infecção pelo HIV, estão sendo testados.
Além dos fatores científicos da prevenção, discutiu-se também formas alternativas de reduzir a transmissão do HIV.
"A educação e a informação de como evitar a contaminação pelo HIV deve ser prioritária. Ela deve induzir uma mudança de comportamento, de forma que todos entendam os riscos envolvidos", disse Roy Anderson, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Outros centros científicos também estão atuando no campo da prevenção. Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês) anunciou durante o congresso a criação de uma rede de estudos para prevenção do HIV, que visa desenvolver estratégias locais para prevenir a transmissão. A rede terá a participação de centros espalhados pelo mundo todo.
"Precisamos investigar todas as possíveis estratégias para acabar com a transmissão do HIV, incluindo microbicidas e outras intervenções biológicas e comportamentais", disse Anthony Fauci, diretor do setor de doenças infecciosas do NIH. "A rede fortalece a nossa capacidade de descobrir novas e melhores formas de proteger as pessoas, principalmente crianças e mulheres."


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