São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÉRIAS
Revezamento na hora de cuidar dos filhos evita que eles passem muito tempo diante da televisão ou do computador
"Rodízio" de mães tira crianças da rotina

DENISE CHIARATO
VANESSA ALVES BAPTISTA

DA REDAÇÃO

Tão esperadas pelas crianças, as férias do meio de ano podem se transformar em uma grande preocupação para os pais que trabalham e não podem pagar viagens ou cursos programados pelas próprias escolas. Para evitar que os filhos fiquem grudados na TV ou no computador, uma das saídas tem sido o "rodízio de mães" -quando elas se revezam no cuidado com as crianças.
"Os pais não podem ser ingênuos e achar que a criança vai se comportar ficando sozinha. Ela acaba fazendo o que quer", diz a consultora em educação e ex-secretária municipal da Educação do Rio, Regina de Assis, uma das adeptas do rodízio de mães.
Regina diz que participou do que chama de cooperativa de mães: cada uma delas tinha de ficar com as crianças por um determinado número de horas, que era contabilizado por meio de fichas.
Além de facilitar a vida das mães, o rodízio, diz, proporciona à criança desenvolver várias atividades, já que cada uma acaba organizando um tipo de brincadeira, como desenhar, cozinhar e conhecer lugares diferentes.
O rodízio de mães é ainda mais importante para quem tem filho único, como afirma a analista de pesquisas Vilma Luiza Bokany, mãe de Leon Vítor, 9. Ela diz que, no ano passado, fez um acordo com um grupo de vizinhas para que se revezassem no cuidado com as crianças durante as férias. "Quando as crianças estão juntas, elas acabam partindo para brincadeiras mais criativas. Sozinha, elas acabam ficando no computador ou assistindo TV", diz.
Como trabalhava durante todo o dia, Vilma compensava a ajuda nos finais de semana. "É claro que a casa fica de "pernas para o ar" com sete crianças juntas, mas é menos estressante do que ficar com ele sozinho." Sem os amigos, diz ela, a criança cobra a atenção dos pais o tempo todo.
Neste mês, a operadora de telemarketing Cláudia Pete tem ficado com seis crianças quase todas as tardes: além dos filhos Renan, 10, e Alan, 7, ela cuida de dois sobrinhos e dois vizinhos. Em troca, seus filhos passam o fim-de-semana na chácara da vizinha Andréia Zampiroli Tavares.
"Procuro sempre fazer algum passeio. Nós vamos para o Corinthians ou aproveitamos algum evento gratuito. Eles se divertem e eu sei que estão protegidos quando estão comigo ou com a minha amiga", afirma.
O conselho de Cláudia para garantir a eficácia do rodízio é não interferir nas brigas das crianças.
A educadora Regina de Assis afirma que a solidariedade entre os pais, principalmente nas férias, evita que a criança fique passiva diante da TV. Nesses períodos, há casos em que os filhos ficam até cinco horas seguidas diante do aparelho -quando o recomendado é no máximo duas, e em horários intercalados.
"E o pior é que ele fica sozinho, sem ninguém para comentar ou criticar o que ele está assistindo", diz. Regina, que já foi professora do ensino fundamental, afirma que percebia quando um de seus alunos passava as férias confinado dentro de casa.
A psicopedagoga Raquel Caruso Whitaker também acredita que a criança que não desenvolveu algum tipo de atividade durante as férias acaba voltando diferente para a sala de aula. "Em alguns casos, ela pode ficar mais retraída ou com menor poder de concentração", afirma.
A questão não é apenas a TV. Para os especialistas, as férias devem ser usadas não só para quebrar a rotina escolar, mas também para desenvolver na criança um outro tipo de aprendizado.
"Não concordo com os pais que saem e obrigam os filhos a fazer lição de casa. As férias não são para isso. Existem brincadeiras que podem ser educativas", ensina a psicopedagoga Renata Simon.
A ida a museus e parques é a sugestão mais citada pelos especialistas. Segundo Regina, esses passeios incentivam a criança a ter outro olhar em relação à cidade, além de despertar a curiosidade.
Renata não acredita na tese de que, durante as férias, é preciso uma novidade diferente a cada dia. Uma ida ao zoológico ou a um museu, por exemplo, pode render dias de brincadeira e de aprendizado. Antes do passeio, os pais podem pedir que a criança escreva sobre o que acha que irá encontrar lá. Depois, podem repetir o exercício, pedindo que a criança descreva o que de fato viu.
A ex-secretária da Educação também diz que "mudar de ar" durante as férias não significa necessariamente viajar para algum lugar distante. Passar uns dias na casa de um parente que mora perto pode ter um significado especial para as crianças.
É o caso das irmãs Alice, 9, e Marina, 6, que estão passando alguns dias na casa da avó Eunice Gozzi Tufolo, 67, que mora em Interlagos. "Eu sinto que elas gostam desse tempo e eu, por conta disso, acabo voltando aos meus tempos de criança", diz a avó.
Para os pequenos, uma noite na casa do vizinho pode parecer uma viagem. "Só o fato de levar a escova de dentes e o pijama para a casa do vizinho já é o máximo para eles", diz Vilma.


Texto Anterior: Plantão
Próximo Texto: Volta às aulas exige preparação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.