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FÉRIAS
Revezamento na hora de cuidar dos filhos evita que eles passem muito tempo diante da televisão ou do computador
"Rodízio" de mães tira crianças da rotina
DENISE CHIARATO
VANESSA ALVES BAPTISTA
DA REDAÇÃO
Tão esperadas pelas crianças, as
férias do meio de ano podem se
transformar em uma grande
preocupação para os pais que trabalham e não podem pagar viagens ou cursos programados pelas próprias escolas. Para evitar
que os filhos fiquem grudados na
TV ou no computador, uma das
saídas tem sido o "rodízio de
mães" -quando elas se revezam
no cuidado com as crianças.
"Os pais não podem ser ingênuos e achar que a criança vai se
comportar ficando sozinha. Ela
acaba fazendo o que quer", diz a
consultora em educação e ex-secretária municipal da Educação
do Rio, Regina de Assis, uma das
adeptas do rodízio de mães.
Regina diz que participou do
que chama de cooperativa de
mães: cada uma delas tinha de ficar com as crianças por um determinado número de horas, que era
contabilizado por meio de fichas.
Além de facilitar a vida das
mães, o rodízio, diz, proporciona
à criança desenvolver várias atividades, já que cada uma acaba organizando um tipo de brincadeira, como desenhar, cozinhar e conhecer lugares diferentes.
O rodízio de mães é ainda mais
importante para quem tem filho
único, como afirma a analista de
pesquisas Vilma Luiza Bokany,
mãe de Leon Vítor, 9. Ela diz que,
no ano passado, fez um acordo
com um grupo de vizinhas para
que se revezassem no cuidado
com as crianças durante as férias.
"Quando as crianças estão juntas,
elas acabam partindo para brincadeiras mais criativas. Sozinha,
elas acabam ficando no computador ou assistindo TV", diz.
Como trabalhava durante todo
o dia, Vilma compensava a ajuda
nos finais de semana. "É claro que
a casa fica de "pernas para o ar"
com sete crianças juntas, mas é
menos estressante do que ficar
com ele sozinho." Sem os amigos,
diz ela, a criança cobra a atenção
dos pais o tempo todo.
Neste mês, a operadora de telemarketing Cláudia Pete tem ficado com seis crianças quase todas
as tardes: além dos filhos Renan,
10, e Alan, 7, ela cuida de dois sobrinhos e dois vizinhos. Em troca,
seus filhos passam o fim-de-semana na chácara da vizinha Andréia Zampiroli Tavares.
"Procuro sempre fazer algum
passeio. Nós vamos para o Corinthians ou aproveitamos algum
evento gratuito. Eles se divertem e
eu sei que estão protegidos quando estão comigo ou com a minha
amiga", afirma.
O conselho de Cláudia para garantir a eficácia do rodízio é não
interferir nas brigas das crianças.
A educadora Regina de Assis
afirma que a solidariedade entre
os pais, principalmente nas férias,
evita que a criança fique passiva
diante da TV. Nesses períodos, há
casos em que os filhos ficam até
cinco horas seguidas diante do
aparelho -quando o recomendado é no máximo duas, e em horários intercalados.
"E o pior é que ele fica sozinho,
sem ninguém para comentar ou
criticar o que ele está assistindo",
diz. Regina, que já foi professora
do ensino fundamental, afirma
que percebia quando um de seus
alunos passava as férias confinado dentro de casa.
A psicopedagoga Raquel Caruso Whitaker também acredita que
a criança que não desenvolveu algum tipo de atividade durante as
férias acaba voltando diferente
para a sala de aula. "Em alguns casos, ela pode ficar mais retraída
ou com menor poder de concentração", afirma.
A questão não é apenas a TV.
Para os especialistas, as férias devem ser usadas não só para quebrar a rotina escolar, mas também
para desenvolver na criança um
outro tipo de aprendizado.
"Não concordo com os pais que
saem e obrigam os filhos a fazer lição de casa. As férias não são para
isso. Existem brincadeiras que
podem ser educativas", ensina a
psicopedagoga Renata Simon.
A ida a museus e parques é a sugestão mais citada pelos especialistas. Segundo Regina, esses passeios incentivam a criança a ter
outro olhar em relação à cidade,
além de despertar a curiosidade.
Renata não acredita na tese de
que, durante as férias, é preciso
uma novidade diferente a cada
dia. Uma ida ao zoológico ou a
um museu, por exemplo, pode
render dias de brincadeira e de
aprendizado. Antes do passeio, os
pais podem pedir que a criança
escreva sobre o que acha que irá
encontrar lá. Depois, podem repetir o exercício, pedindo que a
criança descreva o que de fato viu.
A ex-secretária da Educação
também diz que "mudar de ar"
durante as férias não significa necessariamente viajar para algum
lugar distante. Passar uns dias na
casa de um parente que mora perto pode ter um significado especial para as crianças.
É o caso das irmãs Alice, 9, e
Marina, 6, que estão passando alguns dias na casa da avó Eunice
Gozzi Tufolo, 67, que mora em Interlagos. "Eu sinto que elas gostam desse tempo e eu, por conta
disso, acabo voltando aos meus
tempos de criança", diz a avó.
Para os pequenos, uma noite na
casa do vizinho pode parecer uma
viagem. "Só o fato de levar a escova de dentes e o pijama para a casa
do vizinho já é o máximo para
eles", diz Vilma.
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