São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2001

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CAOS NA BAHIA

Reunião é adiada e polícia ameaça voltar aos quartéis

Reuters
Com a presença de soldados do Exército, moradores e turistas voltaram ontem às ruas de Salvador


Grevistas, que voltaram parcialmente ao trabalho, dizem esperar proposta só até hoje pela manhã

EDUARDO SCOLESE
LUIZ FRANCISCO

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Sem nenhuma nova proposta salarial para fazer à categoria, o governo baiano frustrou ontem os líderes da greve dos policiais civis e militares ao adiar uma reunião marcada para as 16h30 e que poderia pôr fim ao movimento iniciado há 12 dias. Até agora, a oferta oficial continua sendo o índice de 14%, já rejeitado.
Depois de uma longa reunião entre o governador César Borges (PFL) e deputados oposicionistas, que terminou na madrugada de sábado, ficou definido que 30% dos policiais rebelados deveriam voltar imediatamente às ruas da capital baiana. Com os PMs fazendo o patrulhamento da cidade, o governo abriria um novo canal de negociação.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia, Crispiniano Daltro, os grevistas cumpriram o acordo, que previa a colocação de 800 policiais nas ruas de Salvador e região metropolitana da capital.
Mas o governo alegou que ainda não havia conseguido confirmar se havia ontem 30% dos policiais trabalhando, como o combinado.
"O governo já adiou a reunião por três vezes. Não vamos mais tolerar o descaso", disse Daltro.
O líder grevista informou que o comando de greve decidiu manter os 800 policiais trabalhando até as 9h de hoje, horário previsto para a reunião marcada com representantes do governo, na Secretaria da Administração.
"Se não fecharmos o acordo, dificilmente os policiais que estão trabalhando vão permanecer nas ruas", continuou Daltro.

Exigências e recuos
O governo ainda alegou que foi preciso adiar a reunião para concluir o levantamento sobre o impacto na folha salarial de um eventual reajuste de 20% que seria oferecido à categoria.
Nesse caso, o aumento não seria apenas sobre o salário-base da PM, que é de R$ 180. Alguns setores do governo defendem que o reajuste incida também sobre as gratificações dos policiais.
As duas categorias reivindicam piso unificado de R$ 1.200. Na Bahia, um policial militar que faz serviço de rua ganha R$ 450. Um civil recebe R$ 600. Nos dois salários estão incluídas gratificações.
Além do reajuste salarial, os grevistas também querem a reintegração de 68 militares e a libertação de dois líderes do movimento -o tenente Everton Uzeda e o sargento Isidório Santana.
O governo anunciou que aceita as duas reivindicações. Anteontem, os dois PMs presos foram autorizados a percorrer os quartéis para falar com os grevistas.
A disposição de negociar também foi adotada pelo governo para melhorar a sua imagem. Comerciantes, turistas e profissionais liberais afetados pela greve responsabilizam o governo baiano pelo caos que tomou conta de Salvador nos últimos dias.
Ontem, a assessoria de imprensa da PM informou que muitos policiais não foram às ruas por falta de armas. Os grevistas amotinados estão controlando as armas da PM que estão nos batalhões e companhias independentes.
Com poucos policiais nas ruas -normalmente, 2.200 PMs trabalham diariamente na capital-, a segurança de Salvador continua sendo realizada por tropas do Exército. Ontem, mais 250 soldados de Pernambuco e da Paraíba chegaram à cidade.

Brasília
Também em Brasília, os policiais militares e os bombeiros de Brasília estão insatisfeitos com suas condições de trabalho. Eles vão organizar um ato público, na quinta-feira, para pedir aumento salarial.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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