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EDUCAÇÃO
Desde 95, contratos provisórios aumentaram 29%; governo anuncia concurso de 2.000 vagas, mas há 7.141 cargos abertos
Cresce número de substitutos nas federais
ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da festa pela aprovação
no vestibular de uma universidade federal, o aluno se depara com
uma situação talvez inesperada:
aula com professor substituto.
Não é o professor, pesquisador,
doutor que ele esperava, mas, na
maioria das vezes, um iniciante,
com um contrato de dois anos.
Desde 1995, o número cresceu
29%. Hoje, a cada sete professores
das federais, um é substituto.
Em 1995, eram 5.537 provisórios para os 48.652 cargos docentes das 52 Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior), segundo
o MEC (Ministério da Educação).
Em maio último, eram 7.141, o
que significa queda na qualidade,
reconhecem reitores, professores,
alunos e o próprio ministério.
Os baixos salários e a não-reposição de aposentadorias são as
principais causas para o agravamento do quadro. O MEC fez
concursos em 1996 e em 1998, mas
nunca zerou o déficit de efetivos.
Para evitar o fechamento de cursos como fonoaudiologia, na Bahia, e de disciplinas, como algumas de ciências humanas na
maior das federais, a UFRJ -do
Rio-, manteve substitutos.
Na semana passada, o ministério anunciou um novo concurso
que também não zera: 2.000 vagas. Mas, até agora, a portaria
conjunta com o Ministério do
Planejamento não foi publicada.
"O substituto é uma solução
provisória. Claro que há queda de
qualidade. Vamos zerar o déficit
com o sistema de emprego público", disse o diretor do Departamento de Desenvolvimento do
Ensino Superior do MEC, José
Luiz da Silva Valente. Com o novo
sistema, o governo quer acabar
com os chamados estatutários
(efetivos) e já prepara um projeto
de lei para contratar só pela Consolidação das Leis do Trabalho.
Queda de exigência
O substituto ganha menos que o
efetivo (não tem gratificação de
até 60%), praticamente só dá aula,
quase não faz pesquisa ou extensão e tem qualificação menor.
A maioria (54,6%) tem apenas
graduação, sem especialização,
mestrado ou doutorado; só 4,71%
são doutores. Entre os efetivos, essa proporção quase que se inverte: 40,4% são doutores e 9% têm
só a graduação.
"Claro. Com esse salário, temos
de derrubar as exigências", disse
um reitor que pediu que seu nome fosse preservado.
Por 20 horas semanais, o salário
de um substituto só com graduação não chega a R$ 320; com dedicação exclusiva por 40 horas, chega a R$ 985. Se tiver doutorado, o
substituto recebe R$ 738, por
meio período, e R$ 2.287, por dedicação exclusiva e integral.
Nas estaduais paulistas (USP,
Unesp e Unicamp), os salários são
os mesmos para contratados e
efetivos no mesmo nível. Um graduado ganha R$ 821, por meio período, e R$ 1.866, por dedicação
exclusiva; um doutor, R$ 1.700,
por 20 horas semanais, e R$ 3.864,
no regime integral.
Para complicar, o substituto fica, no máximo, três anos na universidade. Para evitar vínculo empregatício, tem um contrato de
um ano, renovável por mais um.
Em maio, portaria do MEC autorizou as universidades a renovar
ainda por mais um ano, desde que
não haja outros candidatos.
Além de não preencher todas as
vagas, os cargos propostos podem
apenas empatar com lacunas que
serão abertas por aposentadorias.
É esse o quadro, por exemplo,
da Esam (Escola Superior de
Agricultura de Mossoró - RN),
que tem 19 vagas em seus 72 cargos (26,39%, a maior concentração do país). A Esam recebeu autorização para preencher apenas
sete vagas no concurso. "Neste
ano, aposentam-se três professores, dois, no ano que vem, e dois,
em 2003. Fora os imprevistos",
disse o diretor da escola, Marcelo
José Pedrosa Pinheiros.
Em 2002, ano eleitoral, não pode haver contratações depois de
abril. Outro concurso só será
marcado no novo governo.
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