São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Colégio Dante Alighieri diz que menina caiu em área plana e foi socorrida imediatamente; pai pede esclarecimentos

Promotoria analisará morte em escola

DA REPORTAGEM LOCAL

A Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo informou ontem que vai designar um promotor do 1º Tribunal do Júri para acompanhar a investigação da morte da garota Marina Simonetti Bandeira de Melo, 7, estudante do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo.
A menina morreu no último dia 28, no interior do colégio, em um acidente em circunstâncias ainda não explicadas. O atestado de óbito apontou traumatismo raquimedular (lesão na coluna cervical) como causa da morte.
O procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Pinho, disse, por meio de sua assessoria, que vai designar um promotor porque o caso apresenta "circunstâncias estranhas". O nome do escolhido deve ser confirmado hoje.
A família da garota suspeita de negligência do colégio e passou a buscar testemunhas do acidente. O juiz civil Ricardo Procópio Bandeira de Melo, 41, pai de Marina, diz ter sido procurado por várias mães de alunos e que pelo menos três relataram que seus filhos viram a menina cair de uma escada. As mães, segundo ele, estariam dispostas a falar à policia.
O colégio, por sua vez, nega a suspeita e afirma que a menina caiu em uma área plana, recebendo socorro médico imediato.
"Não estou acusando ninguém. Só quero saber as reais circunstâncias dessa queda", afirma Melo. Ele e a mulher, também juíza, são de Natal (RN) e estavam havia cinco meses em São Paulo cursando um mestrado na PUC (Pontifícia Universidade Católica).
A mãe de uma garota que estudava na classe de Marina, que prefere não se identificar, disse à Folha que, no dia do acidente, a filha chegou em casa contando que a amiga havia caído da escada e sangrado pela boca. Essa mãe diz ter ligado no mesmo dia para outras mães, que disseram ter ouvido dos filhos o mesmo relato.
A Folha visitou o colégio ontem e constatou que a única escada próxima ao local onde a menina teria caído fica três metros à frente e tem 20 degraus que levam a um pátio em um andar superior.
"Não temos registro de que ela acessou a escada. Ela caiu das próprias pernas, em superfície plana. Não podemos admitir algo que não aconteceu", afirma o diretor pedagógico do Dante Alighieri, Lauro Spaggiari.
Spaggiari diz que, no dia do episódio, a menina passou o recreio (das 14h20 às 14h50) com colegas na sala de leitura e, três minutos antes do fim do intervalo, saiu do local em direção à sala de aula. No caminho, relata o diretor, ela passou pelo porteiro da biblioteca e, cinco metros adiante, caiu no chão, de frente, em superfície plana, pouco antes de um desnível que dá acesso às escadas.
Há duas câmeras instaladas perto do local, mas a escola afirma que elas são usadas apenas para monitoramento, sem gravação das imagens.
Spaggiari diz que o porteiro correu ao encontro da menina, virou-a e percebeu que ela havia se urinado. Imediatamente chamou o bombeiro da escola, que é auxiliar de enfermagem, e outros quatro funcionários. Os cinco afirmam que viram a menina caída no mesmo lugar.
A menina foi transportada até o ambulatório e atendida por dois médicos do colégio, que constataram parada cardíaca. Segundo o diretor, os médicos chamaram o Corpo de Bombeiros, fizeram massagens e utilizaram desfibrilador e respirador mecânico, conseguindo reanimá-la.
Com o quadro estável -batimentos cardíacos e respiração mantidos artificialmente-, ela foi levada pela equipe de resgate ao Hospital das Clínicas, segundo o colégio. A assessoria de imprensa do hospital informou, no entanto, que a menina chegou morta ao hospital e que, por isso, a equipe médica se negou a preencher o atestado de óbito.

Laudo
O 78º DP (Jardins), que investiga o caso, não recebeu até ontem o laudo necroscópico do IML (Instituto Médico Legal) sobre a morte da menina. Só com o laudo os policiais vão poder comparar a descrição da lesão com os depoimentos e encaminhar eventuais dúvidas ao instituto.
Peritos dizem que o documento não será decisivo no esclarecimento do que aconteceu. Eles afirmam que essa causa de morte não é comum em pequenas quedas -em locais planos, por exemplo-, mas não é impossível de acontecer.
O documento vai descrever a lesão, segundo os peritos, mas não vai esclarecer as circunstâncias da queda -se a menina caiu de uma escada, por exemplo.
Além da lesão na coluna, não foram constatados outros ferimentos. Mas isso também teria uma explicação. Em tese, a menina poderia ter caído de barriga e torcido o pescoço durante a queda.
Mas, se o laudo não é decisivo sobre o que aconteceu, ele pode explicar o que não aconteceu. Segundo peritos, o laudo não identifica, inicialmente, sinais de derrame cerebral ou parada cardíaca. Também não é descrita nenhuma patologia congênita.
Exames complementares que estão sendo realizados pelo IML ainda podem esclarecer algumas dúvidas do caso. Os peritos retiraram amostras de tecidos de coração, pulmões e intestino.
Peritos minimizaram a possibilidade de a menina ter uma lesão na coluna antes da queda na escola, pois ela não resistiria à dor provocada por esse tipo de ferimento.


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