São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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AIDS

Para chefe de programa de combate à doença, empresa usou de expediente antiético para estimular demanda por remédio

Laboratório é acusado de má-fé pelo governo

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O laboratório Roche usou de expedientes que não são éticos para estimular as compras de um medicamento contra a Aids da empresa, afirmou ontem Pedro Chequer, responsável pelo programa brasileiro de combate à doença.
Chequer criticou o protocolo de pesquisa de um dos mais novos medicamentos da Roche, o Fuzeon, que segundo o programa custa US$ 17 mil (cerca de R$ 40 mil) por paciente por ano.
A droga injetável foi incorporada à distribuição gratuita da rede pública há cerca de um mês. O ministério espera atender inicialmente mil pessoas com multirresistência a outros medicamentos.
No termo de consentimento apresentado aos pacientes que entraram na pesquisa da droga, consta a informação de que o medicamento só seria fornecido gratuitamente pela Roche por até nove meses após o remédio ter sido aprovado no país.
O protocolo também deixa a critério do laboratório a interrupção do tratamento.
Na avaliação de Chequer, as cláusulas do termo são mecanismos para induzir a demanda pelo remédio. Independentemente da decisão do país sobre custo e benefício e a maneira de incorporação do remédio à distribuição gratuita, o governo terá de pagar para esses pacientes serem tratados. O programa não sabe ainda quantos estavam no estudo.
Em uma carta de 6 de junho, a Roche informa a médicos que acompanhavam a pesquisa que a droga já estaria disponível à rede pública desde maio e que não daria mais o remédio. A decisão de não garantir o tratamento contínuo contraria os princípios de ética em pesquisa com seres humanos, destacou ainda Chequer.
O coordenador irá questionar o Conselho Nacional de Saúde, que possui uma comissão de ética responsável por autorizar pesquisas com seres humanos.
O Ministério da Saúde já estava preocupado com ações agressivas da Roche na promoção do produto, como treinamentos e reuniões.
"Nesse sentido [das ações], diariamente somos questionados acerca do envio do produto", diz um texto do programa nacional que consta de estudo sobre as ações judiciais para a obtenção de medicamentos coordenado por Mário Scheffer, do Conselho Nacional de Saúde.


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