|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AIDS
Para chefe de programa de combate à doença, empresa usou de expediente antiético para estimular demanda por remédio
Laboratório é acusado de má-fé pelo governo
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O laboratório Roche usou de expedientes que não são éticos para
estimular as compras de um medicamento contra a Aids da empresa, afirmou ontem Pedro Chequer, responsável pelo programa
brasileiro de combate à doença.
Chequer criticou o protocolo de
pesquisa de um dos mais novos
medicamentos da Roche, o Fuzeon, que segundo o programa
custa US$ 17 mil (cerca de R$ 40
mil) por paciente por ano.
A droga injetável foi incorporada à distribuição gratuita da rede
pública há cerca de um mês. O
ministério espera atender inicialmente mil pessoas com multirresistência a outros medicamentos.
No termo de consentimento
apresentado aos pacientes que
entraram na pesquisa da droga,
consta a informação de que o medicamento só seria fornecido gratuitamente pela Roche por até nove meses após o remédio ter sido
aprovado no país.
O protocolo também deixa a
critério do laboratório a interrupção do tratamento.
Na avaliação de Chequer, as
cláusulas do termo são mecanismos para induzir a demanda pelo
remédio. Independentemente da
decisão do país sobre custo e benefício e a maneira de incorporação do remédio à distribuição
gratuita, o governo terá de pagar
para esses pacientes serem tratados. O programa não sabe ainda
quantos estavam no estudo.
Em uma carta de 6 de junho, a
Roche informa a médicos que
acompanhavam a pesquisa que a
droga já estaria disponível à rede
pública desde maio e que não daria mais o remédio. A decisão de
não garantir o tratamento contínuo contraria os princípios de ética em pesquisa com seres humanos, destacou ainda Chequer.
O coordenador irá questionar o
Conselho Nacional de Saúde, que
possui uma comissão de ética responsável por autorizar pesquisas
com seres humanos.
O Ministério da Saúde já estava
preocupado com ações agressivas
da Roche na promoção do produto, como treinamentos e reuniões.
"Nesse sentido [das ações], diariamente somos questionados
acerca do envio do produto", diz
um texto do programa nacional
que consta de estudo sobre as
ações judiciais para a obtenção de
medicamentos coordenado por
Mário Scheffer, do Conselho Nacional de Saúde.
Texto Anterior: Sexo inseguro: Cresce a ocorrência de clamídia em mulheres jovens Próximo Texto: Outro lado: Pesquisas são aprovadas por comitê, diz Roche Índice
|