São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEXO INSEGURO

Doença é uma das principais causas da infertilidade feminina e pode provocar partos prematuros

Cresce a ocorrência de clamídia em mulheres jovens

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A clamídia, doença sexualmente transmissível, está aumentando entre as mulheres jovens e deve figurar entre as principais causas de infertilidade feminina, segundo especialistas. Assintomática em 70% dos casos, ela pode causar obstrução tubária quando não-tratada. Nas gestantes, a infecção causa o rompimento da bolsa amniótica, provocando o parto prematuro.
Dados preliminares de uma pesquisa que está sendo realizada pelo Programa Nacional de DST/ Aids, do Ministério da Saúde, em seis capitais brasileiras, aponta que 9,3% das 2.948 gestantes pesquisadas tinham clamídia.
Na Europa, a incidência da doença, que também afeta homens, dobrou nos últimos dez anos. A principal razão é atribuída ao sexo inseguro. O assunto foi discutido em pelo menos duas conferências durante o congresso da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, que aconteceu em Copenhague (Dinamarca).
Segundo o médico Willian Ledger, professor da Universidade de Sheffield (Inglaterra), 60% dos casos de clamídia ocorrem antes dos 30 anos. "É um problema mundial. O jovem faz sexo sem proteção e não acredita que esteja correndo perigo."
No Brasil, não há um levantamento histórico sobre a doença porque apenas o HIV e a sífilis congênita são DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) de notificação compulsória.
A estimativa do Ministério da Saúde é que, no ano de 2002, o país tivesse 10 milhões de casos de DSTs - a clamídia respondia por 20% deles. Nos EUA, são notificados 3 milhões de novos casos de clamídia por ano.
Segundo Valdir Monteiro Pinto, responsável pela unidade de DST do Ministério da Saúde, o aumento dessas doenças entre os jovens também é uma preocupação do governo brasileiro. Ele afirma que, entre as estratégias de prevenção, está a educação sexual nas escolas. "O sexo seguro deve ser ensinado antes que eles iniciem a vida sexual."
Pinto diz que é muito comum os jovens começarem um relacionamento com uso da camisinha, mas abandonarem a prática logo em seguida por acreditarem se tratar de uma relação duradoura. "Aí a história termina, outra começa e o ciclo se repete. Ao fim de um ano, ele já trocou quatro vezes de parceira. É o que chamamos de monogamia seriada", afirma.

Infertilidade
Na opinião de Willian Ledger, os governantes deveriam atentar para os custos que esse aumento das DSTs entre os jovens representará aos sistemas de saúde. Hoje, elas estão entre as principais causas de infertilidade feminina, responsáveis por 30% dos casos de dificuldade de gravidez.
Segundo ele, até a década passada, o problema das DSTs estava mais concentrado em países como a Índia e a África -nesse último, por exemplo, 80% das mulheres em idade fértil têm algum tipo de DST, incluindo HIV.
Na avaliação do médico Dirceu Mendes Pereira, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, atrizes que se vangloriam de trocar de namorados a cada semana deveriam ser convidadas a participar de uma campanha que incentivasse os jovens a fazer sexo seguro. "Essas pessoas têm grande influência sobre o jovem."

Obesidade
Outro fator de infertilidade bastante discutido durante o congresso foi o aumento da obesidade entre mulheres jovens. Hoje, 26,6% das européias (até 19 anos) estão com sobrepeso, segundo pesquisa apresentada por Ledger.
A obesidade causa problemas metabólicos que levam à diabetes tipo 2, à falta de ovulação e, conseqüentemente, à infertilidade. Pesquisas também mostram que o tratamento de reprodução assistida em mulheres obesas tende a ser mais complicado. Há maior dificuldade de implantação do embrião no útero e mais chances de abortamento.


Texto Anterior: Urbanismo: Ministério Público pede anulação de decreto que muda nome do túnel Nove de Julho
Próximo Texto: Aids: Laboratório é acusado de má-fé pelo governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.