São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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FALSIFICAÇÃO
Alertada pelo fabricante, Vigilância havia interditado lote do remédio; 3 dias depois, ele foi vendido a hospital
Ação vendeu Androcur que sabia ser falso

RANIER BRAGON
em Belo Horizonte


A Ação Distribuidora de Medicamento vendeu 40 caixas do Androcur falso (lote 351) ao hospital Ibiapaba, de Barbacena (166 km de BH), três dias depois de ter sido informada que tratava-se de medicamento falso.
A Vigilância Sanitária já havia lacrado as 400 caixas do Androcur (lote 351) que tinha encontrado na Ação em 16 de fevereiro deste ano. A venda ao Ibiapaba aconteceu três dias depois da interdição.
A nota fiscal nš 058861 comprova a venda e está anexada ao inquérito presidido pela delegada-adjunta da Delegacia de Ordem Econômica da Polícia Civil de BH, Gisele Damásio Duarte.
A delegada suspeita que a distribuidora escondeu frascos do lote 351 da Vigilância Sanitária.
A vistoria na Ação foi feita em 16 de fevereiro, após denúncia da Schering do Brasil, fabricante do Androcur, de que o lote era falso.
Na ocasião, 370 caixas foram deixadas lacradas na empresa e 30 foram levadas para análise.
A Schering realizou testes no lote 351 do Androcur após reclamação de um consumidor do Rio de Janeiro no começo do ano.
Depois de constatar que se tratava de falsificação, informou às Vigilâncias Sanitárias de vários Estados. A de Minas Gerais, então, lacrou os lotes de Androcur que encontrou na Ação.
No início de abril, o hospital de Barbacena enviou ofício à Schering solicitando análises em amostras do lote 351, comprados junto à Ação em 19 de fevereiro.
A Agência Folha tentou entrar em contato com o diretor do hospital Ibiapaba ontem no final da tarde, mas funcionários informaram que nenhum diretor se encontrava no local após as 17h30.
A Ação foi interditada na última segunda pela Vigilância Sanitária e pela Polícia Federal por estar vendendo psicotrópicos (tranquilizantes) e entorpecentes sem autorização do Ministério da Saúde.
A empresa é responsável pela venda do Androcur falso a diversos hospitais públicos e privados do país.
A Agência Folha vem tentando contato com o dono da Ação, José Celso Machado de Castro, 36, há três dias, mas funcionários da empresa informam que ele está viajando com a mulher, dona da Dinâmica Distribuidora.
A Dinâmica também foi interditada na última segunda-feira por vender remédios contra a Aids pertencentes a lotes distribuídos gratuitamente pelo ministério.
Em entrevista à Folha na última quinta-feira, Castro disse que a Ação não tinha como verificar a autenticidade e a origem dos produtos que repassa para o mercado. Nesse caso, a Vigilância a alertou.
Castro disse ainda que sempre comprou de várias distribuidoras, porque o preço é melhor do que o dos laboratórios para quem compra em menor quantidade.

Recife

Consta também do inquérito da Delegacia de Ordem Econômica que a Ação vendeu em 7 de fevereiro à Multimport Ltda., em Recife (PE), 30 caixas do Androcur a um preço que é menos de 20% do que é cobrado pelo fabricante para venda a hospitais e distribuidoras.
Na nota fiscal nš 057431, consta que foi cobrado da Multimport R$ 8,40 pela caixa do Androcur com 20 comprimidos. O preço médio cobrado pela Schering é R$ 46. Não consta na nota fiscal qual é o número de lote do medicamento.
Na Multimport, foi informado ontem que somente a gerente comercial, Carla Albuquerque, que está viajando, é quem poderia falar sobre o assunto.



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