São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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CRÍTICA

Segundo Luiz Carlos Menezes, governo alimenta discurso equivocado sobre ensino básico
Físico defende universidade pública

do enviado especial a Natal

O físico da USP Luiz Carlos Menezes criticou o que chamou de descaso da universidade pública pelo ensino básico. "A função da universidade na formação e preparação dos professores do ensino básico tornou-se secundária", disse.
Para Menezes, essa grande distância alimenta "o discurso oficial equivocado de que a universidade está tirando recursos do ensino básico".
O maior problema, segundo Menezes, é a relação numérica desfavorável. As universidades existentes teriam dificuldades em criar meios para reciclar os cerca de 2 milhões de professores do país, além de contribuir para formar os novos.
A subutilização das vagas acontece com frequência. "Centenas de cursos de licenciatura só formavam um ou dois professores por ano."
Essa subutilização vem principalmente do fato de os salários de professor não serem compensadores. "Não é culpa da universidade, mas não é aceitável que ela se acomode", disse o físico da USP. Para ele, o pesquisador universitário tem de se dedicar também a ajudar o ensino básico. "Não como uma tarifa, para que ele possa fazer sua ciência, mas sim como uma tarefa."
José Leite Lopes, um dos mais renomados físicos do país, disse que o governo está empenhado em "destruir" as universidades públicas. Ele atua no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio, e trabalhou nos EUA com o prêmio Nobel Wolfgang Pauli.
"Como é possível que ex-professores de universidades públicas, como Fernando Henrique e Paulo Renato, estejam fazendo isso?", disse ele, sobre o presidente da República e o ministro da Educação. "Esse é o presidente dos banqueiros."
Para Leite Lopes, "o professor não pode melhorar se ganha pouco". "É claro que a universidade tem defeitos, mas ela é muito nova no Brasil. Só se criou a USP em 1934, em São Paulo. No século 12, já havia universidades em cidades como Paris e Bolonha. O que é que não tem defeito no Brasil?", declarou, ao ser questionado sobre a falta de avaliação dos professores universitários -algo que o governo gostaria de introduzir.
"O professor Leite Lopes está fora da realidade", disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. "Ele desconhece a política do governo para o ensino superior, principalmente no que diz respeito ao investimento para a graduação e ao investimento à pesquisa na pós-graduação", afirmou. (RBN)



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