São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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LIVROS
Consultores do ministério detectam incorreções em textos elaborados para o primeiro grau
Material didático de ciências tem erros de astronomia, diz o MEC

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Natal

Todos os livros didáticos de primeiro grau de ciências examinados pelos consultores do MEC (Ministério da Educação) têm pelo menos um erro de astronomia, segundo o astrônomo João Batista Garcia Canalle, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O livro chega aos seis consultores de astronomia sem capa, nome do autor e da editora ou qualquer outro elemento que possa identificá-los, disse Canalle ontem, na 50ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Natal (RN).
O livro pode ser reprovado -caso em que não entra nas listas do MEC- ou aprovado, com três graus possíveis. "Não se trata de censura", diz o astrônomo, que é também coordenador da comissão de ensino da Sociedade Astronômica Brasileira.

Exemplos perigosos
"Na área de ciências, um livro três estrelas é raridade", afirma Canalle. O MEC quer que os livros não contenham erros ou preconceitos e que não ponham em risco a vida do aluno com experimentos ou sugestões perigosas.
Um dos livros examinados sugere às crianças simular o movimento da Terra em torno do Sol, usando uma laranja espetada em um palito e uma vela no centro da sala. O risco de deixar uma criança pequena brincar com fogo não passou pela cabeça do autor.
Canalle deu o exemplo de um método fácil para explicar a proporção entre o Sol e os planetas, com o uso de materiais simples.
Uma bexiga inflada por um aspirador de pó até o diâmetro preestabelecido por um barbante representa o Sol. Nessas dimensões, Júpiter lembra uma laranja e a Terra, uma ervilha pequena.
Além dos erros, muitos livros forçam o aluno a memorizações em prejuízo da capacidade de raciocinar. "Os livros não têm sugestões de olhar para o céu. São de uma pobreza incrível."
Um dos livros mencionava o "tamanho do Universo". Além da idéia ser um absurdo, mesmo que fosse verdade, o número estaria errado. Canalle calculou que a luz levaria menos de dois dias para percorrer esse "Universo".
Nem tudo é desgraça. A avaliação continua, e algumas editoras já estão fazendo correções. "A qualidade está melhorando", conclui Canalle.



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