São Paulo, Quinta-feira, 16 de Setembro de 1999
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GUERRA DOS MENINOS
Segundo ele, complexo da Imigrantes fechará os portões quando número de internos chegar a 1.200
Diretor diz que vai limitar vagas na Febem

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

LUIZ CARLOS MURAUSKAS
repórter-fotográfico

O diretor da Febem Imigrantes, Lucimar da Silva Souza, disse ontem que vai parar de receber menores nas duas UAPs (Unidades de Acolhimento Provisório) do complexo, caso o número de atendidos volte a ultrapassar 1.200.
Antes da fuga de 644 internos, no último fim-de-semana, as quatro alas das UAPs do complexo, que conta também com unidades educacionais, abrigavam 1.430 adolescentes. A superlotação é apontada como o principal motivo para a rebelião e a fuga.
Ontem, o complexo da Imigrantes recebeu mais 40 menores vindos da Unidade de Atendimento Inicial (UAI), no Brás, e passou a contabilizar 1.149 adolescentes.
"Quando tiver 1.200 de novo, será inviável manter o atendimento. Isso aqui vai parar. Sugerimos, para evitar uma tragédia, que novos menores sejam mandados para unidades educacionais ou outros tipos de atendimento", disse Souza em entrevista exclusiva à Folha.
Pedagogo com pós-graduação em psicopedagogia, há um ano e oito meses à frente da Febem Imigrantes, Souza resolveu falar após as acusações de que os monitores torturam os adolescentes.
Apesar de fazer críticas ao sistema, Souza não autorizou a reportagem a entrar no complexo e fotografar as condições em que trabalham os monitores e vivem os menores, alegando não ter liberdade para isso.
"Já posso ser punido por essa entrevista, imagina se abrisse as portas. Mas preciso falar."
Souza nega que as agressões sejam o cotidiano do complexo. Para ele, as imagens obtidas por uma rede de TV, em que aparecem monitores agredindo menores dominados, mostraram "um excesso, gerado por descontrole emocional" (leia texto abaixo).
"Quem nos acusa de sermos violentos e malpreparados são os mesmos que acreditam na internação", disse Souza, lamentando o fato de as UAPs que administra serem o principal destino de menores infratores, primários ou reincidentes.
São Paulo, segundo o Ministério da Justiça, responde por 53% dos adolescentes infratores internados em todo o país.
"Temos aqui desde o menino que roubou uma laranja na feira ao ladrão de banco", disse.
Souza reclama que promotores exigem novas avaliações depois que a Febem diagnostica que menores podem voltar para casa.
"A gente diz que os meninos estão aptos a voltar à sociedade, mas eles pedem avaliações complementares, aumentando a decepção e a raiva dos garotos", disse.


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