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POLÍCIA SOB SUSPEITA
Um delegado, dois investigadores e um agente são acusados de envolvimento com o contrabandista Lobão
Decretada prisão de mais 4 policiais em SP
GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça de São Paulo decretou
ontem a prisão temporária, por
cinco dias, de quatro policiais civis -um delegado, dois investigadores e um agente- por suposta participação em uma rede
de crimes descoberta por acaso
quando se investigava os negócios
do homem considerado o maior
contrabandista de cigarros do
país, Roberto Eleutério da Silva,
conhecido como Lobão.
Eles são suspeitos dos crimes de
prevaricação, formação de quadrilha, estelionato e concussão
(extorsão cometida por funcionário público). As quatro prisões foram pedidas, segundo o Ministério Público Estadual, após análise
dos grampos telefônicos reunidos
em uma apuração da Procuradoria da República de Brasília e do
depoimento de uma testemunha.
"Ficamos perplexos e estarrecidos com o cenário e a gravidade
dos fatos", disse o promotor José
Carlos Blat, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado), que integra a
força-tarefa montada para apurar
o caso. A juíza-corregedora do Dipo (Departamento de Inquéritos
Policiais) da capital, Ivana David
Boriero, é a responsável pelo inquérito. A polícia será chamada
para cumprir ordens judiciais.
Entre as cerca de 40 mil conversas gravadas, durante nove meses,
segundo a Folha apurou, há diálogos que mostram um delegado
"encomendando" um roubo de
carga, pessoas "comprando" boletins de ocorrência de assalto para desviarem cargas, policiais negociando com traficantes drogas
apreendidas e dando orientações
sobre a remarcação de chassis de
veículos em desmanches. A rede
envolveria outros policiais não relacionados no pedido de prisão.
Os grampos chegaram até mesmo à cúpula da Polícia Civil. Entre
os monitorados está o delegado
Luiz Carlos dos Santos, o China,
assessor do delegado-geral da Polícia Civil do Estado, Marco Antonio Desgualdo. Santos nega ter
participado do esquema.
Ontem, agentes da força-tarefa
cumpriram mandados de busca e
apreensão de documentos em
duas delegacias da capital -33º
DP (Pirituba) e 10º DP (Penha)-,
em desmanches e escritórios que
serviriam como bases da suposta
rede policial criminosa.
O agente Jean Wagner Cabral e
o investigador José Norberto dos
Santos, do 10º DP, foram presos às
17h45 de ontem, após depor na
CPI da Pirataria da Câmara dos
Deputados. O Dipo também decretou a prisão temporária do delegado Nicola Romanini e do investigador Ivan Raimund Barbosa, que eram do 33º DP.
Cabral e Santos negaram à CPI
envolvimento no esquema de corrupção, mas confirmaram um
episódio, em fevereiro, em que
uma carga apreendida foi liberada por influência de Lobão. Cabral disse que recebera a ordem
do delegado Hectore Capalmo
Sobrinho, chefe do setor de investigações da Seccional Leste.
Dois dias depois, o agente informou que um motoboy entregou a
ele, na delegacia, um envelope
com seu nome, com US$ 3 mil.
Cabral disse ter devolvido o dinheiro ao próprio Lobão.
O delegado Capalmo Sobrinho
foi ouvido ontem pela CPI e negou ter dado a ordem a Cabral. Os
dois foram submetidos a acareação e mantiveram suas versões.
Os deputados não se convenceram com as explicações de Santos
e Cabral. Para o presidente da
CPI, deputado Luiz Antonio Medeiros (PL-SP), grampos mostram que Cabral tentou extorquir
dinheiro de Lobão, que teria se revoltado por já pagar propina para
policiais da região.
Na CPI, Cabral disse que tudo
ocorreu em um sábado no mês de
fevereiro passado. Apesar de ser
agente -cuja função principal é
de dirigir carros da polícia-, Cabral afirmou que resolvera verificar uma denúncia de um galpão
suspeito na Lapa.
Além de o bairro ficar fora da
área de seu distrito, ele usou carro
particular. No local, após apreender um caminhão, Cabral disse
que recebeu um telefone do delegado Capalmo Sobrinho afirmando que era para deixar o local.
Cabral disse que comunicou o
fato a Santos, que era chefe dos investigadores, e deixou o local. Na
segunda-feira, foi surpreendido
com um envelope com US$ 3 mil.
Cabral e Santos confirmam que o
caminhão foi liberado e Lobão ligou várias vezes para o 10º DP reclamando da operação.
Santos disse que Lobão também
afirmava, ao fazer ameaças por telefone, que iria reclamar ao "número 1", mas não dizia o nome.
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