São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

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Antidiabético previne doença, diz estudo

Pesquisa mostra que remédio já usado no tratamento da diabetes reduz as chances de desenvolver a enfermidade

Foram analisadas 5.629 pessoas, de 21 países, com índices glicêmicos acima do normal; para médicos, ideal é paciente mudar estilo de vida

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

Um remédio já usado para tratar diabetes também previne o surgimento da doença, segundo estudo canadense divulgado ontem em Copenhague (Dinamarca). O trabalho, patrocinado também por um dos laboratórios envolvidos na pesquisa, envolveu 5.269 pessoas de 21 países, inclusive o Brasil.
Foram selecionadas pessoas com idade média de 55 anos com índices glicêmicos acima do normal, mas sem diabetes (chamadas de pré-diabéticas).
Durante três anos, metade do grupo recebeu a substância rosiglitazona, e a outra metade, placebo. As que usaram a droga tiveram 60% menos chances de desenvolver diabetes em relação àquelas que receberam placebo. E 50% delas apresentaram redução dos níveis de glicose. O efeito colateral mais freqüente, em 5% dos pacientes, foi ganho de peso.
"Se podemos prevenir diabetes, podemos também prevenir doenças cardiovasculares e dos olhos [retinopatia diabética] e outros problemas provocados pela diabetes", disse à Folha o pesquisador Hertzel Gerstein, professor de endocrinologia da Universidade de McMaster (Canadá). O estudo já foi aprovado pelas revistas científicas "The Lancet" e "New England Journal of Medicine".
No Brasil, estima-se que 10% das pessoas tenham diabetes, e que outras 12% apresentem resistência à insulina. A droga estudada (fabricada pelo laboratório GlaxoSmithKline, um dos patrocinadores do estudo) pertence à classe das glitazonas e é vendida no Brasil há pelo menos cinco anos. Chamadas de sensibilizadores de insulina, sua função é diminuir a parede constituída pelo tecido gorduroso para facilitar sua passagem a fim de que a glicose seja metabolizada adequadamente.
Segundo Luiz Alberto Andreotti Tunatti, médico do Hospital das Clínicas (SP) e que participou do estudo, os resultados são os melhores já documentados. "Não sabemos se os efeitos benéficos [a diminuição dos níveis glicêmicos] vão continuar mesmo depois de a pessoa parar o remédio. Vamos continuar acompanhando." Ele afirma que, apesar de provocar ganho de peso, a droga foi capaz de "redistribuí-lo" de forma benéfica: houve diminuição da gordura abdominal (considerada a mais perigosa para o coração) e aumento da gordura periférica (nas coxas, por exemplo).
Tunatti lembra que outros estudos já mostraram que os antidiabéticos podem proteger as pessoas com resistência à insulina de desenvolver a diabetes. Sem tratamento ou mudança do estilo de vida, 50% dos resistentes a insulina podem virar diabéticos.
Para o médico Bernardo Wajchenberg, coordenador do centro de diabéticos do Incor, apesar dos benefícios apresentados pelos antidiabéticos, é preciso insistir para que os pacientes mudem o estilo de vida. "É mais fácil tomar remédio do que ir para a academia, mas temos de insistir."


A repórter CLÁUDIA COLLUCCI viajou a convite do laboratório Eli Lilli


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