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URBANIDADE
Procura-se uma escola
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
A advogada Soraya
Consul tem um problema
inusitado para uma mãe: seu filho, de dez anos, adora ir para a
escola.
Depois de vários meses de pesquisa, ele optou pela Play Pen,
uma escola bilíngue (inglês e
português) no bairro da Cidade
Jardim, de período integral, com
classes de 15 alunos. "A escolha
do colégio representa um projeto
de vida", diz Soraya, que se dispôs a pagar a mensalidade de R$
1.200 e, temendo sequestros, prefere, por causa disso, não ver publicado o nome do filho.
Soraya é o detalhe humano de
uma guerra em torno da lei do
zoneamento. A direção decidiu
reformar a escola. Recebida a
autorização da prefeitura para a
realização da obra, as instalações transferiram-se para um espaço provisório. Em janeiro, a
escola já estaria de volta ao prédio original.
O que ninguém imaginava era
que a escola viesse a tornar-se alvo de um tiroteio lançado pela
Sociedade Amigos da Cidade
Jardim, decidida a embargar a
obra -que, segundo a prefeitura, está dentro da lei- por considerá-la irregular. A entidade
de bairro alega que o poder público liberou a obra baseado em
informações erradas. A decisão
vai ficar nas mãos da Justiça.
A Sociedade Amigos da Cidade Jardim se queixa do barulho
da escola, alega que os vizinhos
não deram autorização para a
realização da obra, como indicaria a lei das zonas residenciais, e
afirma que o projeto não estaria
respeitando os recuos da construção. A prefeitura admite que,
se houver erro na aprovação do
processo, vai retroceder e proibir
a reforma.
Para a diretora da Play Pen,
Margarida Maria Machado, tudo começou porque um vizinho
capaz de influenciar outros moradores brigou com a escola. "A
maioria dos moradores nem sabe desse movimento, e somos o
único imóvel não-residencial regularizado da região", comenta.
Enquanto brigam na Justiça
para saber quem está certo, os
adultos não sabem o que fazer
com as crianças. A escola tem até
janeiro para ficar no edifício
provisório e seus diretores não
sabem para onde ir.
"Quem vai pagar os custos
emocionais do meu filho, que
tem quase todos os seus amigos
na escola? Ele não quer ir embora, já se mostra impaciente e
amargurado. Está até mesmo
descrente de que possa ir para
outra escola. Começo a ver nele
problemas no desempenho escolar", lamenta Soraya.
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