São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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URBANIDADE

Procura-se uma escola

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A advogada Soraya Consul tem um problema inusitado para uma mãe: seu filho, de dez anos, adora ir para a escola.
Depois de vários meses de pesquisa, ele optou pela Play Pen, uma escola bilíngue (inglês e português) no bairro da Cidade Jardim, de período integral, com classes de 15 alunos. "A escolha do colégio representa um projeto de vida", diz Soraya, que se dispôs a pagar a mensalidade de R$ 1.200 e, temendo sequestros, prefere, por causa disso, não ver publicado o nome do filho.
Soraya é o detalhe humano de uma guerra em torno da lei do zoneamento. A direção decidiu reformar a escola. Recebida a autorização da prefeitura para a realização da obra, as instalações transferiram-se para um espaço provisório. Em janeiro, a escola já estaria de volta ao prédio original.
O que ninguém imaginava era que a escola viesse a tornar-se alvo de um tiroteio lançado pela Sociedade Amigos da Cidade Jardim, decidida a embargar a obra -que, segundo a prefeitura, está dentro da lei- por considerá-la irregular. A entidade de bairro alega que o poder público liberou a obra baseado em informações erradas. A decisão vai ficar nas mãos da Justiça.
A Sociedade Amigos da Cidade Jardim se queixa do barulho da escola, alega que os vizinhos não deram autorização para a realização da obra, como indicaria a lei das zonas residenciais, e afirma que o projeto não estaria respeitando os recuos da construção. A prefeitura admite que, se houver erro na aprovação do processo, vai retroceder e proibir a reforma.
Para a diretora da Play Pen, Margarida Maria Machado, tudo começou porque um vizinho capaz de influenciar outros moradores brigou com a escola. "A maioria dos moradores nem sabe desse movimento, e somos o único imóvel não-residencial regularizado da região", comenta.
Enquanto brigam na Justiça para saber quem está certo, os adultos não sabem o que fazer com as crianças. A escola tem até janeiro para ficar no edifício provisório e seus diretores não sabem para onde ir.
"Quem vai pagar os custos emocionais do meu filho, que tem quase todos os seus amigos na escola? Ele não quer ir embora, já se mostra impaciente e amargurado. Está até mesmo descrente de que possa ir para outra escola. Começo a ver nele problemas no desempenho escolar", lamenta Soraya.


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