São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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CALOR

Volume é suficiente para abastecer uma cidade do porte de Guarulhos por mais de uma semana; situação preocupa Sabesp

Represa perde 930 milhões de litros em 24 h

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Pessoas na represa Guarapiranga, que está com baixo nível de água


MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de calor continua, a falta de chuvas e o alto consumo de água também. Resultado: em 24 horas, o nível da represa Guarapiranga, a mais importante da capital paulista -responsável pelo abastecimento de cerca de 4 milhões de pessoas na zona sul- caiu 0,5 ponto percentual, o equivalente a 930 milhões de litros.
O volume é suficiente para atender 7,7 milhões de pessoas em um dia ou abastecer uma cidade do porte de Guarulhos (segundo município do Estado em população) por mais de uma semana.
Como a redução da capacidade de reserva esperada numa situação normal de estiagem é de, no máximo, 0,3 ponto percentual por dia, pelo menos 372 milhões de litros (mais de um terço do consumo total) foram gastos em excesso. E é a progressão desse "desperdício" que preocupa a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Ainda há folga para suprir o crescimento da demanda, mas, se as chuvas não se intensificarem até o fim de novembro, a conjunção entre seca e calor pode levar a empresa a rever seu plano de não racionar água.
Até ontem, as precipitações nas áreas de mananciais das represas estavam bem abaixo da média para o mês de outubro. No sistema Guarapiranga, por exemplo, o acumulado era de 18 milímetros. Para atingir o padrão histórico, nos próximos 15 dias, deveria chover mais cem milímetros (cada milímetro equivale a um litro de água acumulado por metro quadrado de área plana).
Caso continue nesse ritmo de queda, a represa Guarapiranga atingirá um nível de reservação preocupante (por volta de 15% da capacidade total) em 24 dias.
A Sabesp afirma ter colocado seus agentes comunitários nas ruas, para tentar convencer a população a conviver de forma mais sustentável com o calor. Há ainda a possibilidade de retirar mais mil litros por segundo da represa Billings para ajudar a Guarapiranga, por meio do bombeamento de trecho do rio Taquacetuba.
No Vale do Paraíba, o volume útil de água nos reservatórios -Santa Branca, Paraibuna e Jaguari- atingiu, anteontem, o nível mais baixo dos últimos 70 anos. A informação é do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que controla e opera todas as represas do país.
Os reservatórios, além de atender aos 39 municípios do Vale do Paraíba e do litoral norte de São Paulo, abastecem a região metropolitana do Rio de Janeiro.
A ANA (Agência Nacional de Águas) e o Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) de Cachoeira Paulista não prevêem, porém, falta de água.
O diretor da ANA, Benedito Braga, disse que o nível dos reservatórios está baixo porque as operadoras do sistema estão dando uma vazão maior de água para o rio Paraíba do Sul. "Isso ocorre em razão da falta de chuvas. As manobras são necessárias para garantir o abastecimento. A meteorologia está desfavorável, as chuvas estão abaixo do normal."
Na região de Campinas, a falta de água levou a Sabesp a adotar o racionamento em Várzea Paulista (63 km de São Paulo). O esquema funcionará com abastecimento em dias alternados, e tem duração indeterminada.
Pelo menos 40% da população (37.120 pessoas) está desabastecida, diz o gerente regional da companhia, José Pedro de Sousa Filho. "Os córregos Guapeva e Moinho, que correspondem a 40% da água consumida na cidade, secaram." A população fez um protesto na frente da prefeitura, dizendo que há bairros em que falta água há uma semana.

Poluição
O calor também aumentou a poluição. Ontem, o sol forte contribuiu para a formação de ozônio (O3) em excesso, o que levou a Cetesb (agência ambiental estadual) a decretar estado de atenção nas cidades de Santo André, São Caetano, Diadema e Mauá, (Grande ABC) e em quatro pontos da capital (Santana, Ibirapuera, Mooca e Santo Amaro). Nesses locais, a qualidade do ar foi considerada ruim. Em outras quatro estações (três na capital e uma em Paulínia), a qualidade do ar foi considerada inadequada. Em uma semana, é a segunda vez que o O3 ultrapassa a concentração máxima aceitável na Grande São Paulo.
(Colaboraram as Regionais)


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