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DANUZA LEÃO
Pensamentos
É bom saber que existem
pessoas que perseguem seus
objetivos e lutam pelo que querem, sem desanimar nem perder
o fôlego. Mas tem uma hora em
que é preciso relaxar, deixar que a
vida corra mais frouxa e botar
nas mãos do destino -ou de
Deus- o rumo dos acontecimentos. Estou falando, especificamente, de José Dirceu.
É seu direito lutar para provar
sua possível inocência, que faça
tudo para não ser cassado. Mas
começa a ser irritante essa sua
obstinação em não perder seu
mandato. O ex-ministro não tem
o menor pudor em procurar pessoas com quem se relacionava nos
tempos em que era poderoso para
que abram as portas de suas casas
e convoquem os famosos que o
procuravam em seu gabinete para que haja um ambiente simpático em torno do seu nome e com
isso criar -quem sabe?- um clima favorável, que evite sua cassação.
José Dirceu devia saber que na
vida às vezes se ganha e às vezes
se perde; e que o mundo é vasto e
que existe vida fora da política,
fora de Brasília, fora do PT. Burro
ele não é, e se lhe acontecer o pior,
muitos outros rumos ele poderá
tomar, rumos novos, que talvez o
façam mais feliz.
Com tudo que já viveu, José Dirceu não aprendeu que não se pode constranger os amigos -ou
relações- a se solidarizar com
ele publicamente, como tem feito.
Solidariedade e apoio devem vir
espontaneamente, e essa insistência em querer dobrar seus colegas,
ir a todos os tribunais possíveis,
para não perder seu mandato está ficando cansativa, e, quando
ele entra na sala do cafezinho da
Câmara, sua presença provoca
um mal-estar.
Chega, José Dirceu; entregue os
pontos e deixe que as coisas aconteçam naturalmente, porque ninguém agüenta mais tanta obstinação, tanta teimosia em não
querer largar o osso. E, se for cassado, será apenas uma derrota, o
que faz parte da vida.
A vida inteira eu ouvi falar as
piores coisas de Paulo Maluf; como moro no Rio, nunca acompanhei de perto as negociatas do ex-prefeito, mas acredito que tudo
que se fala sobre ele, há décadas,
seja verdade. Além de ser antipático, prepotente e arrogante, os
169 milhões de dólares que ele
-ao que tudo indica- tirou do
nosso bolso e botou no dele, depositando em várias contas no exterior, dariam para fazer muita coisa neste país. E sou, é claro, a favor de que ele seja punido exemplarmente, como devem ser os criminosos.
Mas nessa semana todos os noticiários de televisão mostraram,
em detalhes, a rotina de Paulo
Maluf e seu filho. Os dois dividem,
com mais um preso, uma pequena cela; têm direito a três horas de
sol por dia, comem numa quentinha com talheres de plástico, têm
direito a ver televisão três ou quatro horas por dia, num corredor, e
para poderem tomar um rápido
banho de chuveiro têm que entrar
na fila, entre as 6h e as 8h da noite. Não estou dizendo que eles deveriam ser tratados de maneira
privilegiada: estou falando do
prazer que alguns estão tendo em
divulgar o que estão passando.
O sistema carcerário no Brasil é
desumano, todo mundo sabe;
mas quando o cotidiano atual
dos dois Maluf -que, sabe-se, viviam nababescamente- é divulgado com tal riqueza de detalhes,
isso não tem nada a ver com a punição pelos crimes que eles cometeram: é para massacrar, para
humilhar.
E não se deve humilhar nenhum homem, mesmo que ele seja Paulo Maluf.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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