São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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LUZES NA ESCURIDÃO

Conhecido por "abrigar fantasmas", antigo lar dos Almeida Nogueira, no Bexiga, começa a ser recuperado

Casarão "assombrado" vira escola de restauro

Fotos Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Fachada do casarão no Bexiga que será escola de restauro


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Acabou o sossego dos fantasmas que habitavam o antigo casarão italiano da rua Major Diogo, no Bexiga, centro de São Paulo.
Há anos esquecidos na escura masmorra do lar da família Almeida Nogueira, eles serão despejados por uma equipe de restauradores, arquitetos e historiadores que estão tirando a poeira de cada cômodo da casa e que, em um mês, irão inaugurar a Escola Paulista de Restauro.
Criada para formar eletricistas, marceneiros, encanadores e todo tipo de mão-de-obra especializada em restauro, a escola será a primeira da cidade a abastecer o mercado de profissionais para trabalhar com monumentos, museus e fachadas históricas.
Também vai oferecer cursos variados para universitários e para jovens do bairro interessados em educação patrimonial. As aulas serão gratuitas para os trabalhadores e jovens, mas quem está na faculdade terá que pagar.
Com o enfoque em projetos de restauro, o primeiro curso começará em 16 de novembro (leia texto nesta página) e será voltado aos universitários.
A primeira oficina para mão-de-obra ainda não tem data marcada, mas será destinada a eletricistas interessados em se especializar em iluminação de monumentos e aprender como trabalhar em edificações antigas.
"Não existe pessoal especializada na cidade para esses trabalhos. Queremos formar profissionais que saibam como funciona uma restauração", explica Luís Cézar Corazza, diretor do Museu a Céu Aberto, um das responsáveis pela Escola Paulista de Restauro. "Eles precisam saber onde quebrar uma parede e como fazer uma pintura, por exemplo."
Localizado no número 91 da Major Diogo, o casarão italiano foi cedido pelos Almeida Nogueira para o Museu a Céu Aberto (uma organização da sociedade civil de interesse público de conservação do patrimônio nacional) e para a Companhia de Restauro (uma empresa privada). Eles serão os responsáveis pela restauração e pela conservação da casa durante sete anos, prorrogáveis por mais sete.
O museu e a companhia também coordenarão os cursos, o café a a biblioteca que irão funcionar no local e estão em busca de patrocinadores.
"Queremos que seja um espaço de formação e de convivência", afirma Francisco Zorzete, dono da Companhia de Restauro. "E que a população possa trocar conhecimentos e discutir sobre a arquitetura da cidade em um local recuperado", diz.
A restauração da casa, que é um exemplar típico da arquitetura italiana do começo do século 20, só deve começar em 2006 e será feita pelos alunos.
"O primeiro grande trabalho da escola será justamente restaurar a residência", conta Zorzete. "Assim, os alunos vão aprender na prática", afirma.

Conservação
No casarão, tudo é original. As janelas com vidro fantasia coloridos até que estão bem conservadas. Já as paredes vão precisar de muitas horas de trabalho.
Debaixo da tinta verde que cobre os ambientes, onde não há papel de parede nem azulejo, murais que podem ser da década de 20 estão escondidos.
Para recuperá-los, os restauradores de pintura mural Sidney José Fischer e Kátia Regina Magri, que darão aulas na Escola Paulista de Restauro ainda neste ano, terão que ter muito cuidado.
"Vamos ensinar a técnica aos alunos, mas eles precisarão de muita paciência", diz Sidney.
De acordo com ele, em alguns cômodos as evidências dos murais são grandes, porém há locais onde estão escondidos.
"Tirar a tinta de uma parede é como tirar o pó de um objeto antigo. É um trabalho de arqueólogo", afirma.


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