São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Tataraneto de patriarca lembra da masmorra

DA REPORTAGEM LOCAL

O perfume das uvaias do quintal não desgrudam da memória de Luiz Carlos Sanson, 43, tataraneto de José Luiz de Almeida Nogueira -o responsável pela construção do casarão do Bexiga, no começo do século passado. O medo da masmorra, também não.
Instalado no porão da casa de 700 m2, o quarto escuro é cheio de pilares e portinhas, que ninguém ainda sabe direito onde vai dar nem para que eram usadas.
Luiz Carlos só tem certeza de que não gostava nem de passar em frente ao quartinho quando morou lá, de 1980 a 1991. Preferia ficar na varanda, no segundo andar, vendo o jardim e sentindo o cheiro das árvores. Ou na biblioteca do escritório de advocacia, que ficava no primeiro andar, onde há dezenas e dezenas de exemplares de uma coleção de livros escrita pelo tataravô em 1907, chamada "Tradições e Reminiscências", sobre a fundação da Faculdade São Francisco.
A família Almeida Nogueira era toda de advogados. Gostava de livros de viagens, de música e de fotografias. Perdidos pelos cantos do casarão, vários objetos estão sendo encontrados a cada visita dos arquitetos que vão ajudar a restaurá-lo. Na quarta-feira passada, quando a Folha foi conhecer o local, foram achados um guia de ruas da cidade de São Paulo de 1954, ano do 4º Centenário, e uma coleção do ""Linguaphone" -um curso de conversação de inglês em discos de 78 rotações.
A última representante a morar na residência foi uma tia de Luiz Carlos. Há quatro anos, ela precisou ir para um clínica e, desde então, o lugar ficou vazio.
"A gente não sabia direito o que fazer com o imóvel até que conheci o trabalho da Companhia de Restauro e começamos a conversar sobre o projeto", lembra.
O casarão encantou os restauradores porque conservou muitos elementos da rotina do começo do século 20, como as pias dentro dos quartos. Outro exemplo é o sistema de campainhas presente em cada cômodo -cuja central ficava na cozinha-, que servia para chamar os empregados e foi precursor do interfone.
Além de cultos e ricos, os Almeida Nogueira eram católicos. Bem na entrada principal da casa, uma placa de metal sobrevive aos estragos do tempo. "Meu Deus, chovam as suas bênçãos sobre esta casa e sob seu teto, reinem a harmonia, a concordância e o amor. Amém!", diz a gravação, de 4 de novembro de 1911, assinada pelo tataravô de Luiz Carlos.

Futuro do casarão
Daqui exato um mês, começa o curso "Metodologia de Projetos de Restauro" no casarão. Coordenado pela arquiteta Ana Marta Ditolvo, especialista em preservação do patrimônio histórico, ele será voltado a alunos de arquitetura ou de história que desejam se especializar em projetos.
A turma terá como missão concluir a pesquisa histórica da casa e preparar uma proposta para que cada ambiente seja recuperado. "É preciso avaliar a situação de todos os itens da casa, do chão ao teto, para sugerir soluções possíveis", diz Ditolvo.
O primeiro curso tem duração de duas semanas e 20 vagas. O preço ainda não está definido. Os interessados em se inscrever devem ligar para 0/xx/11/3326-2700.


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