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DESENHO ESSENCIAL
Cinco profissionais escolheram seus aparadores, bancos, poltronas, mesas, cadeiras e luminárias preferidos
Designer brasileiro escolhe peças nacionais
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
O design brasileiro está em alta.
Você certamente já ouviu esta frase nos últimos anos, quase sempre se referindo a profissionais
que alcançaram projeção no exterior. Para um país culturalmente
acostumado a preferir produtos
importados, nada como a aprovação internacional para pavimentar e dar legitimidade ao sucesso
interno.
Mas será mesmo verdade? A Folha pediu que cinco profissionais
de diferentes segmentos escolhessem suas peças de design preferidas, que tenham ou gostariam de
ter em casa.
Definidos seis objetos comuns
na maioria das casas -aparador,
banco, cadeira, luminária, mesa e
poltrona-, quesitos como origem, autores, estilo e época ficavam a critério de cada um.
A produção nacional liderou as
preferências. Das 28 peças indicadas, 19 são brasileiras. "Existe tanto design de qualidade em São
Paulo que posso me ater à produção local. Desde as décadas de
1940 e 1950, os arquitetos modernos desenharam mobiliário da
maior qualidade por aqui", justificou Fernanda Barbara, 38, do
Una Arquitetos, que só selecionou nacionais.
O mercado confirma. Em 1978,
quando a maior rede do gênero, a
Tok & Stok, abriu sua primeira
loja, o design brasileiro não chegava a 1% dos produtos vendidos.
Quase três décadas e 24 lojas depois, esse índice saltou para 50%.
"O brasileiro tem criatividade para se adequar às necessidades do
mercado produtor e às do consumidor. Muitas coisas não são tão
industriais, mas relativamente artesanais, é uma característica do
design brasileiro", afirma o francês Régis Dubrule, 56, presidente
da rede.
Na Etna, megaloja inaugurada
em agosto do ano passado e já
com uma filial, a proporção é 40%
internacional e 60% nacional. A
aposta é que, em três anos, o desenho "made in Brazil" ocupe 90%
do catálogo, prevê Mauricio Queiroz, 37, consultor de design.
Claro que esse cenário favorável
não foi forjado por uma súbita explosão do talento tupiniquim; na
verdade, ele reflete um fenômeno
mundial de popularização do termo, que começou no final dos
anos de 1980. "Design virou uma
palavra de consumo de massa,
com conseqüências tanto para o
bem como para o mal", afirma
Giorgio Giorgi, 52, professor de
design da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
O pontapé no cenário brasileiro
se deu nos anos 1990, graças às
conjunturas interna e externa, explica Issao Minami, 54, professor
de design e arquitetura da FAU-USP, que divide o processo em
três fases. A primeira foi a abertura econômica, que permitiu que
muitas referências internacionais
chegassem mais facilmente ao
país. "Antes disso, as opções eram
limitadas. Nossa referência principal era o design europeu", diz
Minami.
Na seqüência, veio a Eco 92, que
revelou e valorizou materiais tipicamente nacionais, minimizando
a referência estrangeira. "Isso
abriu a possibilidade de criar um
novo pensamento, um design alternativo, com possibilidades
econômica, social e ecológica."
A terceira fase, soma das anteriores, foi um "boom" de escolas
de design abertas de Norte a Sul
do país, desbancando São Paulo e
Rio de Janeiro como único eixo de
criação do país.
Num raciocínio otimista, a próxima fase é a produção brasileira
atingir a escala industrial. "É a
mais difícil, o calcanhar de Aquiles", diz Giorgi, da USP. "O mercado nacional aumentou um bocado, mas ainda é pífio. Quem
tem acesso são as classes média e
média alta."
Sem contar o que o professor
chama de "samba do crioulo doido". "Como a palavra tem um jogo de cintura gigantesco em inglês, tudo vira design, todos viram
designers. Precisamos começar a
separar um pouquinho, contextualizar, não dá para colocar tudo
no mesmo saco", critica Giorgi.
De qualquer forma, ele acredita
que o saldo da movimentação deve ser positivo. "A poeira tende a
assentar, a euforia vai passar e
surgirá espaço para um trabalho
mais consistente, mais profissional, com resultados econômico e
social mais fortes."
Enquanto o futuro não vem, o
resumo da discussão, traduzido
em formas, materiais e cores, está
estampado nas peças selecionadas nas próximas páginas.
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