São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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DESENHO ESSENCIAL

Cinco profissionais escolheram seus aparadores, bancos, poltronas, mesas, cadeiras e luminárias preferidos

Designer brasileiro escolhe peças nacionais

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

O design brasileiro está em alta. Você certamente já ouviu esta frase nos últimos anos, quase sempre se referindo a profissionais que alcançaram projeção no exterior. Para um país culturalmente acostumado a preferir produtos importados, nada como a aprovação internacional para pavimentar e dar legitimidade ao sucesso interno.
Mas será mesmo verdade? A Folha pediu que cinco profissionais de diferentes segmentos escolhessem suas peças de design preferidas, que tenham ou gostariam de ter em casa.
Definidos seis objetos comuns na maioria das casas -aparador, banco, cadeira, luminária, mesa e poltrona-, quesitos como origem, autores, estilo e época ficavam a critério de cada um.
A produção nacional liderou as preferências. Das 28 peças indicadas, 19 são brasileiras. "Existe tanto design de qualidade em São Paulo que posso me ater à produção local. Desde as décadas de 1940 e 1950, os arquitetos modernos desenharam mobiliário da maior qualidade por aqui", justificou Fernanda Barbara, 38, do Una Arquitetos, que só selecionou nacionais.
O mercado confirma. Em 1978, quando a maior rede do gênero, a Tok & Stok, abriu sua primeira loja, o design brasileiro não chegava a 1% dos produtos vendidos. Quase três décadas e 24 lojas depois, esse índice saltou para 50%. "O brasileiro tem criatividade para se adequar às necessidades do mercado produtor e às do consumidor. Muitas coisas não são tão industriais, mas relativamente artesanais, é uma característica do design brasileiro", afirma o francês Régis Dubrule, 56, presidente da rede.
Na Etna, megaloja inaugurada em agosto do ano passado e já com uma filial, a proporção é 40% internacional e 60% nacional. A aposta é que, em três anos, o desenho "made in Brazil" ocupe 90% do catálogo, prevê Mauricio Queiroz, 37, consultor de design.
Claro que esse cenário favorável não foi forjado por uma súbita explosão do talento tupiniquim; na verdade, ele reflete um fenômeno mundial de popularização do termo, que começou no final dos anos de 1980. "Design virou uma palavra de consumo de massa, com conseqüências tanto para o bem como para o mal", afirma Giorgio Giorgi, 52, professor de design da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
O pontapé no cenário brasileiro se deu nos anos 1990, graças às conjunturas interna e externa, explica Issao Minami, 54, professor de design e arquitetura da FAU-USP, que divide o processo em três fases. A primeira foi a abertura econômica, que permitiu que muitas referências internacionais chegassem mais facilmente ao país. "Antes disso, as opções eram limitadas. Nossa referência principal era o design europeu", diz Minami.
Na seqüência, veio a Eco 92, que revelou e valorizou materiais tipicamente nacionais, minimizando a referência estrangeira. "Isso abriu a possibilidade de criar um novo pensamento, um design alternativo, com possibilidades econômica, social e ecológica."
A terceira fase, soma das anteriores, foi um "boom" de escolas de design abertas de Norte a Sul do país, desbancando São Paulo e Rio de Janeiro como único eixo de criação do país.
Num raciocínio otimista, a próxima fase é a produção brasileira atingir a escala industrial. "É a mais difícil, o calcanhar de Aquiles", diz Giorgi, da USP. "O mercado nacional aumentou um bocado, mas ainda é pífio. Quem tem acesso são as classes média e média alta."
Sem contar o que o professor chama de "samba do crioulo doido". "Como a palavra tem um jogo de cintura gigantesco em inglês, tudo vira design, todos viram designers. Precisamos começar a separar um pouquinho, contextualizar, não dá para colocar tudo no mesmo saco", critica Giorgi.
De qualquer forma, ele acredita que o saldo da movimentação deve ser positivo. "A poeira tende a assentar, a euforia vai passar e surgirá espaço para um trabalho mais consistente, mais profissional, com resultados econômico e social mais fortes."
Enquanto o futuro não vem, o resumo da discussão, traduzido em formas, materiais e cores, está estampado nas peças selecionadas nas próximas páginas.


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