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SAÚDE/INFECTOLOGIA
Estudo conclui que plantas como camomila, hortelã e boldo afetam efeitos de remédios
Chás podem interferir no tratamento contra a Aids
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Plantas aparentemente inofensivas e amplamente utilizadas para fazer chás podem reduzir a eficácia ou potencializar os efeitos
colaterais dos medicamentos anti-retrovirais utilizados no tratamento de pacientes com Aids.
Os principais chás que demonstraram interagir quimicamente
com os medicamentos são os de
camomila, de hortelã, de boldo,
mate, de alho e de confrei.
Os resultados foram obtidos pela farmacêutica-clínica e professora da UnB (Universidade de
Brasília) Paloma Sales, que estudou a composição química de 53
tipos de plantas que os pacientes
em tratamento no hospital universitário disseram consumir
com alguma freqüência.
Desse total, 33 plantas demonstraram interação com os medicamentos do coquetel anti-retroviral. "Essas interações nos medicamentos podem alterar os efeitos
farmacológicos da terapia, com a
possibilidade de reduzir a sua eficácia, além de aumentar os efeitos
colaterais produzidos pelos medicamentos", afirmou Paloma.
Os chás de hortelã e camomila,
por exemplo, podem aumentar os
efeitos colaterais porque inibem
as enzimas hepáticas (citocromo
P450), que têm a função de metabolizar alguns medicamentos.
"Sem a metabolização adequada,
aumentam a concentração do remédio no organismo e também
os efeitos colaterais", diz.
O chá ou as cápsulas de alho,
popularmente utilizados como
remédio natural para combater o
colesterol, também têm efeitos
comprovados que interferem no
tratamento da Aids. "Já está comprovado que o alho induz a ação
das enzimas hepáticas e reduz os
efeitos do saquinavir, um inibidor
da enzima protease", explica a
farmacêutica.
Segundo Paloma, é necessário
alertar os pacientes sobre a questão da interação medicamentosa
porque, na maioria dos casos, os
chás são utilizados para "melhorar a terapia". "Mas nem sempre
as plantas são inofensivas. O aumento dos efeitos colaterais pode
resultar em uma redução na adesão ao tratamento", alerta.
De acordo com a infectologista
Eliane Souza Fonseca, do Centro
de Treinamento e Referência
DST/Aids de São Paulo, os resultados das interações medicamentosas ainda são recentes e, por isso, é necessário que os médicos
orientem os pacientes sobre os
efeitos das plantas no tratamento.
"Algumas medicações têm horários específicos para agir. Não
devemos proibir o consumo de
chás, mas sim afastar a ingestão
do chá no momento em que o paciente toma o anti-retroviral. Mas
isso só será possível com acompanhamento médico adequado",
afirma a infectologista.
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