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Supremo vira "via rápida" para presos em busca de seus direitos
Por meio de carta, detentos fazem pedidos de habeas corpus diretamente ao tribunal
FILIPE MOTTA
DE SÃO PAULO
Por meio de cartas, os presos brasileiros têm recorrido
diretamente ao STF (Supremo Tribunal Federal) para
reivindicar seus direitos jurídicos.
Boa parte dos detentos
busca o habeas corpus, pedido de liberdade para casos de
prisão supostamente ilegal
ou ação penal sem justa causa, por exemplo.
Neste ano, até setembro,
369 dos 2.132 pedidos de liberdade enviados ao Supremo foram redigidos pelos
próprios presos.
No ano passado, esse número foi ainda maior: 1.240
dos 4.709 pedidos.
As cartas chegam por meio
da Central do Cidadão do
STF, órgão criado em 2008.
O criminalista Mário de
Oliveira Filho, da seccional
São Paulo da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil),
explica que o habeas corpus
é a única medida jurídica que
pode ser requerida por qualquer pessoa.
CUSTO DO SELO
Apesar de alguns presos
contratarem advogado para
defendê-los, ele não é necessário. O pedido de habeas
corpus não precisa se ancorar em nenhuma técnica jurídica, basta ser bem fundamentado em suas justificativas, afirma o criminalista.
Em São Paulo, como não
existe tabela de preços para
serviços de direito criminal,
um advogado pode cobrar de
R$ 300 a centenas de milhares de reais por um habeas
corpus, dependendo da gravidade do caso.
Somada às dificuldades de
conseguir defensores públicos, a opção pela carta pode
sair bem mais barata: o custo
do selo.
"PERCEPÇÃO JURÍDICA"
Marcos Alegre, um dos
coordenadores da Central do
Cidadão, diz que, com a precariedade do sistema prisional, os presos acabam estudando direito como forma de
garantir seus direitos, o que
justifica os números.
"Alguns têm a percepção
jurídica melhor que muitos
bacharéis", afirma.
Mário de Oliveira Filho recorda que no período em que
trabalhou na Casa de Detenção de São Paulo -o Carandiru-, nos anos 1980, era comum presos antigos ajudarem advogados na elaboração de habeas corpus.
No entanto, para que os
pedidos sejam atendidos, é
preciso que eles sejam encaminhados às instâncias jurídicas de competência para
julgar cada caso.
Cerca de 90% dos pedidos
que chegam à Central do Cidadão não podem ser analisados pelo Supremo -os detentos deveriam ter encaminhado a solicitação aos Tribunais de Justiça dos Estados, por exemplo.
Marcos Alegre afirma que
os presos muitas vezes têm
ciência dessa hierarquia jurídica, mas acabam insistindo
em recorrer diretamente ao
STF devido à lentidão das outras instâncias judiciais.
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