São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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MANÍACO DO PARQUE
Pereira diz ter admitido a morte de Patrícia Marinho em inquérito policial por ter sofrido "pressões"
Motoboy é interrogado e nega 1 assassinato

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Os pais do motoboy, Maria Helena e Nelson Pereira, aguardam em plenário o início do interrogatório do filho


SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

O motoboy Francisco de Assis Pereira, 31, negou na manhã de ontem qualquer responsabilidade na morte da vendedora Patrícia Gonçalves Marinho, 24. Ele foi interrogado durante uma hora e meia pelo juiz José Ruy Borges Pereira, do 1º Tribunal do Júri, em processos onde é acusado por três assassinatos ocorridos no parque do Estado (zona sudeste de SP). Não foram permitidas imagens do motoboy, que permaneceu algemado durante toda a sessão.
O depoimento à Justiça contradiz o inquérito policial, no qual Pereira, o maníaco do parque, confessa o crime.
A vendedora desapareceu no dia 17 de abril, depois de sair do trabalho em uma loja na rua Direita (região central de SP). Seu corpo foi encontrado em 28 de julho.
De acordo com os documentos policiais, no entanto, Pereira admitiu o crime em 28 de agosto, dando detalhes da execução.
Ele teria dito à polícia que conheceu Patrícia em uma galeria da rua 24 de Maio (região central), de onde os dois seguiram de moto para um suposto acampamento no parque do Estado.
Na mata, segundo o inquérito policial, Pereira teria estuprado e matado a vendedora por asfixia usando os cadarços de suas botas.
Ontem, no entanto, Pereira disse ter confirmado a autoria do homicídio porque sofreu "pressões".
Em depoimento confuso e citando Deus a toda hora, o motoboy afirmou que a polícia o fez ler jornais e ver fotos de Patrícia para depois construir uma história sobre a vendedora. "Disse tudo isso com base no que li e na minha própria vida. A história é parecida com o que já fiz", declarou.
Em seguida, ele disse ter confundido Patrícia Gonçalves Marinho com uma mulher de nome Patrícia com quem namorou e que também levou ao parque. No entanto, depois de ter contado a história à polícia, o motoboy teria conseguido lembrar que a moça de quem falava saíra com vida da mata.
"Se eles tivesse me levado ao local eu teria lembrado de tudo", afirmou Pereira. "Eu não matei essa moça. Nunca a vi", disse ao examinar fotos anexas ao processo. "Muita gente entra lá (no parque do Estado). Há muitas trilhas. Falei isso porque sofri pressões."
Pereira disse ainda que foi submetido a reconhecimento com pessoas "perfumadas e bem vestidas", o que induziria as outras supostas nove vítimas de violência que sobreviveram aos ataques do maníaco a apontá-lo como culpado. "Duas delas, nunca vi."
Segundo o juiz Ruy Borges, as declarações do motoboy serão encaminhadas à Corregedoria da Polícia Civil. Nem a família do acusado, nem a advogada de defesa de Pereira deram detalhes das supostas "pressões" a que ele teria sido submetido durante o inquérito. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmou apenas que a apuração dos fatos agora cabe à Justiça.
O motoboy também depôs ontem sobre o assassinato da telefonista Rosa Alves Neta, 21, desaparecida em 24 de maio. Ele admitiu ter matado Rosa por estrangulamento e manteve as declarações que deu à polícia. Disse ainda ter sido "fácil demais" levar a telefonista do parque Ibirapuera (zona sudoeste) à mata do parque do Estado
No terceiro interrogatório, sobre uma vítima não identificada cujo cadáver foi encontrado ao lado do corpo de Rosa, o motoboy disse apenas não ter nenhuma lembrança do crime. "Não nego, mas não me recordo", afirmou. Pelos os documentos policiais, ele admitiu o assassinato.
Os crimes, segundo Pereira, geravam-lhe um sentimento confuso de satisfação e arrependimento.
O motoboy encerrou seu depoimento dizendo que se sente mais livre na prisão do que fora dela e que, se for solto sem ser tratado, acha que voltaraá a matar.
Pereira é formalmente acusado de nove homicídios. Para a polícia, ele confessou sete desses casos, negou um e foi evasivo nas declarações sobre o nono caso. Ele confessou, no entanto, ter matado também outras duas mulheres, mas elas não tiveram os corpos encontrados e, por isso, não há inquérito instaurado.
O juiz não muda
verdade
dez testemunhas
"Agora cabe ao Ministério Público apresentar as provas"
O juiz acredita que o processo que apura a morte de Selma Ferreira Queroz, 18, seja finalizado até novembro, com julgamento previsto para fevereiro se não houver recurso das partes. O motoboy já confessou o crime em juízo durante interrogatório anterior.


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