São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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Juiz deve aceitar parecer de peritos

da Reportagem Local

O juiz José Ruy Borges Pereira, do 1º Tribunal do Júri, disse ontem que deve aceitar o laudo psiquiátrico que classifica Francisco de Assis Pereira como semi-imputável. O laudo foi produzido pela segunda equipe de peritos convocada no processo e divulgado na última terça-feira.
No dia seguinte, o documento foi contestado pela advogada de defesa do motoboy, Maria Elisa Munhol. A defesa, reforçada ontem pelo advogado Lineu Evaldo Cardoso, 48, pede a anulação do resultado do laudo e a suspeição do perito Paulo Argarate Vazques. Vazques participou de algumas sessões feitas pela antiga equipe de peritos, destituída por ter permitido a entrada de uma médica contratada pela defesa.
"A tendência é que eu mantenha a equipe e aceite o laudo", disse o juiz, após o interrogatório. "O perito citado acompanhou alguns trabalhos do primeiro grupo como curioso e tenho certeza de que se trata de um profissional idôneo. Não podemos comparar esse caso ao que aconteceu anteriormente. Da primeira vez, a defesa introduziu uma médica na junta, não sei como."
Se o laudo for aceito, Pereira deverá ser levado a júri popular, podendo ser recolhido a uma prisão comum. Se fosse considerado inimputável (doente mental), tese defendida pela defesa, o motoboy seria isento de culpa e, sem julgamento, iria a um manicômio.
A advogada de Pereira afirmou ontem que o depoimento de seu cliente também a pegou de surpresa, o que reforça a tese de que se trata de um doente mental.
A opinião é a mesma dos pais do motoboy. Em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem em um café no Paraíso (zona sudoeste), o pescador Nelson Pereira, 51, e a dona de casa Maria Helena de Souza Pereira, 51, reclamaram de não terem sido ouvidos pela equipe de peritos. Segundo eles, o depoimento chegou a ser marcado e acabou cancelado.
"Se a primeira equipe foi afastada, o que ela fez também não pode valer", disse o pescador. "Eles tinham que nos ouvir de novo."
O juiz Ruy Pereira afirmou que cabe aos peritos decidir os depoimentos que eles desejam ou não ouvir para elaboração do laudo psiquiátrico, e que nada os obriga a considerar novas declarações dos pais do acusado.
O pescador e a dona de casa disseram ainda temer pela vida do filho se ele for condenado a cumprir pena em uma prisão comum.
"Ele não é normal. Bateu muito a cabeça, sofreu muito acidente e isso deixou sequela. Ele precisa de tratamento", disse Maria Helena. "Mandá-lo para a cadeia comum é a mesma coisa que decretar a pena de morte dele. Num lugar desses vão matar o Francisco."
Os pais afirmam não ter nenhuma dúvida de que o motoboy cometeu uma série de crimes, mas acreditam que se ele for tratado tem condições de voltar ao convívio social. Os dois assistiram ao depoimento de Pereira com uma platéia de cerca de cem pessoas. Ao final, disseram não saber se o filho é ou não culpado pela morte de Patrícia. (SC)


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