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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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ENTREVISTA

OMS lança cruzada mundial pelo consumo de fruta, verdura e legume

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A ausência de inofensivas alfaces e frutas coloridas na mesa das pessoas está provocando cerca de 2,7 milhões de mortes a cada ano. No total, as doenças crônicas não-transmissíveis -a maioria delas evitáveis ou adiáveis por um consumo maior de frutas, legumes e verduras- representam 59% das 56,6 milhões de mortes ocorridas no mundo anualmente.
Os cálculos são da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da Opas (Organização Panamericana da Saúde). Foram justamente esses cálculos que levaram a OMS, em conjunto com o Ministério da Saúde, a lançar nesta semana, no Rio de Janeiro, um Programa Global de Frutas e Vegetais, dentro do 3º Fórum Global para a Prevenção e Controle de Enfermidades Não-Transmissíveis.
Em anos anteriores, a OMS já havia lançado programas globais visando a redução do número de fumantes, estimulando campanhas que ofereciam prêmios a quem deixasse o cigarro. No Brasil, essa estratégia nunca foi adotada. Outro programa global incentivava as pessoas a fazerem exercícios físicos, seguindo o modelo "Agita São Paulo", que foi adotado como "Agita Mundo".
No Brasil, a partir da década de 60, as doenças cardiovasculares passaram a ser a principal causa de morte entre doenças não-transmissíveis, com 27% dos óbitos no ano passado. O câncer vem em segundo lugar e deve causar 127 mil mortes em 2003, segundo a Secretaria de Vigilância à Saúde.
A nova cruzada por frutas, legumes e verduras visa justamente reduzir esses números. "Há evidências científicas de que essas práticas alimentares previnem o câncer, o diabetes do tipo 2 e doenças cardiovasculares", diz a médica Lucimar Coser Cannon, assessora regional de doenças não-transmissíveis da Opas. Abaixo, trechos da entrevista que concedeu à Folha:
 

Folha - O que a OMS e a Opas sabem sobre o consumo de frutas, legumes e verduras nos países?
Lucimar Coser Cannon
- Não há estudos detalhados sobre cada região ou país, nem sobre suas práticas alimentares. Mas o que se sabe é que se come bem menos que o desejado. As dificuldades maiores estão nos países mais pobres e nas populações com menos informação. As piores comidas são as mais baratas, com mais gordura saturada e mais açúcar. São calóricas, mas não são nutrientes.

Folha - Se as pessoas não comem verduras, também não há quem as produza. Como quebrar esse ciclo?
Cannon
- A OMS/Opas está trabalhando em conjunto com a FAO, órgão das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação. Essa cooperação prevê o incentivo a esse tipo de agricultura, informação e treinamento de técnicos. Em muitos países, como na Argentina, há muitas hortas comunitárias dentro da Rede Panamericana Carmen (Conjunto de Ações para a Redução Multifatorial das Enfermidades Não-transmissíveis), que congrega organizações governamentais e não-governamentais, além de universidades. Partimos do princípio de que, se houver demanda, passará haver ofertas, e o acesso será facilitado. Mas cada país está sendo incentivado a criar sua própria estratégia. No Brasil, como em muitos países, há uma variedade de frutas, verduras e legumes muito grande, mas muitas não achadas em feiras e mercados. Basta adquirir o hábito de consumi-las .

Folha - Nessa cruzada pelos legumes, frutas e verduras, qual quantidade vocês estão sugerindo que se consuma?
Cannon
- Não recomendamos quantidades, só recomendamos que comam mais do que comem agora. Algumas instituições sugerem de cinco a dez porções de frutas, legumes e verduras por dia. Porção é uma fruta, uma maçã ou banana, por exemplo, ou uma xícara de verdura crua. Mas não recomendamos um regime exclusivamente "verde", ou vegetariano, nem sugerimos a substituição de carnes por verduras. O que a campanha sugere é "encha seu prato de cor, de frutas, legumes e verduras". A quantidade não importa. O fórum também recomenda exercícios leves, pois da mesma forma que os fatores de risco interagem, ampliando os riscos, atividades benéficas fazem o mesmo, ampliando os benefícios.


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