São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2000

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DE VOLTA

Menor infrator usou telefone da unidade para avisar o tio sobre falta de segurança do transporte da instituição

Batoré articulou fuga de dentro da Febem
Flávio Grieger/Folha Imagem
Dentro de carro de polícia, o adolescente Batoré, que retornou ontem para a Febem, esconde rosto com um cobertor



MELISSA DINIZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O menor F.P., 17, o Batoré, organizou seu próprio resgate durante o período em que esteve internado na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) de Franco da Rocha.
Em entrevista à Folha, Batoré confirmou a versão da polícia de que ligou de um telefone fixo da Febem para o tio Valmir da Silva Paulino, 28, para combinar a fuga, dizendo a data em que seria transportado, bem como o itinerário. Batoré foi resgatado no último dia 4, de dentro de uma perua da Febem, a caminho do Fórum da Infância e da Juventude, no centro.
Preso anteontem em Itatiba (90 km de São Paulo), Batoré foi encaminhado ontem novamente à Febem. Por medidas de segurança, não foi divulgada a unidade em que ele ficará internado. Ele é acusado de 15 homicídios e de ter participado de cerca de 50 sequestros relâmpagos. A operação envolveu 32 policiais.
Com o rosto machucado, Batoré negou ter sido agredido pela polícia. Dando respostas evasivas, ele negou participar da quadrilha e disse que queria deixar logo a delegacia. Também afirmou que não é bem tratado na Febem. "Minha mãe nem tem como me visitar. Acabaram com a vida dela."
Segundo o delegado que comandou as investigações, Pedro Pórrio, a partir do grampo de algumas linhas telefônicas foi possível chegar ao sítio onde estava o menor. Com ele, encontravam-se a mãe, Luzia de Souza, 42, os irmãos Fernando Paulino,18, e M.P.,14, os primos T.C.,14, e I.C.,15, e P.A.M.,17, namorada de Valmir.
No local, foram encontrados vários documentos falsos, alguns talões de cheque roubados, armas, dois carros (um roubado e outro alugado com cheque falso) e um celular em nome de Vilma Paulino, 21, irmã de Valmir.
Segundo o delegado da 5ª seccional da zona leste, Ivaney Caires de Souza, na última vez em que foi preso por porte de armas, Batoré repetiu, pelo menos três vezes, o trajeto entre a Febem e o fórum. Segundo ele, percebendo que o veículo fazia sempre o mesmo caminho, sem escolta e com dois monitores desarmados, Batoré articulou a fuga com o tio. Também participaram do resgate Renato Acácio e um membro do grupo conhecido como Japonês.
Para a polícia, a quadrilha de Batoré não tem um alvo específico. "Eles roubam cargas, carros, caixas eletrônicos e bancos. A articuladora de tudo é a Vilma", disse Souza. Vilma foi presa anteontem quando tentava conseguir informações na delegacia. "Ela não desconfiava que sabíamos de seu envolvimento."
O delegado informou que Acácio foi preso há uma semana por porte ilegal de arma. Pelo menos dois membros da quadrilha continuam foragidos: Valmir e o Japonês, ainda não identificado. Ontem, todos os menores foram liberados sob responsabilidade da mãe de Batoré, também solta.


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