São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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75 PMs são presos em ação contra o tráfico

Investigações da PF indicam que pelo menos 450 policiais militares estão envolvidos com traficantes em favela do Rio

Policiais são acusados de vender armas, drogas e munição e ainda ajudar os criminosos a combater quadrilhas rivais no tráfico

SERGIO TORRES
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal prendeu ontem 75 policiais militares acusados de participar de um esquema de extorsão, apoio e negociação com traficantes da favela do Muquiço (Guadalupe, zona norte do Rio). Os presos fazem parte de um grupo de ao menos 450 PMs envolvidos, de acordo com investigação da PF.
As prisões ocorreram nos quartéis ou na chegada ao trabalho. A ação resultou na maior prisão coletiva de PMs em todos os tempos no Rio, disse o próprio comandante da corporação, coronel Hudson de Aguiar. As investigações começaram em janeiro, quando a Superintendência da PF no Rio, por ordem de Brasília, passou a acompanhar a ação de mercenários angolanos na favela, a serviço da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
À tarde, em nova operação, a PF prendeu mais cinco PMs, sob a acusação de ligação com a máfia dos caça-níqueis. Um deles é o coronel Celso Nogueira, comandante do 14º Batalhão da PM, em Bangu (zona oeste).
Também acusado no caso dos caça-níqueis, o delegado Álvaro Lins, que chefiou a Polícia Civil até o início do ano, teve a prisão pedida pela PF, mas a Justiça não a autorizou. No caso do Muquiço, foram expedidos 76 mandados de prisão e de busca e apreensão nas casas, carros e armários funcionais dos policiais militares. Só um deles não tinha sido preso até a conclusão desta edição.
Os acusados representam uma parcela pequena dos policiais envolvidos com os traficantes do Muquiço, conforme indicam as investigações. A Folha apurou que em 11 meses foram descobertas 120 guarnições da PM vinculadas aos traficantes. Cada guarnição trabalha em uma Blazer oficial da corporação com, em média, quatro policiais.
Esses 76 PMs integram apenas 17 das guarnições sob suspeita. Os policiais das outras 103, como se tratavam por apelidos, ainda não foram identificados. Chegam a 450 apelidos, conforme a Folha apurou com um delegado da PF que integra o comando da operação. Dos acusados no caso da favela, 40 trabalham no 14º BPM. Todos foram presos. Um deles é tenente, único oficial descoberto até agora. Os demais são sargentos, cabos e soldados.
A PF e a PM informaram que os policiais acusados, entre outros crimes, vendiam armas e drogas para os traficantes da favela, seqüestravam inimigos, extorquiam dinheiro de criminosos, cometiam assassinatos e exigiam pagamentos semanais, como um pedágio para autorizar o funcionamento dos pontos-de-venda de drogas. Ao chegarem ao batalhão, de manhã cedo, os acusados receberam voz de prisão ainda na rua. Os que estavam fardados foram obrigados a tirar a camisa do lado de fora do quartel.
Ministro Ao comentar a operação, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, defendeu que as polícias "cortem na própria carne" e disse que afastar os policiais envolvidos com o crime é a solução para ter polícias dedicadas a combater o crime.
"É um trabalho que tem que ser feito em todas as polícias, o trabalho de cortar na própria carne", disse o ministro durante visita a Cruzeiro (221 km de São Paulo).


Colaborou FÁBIO AMATO , da Agência Folha, em Cruzeiro


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