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75 PMs são presos em ação contra o tráfico
Investigações da PF indicam que pelo menos 450 policiais militares estão envolvidos com traficantes em favela do Rio
Policiais são acusados de vender armas, drogas e munição e ainda ajudar os criminosos a combater quadrilhas rivais no tráfico
SERGIO TORRES
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia Federal prendeu
ontem 75 policiais militares
acusados de participar de um
esquema de extorsão, apoio e
negociação com traficantes da
favela do Muquiço (Guadalupe,
zona norte do Rio). Os presos
fazem parte de um grupo de ao
menos 450 PMs envolvidos, de
acordo com investigação da PF.
As prisões ocorreram nos quartéis ou na chegada ao trabalho.
A ação resultou na maior prisão coletiva de PMs em todos
os tempos no Rio, disse o próprio comandante da corporação, coronel Hudson de Aguiar.
As investigações começaram
em janeiro, quando a Superintendência da PF no Rio, por ordem de Brasília, passou a acompanhar a ação de mercenários
angolanos na favela, a serviço
da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
À tarde, em nova operação, a
PF prendeu mais cinco PMs,
sob a acusação de ligação com a
máfia dos caça-níqueis. Um deles é o coronel Celso Nogueira,
comandante do 14º Batalhão da
PM, em Bangu (zona oeste).
Também acusado no caso
dos caça-níqueis, o delegado
Álvaro Lins, que chefiou a Polícia Civil até o início do ano, teve
a prisão pedida pela PF, mas a
Justiça não a autorizou.
No caso do Muquiço, foram
expedidos 76 mandados de prisão e de busca e apreensão nas
casas, carros e armários funcionais dos policiais militares. Só
um deles não tinha sido preso
até a conclusão desta edição.
Os acusados representam
uma parcela pequena dos policiais envolvidos com os traficantes do Muquiço, conforme
indicam as investigações.
A Folha apurou que em 11
meses foram descobertas 120
guarnições da PM vinculadas
aos traficantes. Cada guarnição
trabalha em uma Blazer oficial
da corporação com, em média,
quatro policiais.
Esses 76 PMs integram apenas 17 das guarnições sob suspeita. Os policiais das outras
103, como se tratavam por apelidos, ainda não foram identificados. Chegam a 450 apelidos,
conforme a Folha apurou com
um delegado da PF que integra
o comando da operação.
Dos acusados no caso da favela, 40 trabalham no 14º BPM.
Todos foram presos. Um deles
é tenente, único oficial descoberto até agora. Os demais são
sargentos, cabos e soldados.
A PF e a PM informaram que
os policiais acusados, entre outros crimes, vendiam armas e
drogas para os traficantes da
favela, seqüestravam inimigos,
extorquiam dinheiro de criminosos, cometiam assassinatos e
exigiam pagamentos semanais,
como um pedágio para autorizar o funcionamento dos pontos-de-venda de drogas.
Ao chegarem ao batalhão, de
manhã cedo, os acusados receberam voz de prisão ainda na
rua. Os que estavam fardados
foram obrigados a tirar a camisa do lado de fora do quartel.
Ministro
Ao comentar a operação, o
ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, defendeu que
as polícias "cortem na própria
carne" e disse que afastar os
policiais envolvidos com o crime é a solução para ter polícias
dedicadas a combater o crime.
"É um trabalho que tem que
ser feito em todas as polícias, o
trabalho de cortar na própria
carne", disse o ministro durante visita a Cruzeiro (221 km de
São Paulo).
Colaborou FÁBIO AMATO , da Agência Folha, em
Cruzeiro
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