São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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Polícia diz que refugiados de Angola agiam no Rio

Ex-guerrilheiros angolanos atuariam no Muquiço a serviço da facção ADA

De acordo com as investigações, a tarefa dos estrangeiros era treinar os traficantes em técnicas de combate e emboscada

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Pela primeira vez, autoridades policiais anunciaram oficialmente a existência na região metropolitana do Rio de ex-guerrilheiros angolanos contratados por facções do crime organizado para combater grupos inimigos.
A ação dos angolanos era até ontem creditada a uma espécie de lenda urbana carioca. Muito se falou sobre eles, mas não havia nada de oficial a respeito do assunto.
Ontem, o superintendente da Polícia Federal, Delci Carlos Teixeira, e o comandante da Polícia Militar, coronel Hudson de Aguiar, anunciaram publicamente que os angolanos agiram na favela do Muquiço (Guadalupe, zona norte). As investigações da superintendência começaram em janeiro e tratavam exclusivamente da ação nas favelas de refugiados de Angola com experiência em guerrilha na África.
A ordem para o início da investigação partiu do delegado Getúlio Bezerra, chefe da Divisão de Combate ao Crime Organizado do DPF (Departamento de Polícia Federal). A notícia do vínculo dos guerrilheiros com traficantes já chegara às autoridades policiais em Brasília. Segundo as investigações, os angolanos estão radicados na Vila dos Pinheiros, favela no complexo da Maré (zona norte) controlada pela facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).

Técnicas
Pagos pela facção, os angolanos -cerca de 15- tinham a incumbência de adestrar traficantes no manejo e manutenção de armas, em técnicas de combate, de emboscada e de disfarce. No caso do Muquiço, segundo a polícia, os refugiados foram além. Enfrentaram, com os criminosos da ADA, liderados pelo traficante Starlin, a quadrilha do TCP (Terceiro Comando Puro), que invadira a favela em meados de 2005.
A Folha apurou com um dos delegados encarregados da investigação que os angolanos participaram de confrontos com os traficantes até janeiro. Acabaram expulsos pelos policiais militares que auxiliaram o TCP, chefiado à época pelo traficante Coronel. Um dos angolanos foi morto a tiros.

Guerrilheiros
A ação deles no Muquiço ocorria entre as 17h e o amanhecer. Com ajuda dos ex-guerrilheiros, a ADA chegou a conseguir recuperar o trecho dos conjuntos habitacionais da favela. O TCP manteve o setor dos barracos. A guerra na favela era entre quadrilhas da Vila do Pinheiro e da favela de Acari (zona norte). O Muquiço era uma extensão da venda de drogas da Vila do Pinheiro. Controlada pelo TCP, a quadrilha de Acari invadiu a favela e assumiu as "bocas". Ao tentar recuperá-la, a ADA recorreu aos angolanos. A Folha tentou ontem ouvir o Consulado de Angola no Rio. Os dois telefones disponibilizados na lista não respondiam aos chamados.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO , da SUCURSAL DO RIO


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