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Polícia diz que refugiados de Angola agiam no Rio
Ex-guerrilheiros angolanos atuariam no Muquiço a serviço da facção ADA
De acordo com as investigações, a tarefa dos estrangeiros era treinar os traficantes em técnicas de combate e emboscada
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Pela primeira vez, autoridades policiais anunciaram oficialmente a existência na região metropolitana do Rio de
ex-guerrilheiros angolanos
contratados por facções do crime organizado para combater
grupos inimigos.
A ação dos angolanos era até
ontem creditada a uma espécie
de lenda urbana carioca. Muito
se falou sobre eles, mas não havia nada de oficial a respeito do
assunto.
Ontem, o superintendente
da Polícia Federal, Delci Carlos
Teixeira, e o comandante da
Polícia Militar, coronel Hudson de Aguiar, anunciaram publicamente que os angolanos
agiram na favela do Muquiço
(Guadalupe, zona norte). As investigações da superintendência começaram em janeiro e
tratavam exclusivamente da
ação nas favelas de refugiados
de Angola com experiência em
guerrilha na África.
A ordem para o início da investigação partiu do delegado
Getúlio Bezerra, chefe da Divisão de Combate ao Crime Organizado do DPF (Departamento
de Polícia Federal). A notícia do
vínculo dos guerrilheiros com
traficantes já chegara às autoridades policiais em Brasília.
Segundo as investigações, os
angolanos estão radicados na
Vila dos Pinheiros, favela no
complexo da Maré (zona norte)
controlada pela facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
Técnicas
Pagos pela facção, os angolanos -cerca de 15- tinham a incumbência de adestrar traficantes no manejo e manutenção de armas, em técnicas de
combate, de emboscada e de
disfarce.
No caso do Muquiço, segundo a polícia, os refugiados foram além. Enfrentaram, com
os criminosos da ADA, liderados pelo traficante Starlin, a
quadrilha do TCP (Terceiro
Comando Puro), que invadira a
favela em meados de 2005.
A Folha apurou com um dos
delegados encarregados da investigação que os angolanos
participaram de confrontos
com os traficantes até janeiro.
Acabaram expulsos pelos policiais militares que auxiliaram o
TCP, chefiado à época pelo traficante Coronel. Um dos angolanos foi morto a tiros.
Guerrilheiros
A ação deles no Muquiço
ocorria entre as 17h e o amanhecer. Com ajuda dos ex-guerrilheiros, a ADA chegou a
conseguir recuperar o trecho
dos conjuntos habitacionais da
favela. O TCP manteve o setor
dos barracos.
A guerra na favela era entre
quadrilhas da Vila do Pinheiro
e da favela de Acari (zona norte). O Muquiço era uma extensão da venda de drogas da Vila
do Pinheiro. Controlada pelo
TCP, a quadrilha de Acari invadiu a favela e assumiu as "bocas". Ao tentar recuperá-la, a
ADA recorreu aos angolanos.
A Folha tentou ontem ouvir
o Consulado de Angola no Rio.
Os dois telefones disponibilizados na lista não respondiam
aos chamados.
Colaborou TALITA FIGUEIREDO , da SUCURSAL
DO RIO
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