São Paulo, Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2000


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Trabalho é motivo de abandono da escola

da Reportagem Local

A necessidade de trabalhar, as dificuldades financeiras e a falta de interesse pela escola são os principais motivos que levam um jovem a interromper os estudos. É o que mostra o estudo da Fundação Seade.
Na faixa etária de 18 a 24 anos, quase metade (47,1%) dos jovens fora da escola disseram que interromperam os estudos devido ao trabalho ou por falta de dinheiro para se manter na escola. Em segundo lugar, vem a falta de interesse, motivo alegado por 27,5% do universo pesquisado.
A falta de interesse, muitas vezes, resulta da dissociação entre o que é ensinado e os interesses do jovem. "A professora falava as matérias, mas os alunos não entendiam. Ficou chato. Acabei saindo", diz Élton Santana, 18, ao relatar uma de suas tentativas de retomar os estudos em uma turma de supletivo noturno.
Há três anos, ele interrompeu os estudos, quando estava na 6ª série. Nesse período fez algumas tentativas frustradas de voltar para a escola. Paralelamente, Élton passou a ser um dos jovens atendidos pelo projeto de educação pela comunicação "Novo Olhar", de São Paulo.
Ele fez alguns cursos de audiovisual mantidos pelo programa e profissionalizou-se. Hoje, trabalha como cameraman em uma produtora de programas de TV em São Paulo, fazendo programas educativos para a TV a cabo.
A experiência profissional está levando o rapaz a retomar os estudos. Ele está fazendo um curso supletivo de 1º grau à distância e pretende ir além. "É um trabalho que exige conhecimento. Isso me aproximou da escola. Nesse ramo é preciso ter um conhecimento grande", afirma.
A necessidade de se sustentar levou Marisa Martins Nogueira, 20, a parar de estudar. "Comecei a procurar emprego para conseguir dinheiro para continuar os estudos, mas não consigo nada. Aí, não consigo voltar", diz.
Na expectativa de entrar no mercado de trabalho, fez cursos de auxiliar de escritório, operadora de telemarketing e office girl, mantidos pelo projeto "Vida", que promove cursos para capacitação de jovens na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
A escola, em sua avaliação, pouco colaborou para facilitar seu ingresso no mercado de trabalho. "Sinto que o que aprendi não me ajuda a enfrentar o mundo."
O caso de Marisa é semelhante aos de muitos jovens que interromperam os estudos, mas estão sem trabalho. A pesquisa da Seade mostra que entre 45% e 50% dos jovens entre 15 e 24 anos fora da escola estão sem trabalho.
A maior proporção de desocupados está, justamente, entre os de menor escolaridade-no grupo que estudou até três anos, aproximadamente 50% estão sem trabalho contra cerca de 45% entre os que têm 11 anos de escolaridade (veja quadro à pág. 4-1).
A renda familiar per capita dos jovens desocupados acompanha esse perfil. É R$ 200 no primeiro caso (três anos de escolaridade) contra cerca de R$ 455, no segundo (11 anos). (MAv)


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