|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Consórcio ignorou recomendação para ter plano de retirada dos moradores
AFRA BALAZINA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Consórcio Via Amarela ignorou uma recomendação de
estudo contratado pelo Metrô
que indicava a necessidade de
montar um plano para alertar
moradores, empresas e concessionárias de serviços públicos
quando houvesse riscos de acidentes nas obras.
A recomendação faz parte do
RAP (Relatório Ambiental Preliminar) realizado pelo Metrô
para a obtenção da licença para
as obras da linha 4-amarela.
Durante a obra, segundo o relatório, é preciso, se necessário,
elaborar um "plano de comunicação social para informar sobre eventuais riscos e/ou danos
que possam afetar as edificações lindeiras". O documento
diz especificamente que essas
providências deveriam ser tomadas quando há recalques
(afundamentos), como ocorreu
na obra da estação Pinheiros na
véspera do acidente.
Um plano para isolar e esvaziar as áreas afetadas por obras
do metrô, afirma o coordenador-geral da Defesa Civil na cidade de São Paulo, coronel Jair
Paca de Lima, poderia retirar
rapidamente moradores e interditar ruas próximas às obras.
Moradores ouvidos pela Folha disseram que foram pegos
de surpresa pelo acidente e que
desconheciam os riscos de haver desabamento.
"Foi uma lição, é algo em que
deveremos pensar", disse o coronel. Quando existe o chamado plano de contingência, as
empresas ou órgãos públicos
preparam as pessoas para evacuar o local, como ocorre em
países em que há terremotos.
Ao contrário do que ocorre
com as obras, as estações do
metrô contam com um plano
de retirada de passageiros.
No dia do deslizamento, os
operários que trabalhavam na
obra, ao perceberem que a terra
se deslocava, saíram às pressas.
Segundo o depoimento de
um funcionário à Folha, após o
grupo deixar o buraco, passaram-se pelo menos 20 minutos
antes do deslizamento.
Porém, apesar do risco iminente, os moradores da região
não foram avisados nem houve
interdição do trânsito perto da
obra. Isso poderia ter evitado,
por exemplo, que o microônibus soterrado estivesse naquele local na hora do acidente.
O morador Jorge Luiz Bordaz, 36, que estava em uma das
casas mais próximas do desabamento, disse que só deixou a
residência após ter ouvido um
estrondo. Bordaz, cuja casa entrou na lista das que serão demolidas, conta que o único avisado dado aos vizinhos foi em
relação às detonações.
"Nunca ninguém passou
aqui para nos orientar sobre
riscos de deslizamentos", disse.
O corretor de imóveis Antonio Manuel Dias Pereira, 53,
confirma a versão de Bordaz.
"Minha mulher saiu de casa
quando sentiu a terra tremer e
nem sabia o que estava acontecendo. Nunca soubemos que
havia risco", declarou.
Procurado para se manifestar sobre a necessidade de um
plano de contingência, o Metrô
não se manifestou .
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Para famílias, não há mais esperança Índice
|