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Para famílias, não há mais esperança
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A esperança acabou. Ontem, pela primeira vez, as famílias das vítimas que foram
soterradas admitiram ter
certeza de que seus parentes
estão mortos.
"A gente não acredita mais
que possa ter alguém vivo lá",
dizia Nélson Alambert, primo de Marcio Rodrigues
Alambert, 31, que seria um
dos passageiros da van soterrada. "Agora, queremos ter
direito a encontrá-lo."
É o mesmo desejo que tem
Priscila Moura Leite, 20, filha do motorista da van, Reinaldo Aparecido Leite, 40.
"Só queremos o corpo. Não
temos esperança de vida."
Thaís Ferreira Gomes, 20,
mulher do cobrador da van,
Wescley Adriano da Silva, 22,
também não acredita mais
que o marido esteja vivo.
"Estou mal por saber que ele
está morto. Já pode-se dizer
que está morto mesmo porque faz muito tempo e a terra
é muito pesada."
Grávida de oito meses, ela
diz que vai contar ao filho
que o pai morreu trabalhando. "Ele vai saber que o pai
morreu com dignidade."
Thaís quer ver a saída do corpo do marido e só deixará a
cratera após o resgate.
Dos sete desaparecidos,
cinco continuavam soterrados e seus familiares permaneciam na beira da cratera.
"Quero ver o corpo do meu
pai pela última vez. Quero
me despedir e enterrá-lo",
disse por telefone à Folha
Kelly Torres, 19, filha do motorista Francisco Sabino
Torres, 40, que trabalhava
na obra do metrô.
Kelly passou o dia acompanhando os trabalhos. "Tenho medo que joguem um
monte de concreto em cima
dele", disse.
Nélson tem certeza de que
os trabalhos só foram retomados por causa da persistência das famílias. "Se a
gente volta para casa, eles diminuem o ritmo." No começo da madrugada de ontem,
por volta das 2h, os familiares se desesperaram ao saber, pelos jornalistas, que os
trabalhos seriam suspensos.
A decisão foi do consócio,
que alegou falta de segurança. Às 11h de ontem, porém, o
trabalho foi retomado.
Hoje, às 10h, a Arquidiocese de São Paulo vai realizar
um protesto no local do acidente. O ato terá a presença
do bispo auxiliar da capital,
d. Pedro Luiz Stringhinni.
Depois, religiosos oferecerão
auxílio espiritual às famílias.
Colaboraram FABIANE LEITE , FÁBIO TAKAHASHI e LEANDRO BEGUOCI , da Reportagem Local
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