São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Para famílias, não há mais esperança

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A esperança acabou. Ontem, pela primeira vez, as famílias das vítimas que foram soterradas admitiram ter certeza de que seus parentes estão mortos. "A gente não acredita mais que possa ter alguém vivo lá", dizia Nélson Alambert, primo de Marcio Rodrigues Alambert, 31, que seria um dos passageiros da van soterrada. "Agora, queremos ter direito a encontrá-lo." É o mesmo desejo que tem Priscila Moura Leite, 20, filha do motorista da van, Reinaldo Aparecido Leite, 40.
"Só queremos o corpo. Não temos esperança de vida." Thaís Ferreira Gomes, 20, mulher do cobrador da van, Wescley Adriano da Silva, 22, também não acredita mais que o marido esteja vivo. "Estou mal por saber que ele está morto. Já pode-se dizer que está morto mesmo porque faz muito tempo e a terra é muito pesada."
Grávida de oito meses, ela diz que vai contar ao filho que o pai morreu trabalhando. "Ele vai saber que o pai morreu com dignidade." Thaís quer ver a saída do corpo do marido e só deixará a cratera após o resgate. Dos sete desaparecidos, cinco continuavam soterrados e seus familiares permaneciam na beira da cratera. "Quero ver o corpo do meu pai pela última vez. Quero me despedir e enterrá-lo", disse por telefone à Folha Kelly Torres, 19, filha do motorista Francisco Sabino Torres, 40, que trabalhava na obra do metrô.
Kelly passou o dia acompanhando os trabalhos. "Tenho medo que joguem um monte de concreto em cima dele", disse. Nélson tem certeza de que os trabalhos só foram retomados por causa da persistência das famílias. "Se a gente volta para casa, eles diminuem o ritmo." No começo da madrugada de ontem, por volta das 2h, os familiares se desesperaram ao saber, pelos jornalistas, que os trabalhos seriam suspensos.
A decisão foi do consócio, que alegou falta de segurança. Às 11h de ontem, porém, o trabalho foi retomado. Hoje, às 10h, a Arquidiocese de São Paulo vai realizar um protesto no local do acidente. O ato terá a presença do bispo auxiliar da capital, d. Pedro Luiz Stringhinni. Depois, religiosos oferecerão auxílio espiritual às famílias.


Colaboraram FABIANE LEITE , FÁBIO TAKAHASHI e LEANDRO BEGUOCI , da Reportagem Local


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