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Destruição do cerrado favorece a doença, dizem especialistas
Estudiosos apontam um desequilíbrio ecológico em Goiás provocado pela expansão das cidades e da fronteira agrícola
Para ministra Marina Silva, desmatamento, alterações do ecossistema e aumento das cidades causam migração de animais para áreas urbanas
TALITA BEDINELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A degradação do cerrado no
Centro-Oeste é uma das principais causas do aumento de casos de febre amarela em macacos, segundo especialistas em
ambiente. Isso, somado a falhas
no combate ao mosquito transmissor da doença, pode ter levado a um aumento do número
de casos em relação a anos anteriores, dizem.
Para o presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, Marcelo Daher, a Usina Hidrelétrica Corumbá 4, em Luziânia
-que entrou em operação em
janeiro de 2006-, ajudou a
provocar um desequilíbrio ecológico, que pode ter relação
com os casos atuais em Goiás.
"Os macacos e animais vão
para áreas mais próximas de
centros urbanos, neste caso,
provavelmente para Brasília e
Anápolis, que ficam perto da
região alagada [pela represa]."
Na opinião dele, há também
relação entre a construção, em
1998, da Usina Hidrelétrica
Serra da Mesa, em Minaçu, e o
alto número de casos em 2000.
Na ocasião, houve 24 mortes
perto de Alto Paraíso do Goiás,
que fica próximo da represa.
A Corumbá Concessões S.A,
dona da Corumbá 4, afirma que
se houvesse relação, as mortes
teriam acontecido antes, logo
após a construção. A reportagem procurou às 17h Furnas,
que administra Serra da Mesa,
mas não havia mais um técnico
para comentar o assunto.
Biólogos dizem que não é
possível afirmar que há relação
direta entre as usinas e o aumento de casos. Mas afirmam
que o desequilíbrio ecológico
pode colaborar para o aparecimento dos casos.
Esse desequilíbrio, na opinião do professor de engenharia florestal Reuber Brandão,
da UnB (Universidade de Brasília), pode ser ocasionado também pela expansão das cidades
e da fronteira agrícola.
"O cerrado é uma região de
expansão agropecuária, de
crescimento das cidades e implementação de infra-estrutura. Então, há a redução dos ambientes naturais o que pode
adensar os animais e, com isso,
ampliar a possibilidade de propagação de doenças entre eles."
Apenas 61,1% da área do cerrado está conservada atualmente, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
Macacos de estimação
Para a ministra Marina Silva,
do Meio Ambiente, a migração
crescente de animais silvestres
para áreas urbanas, aumentando o risco de doenças tropicais,
é provocada por três fatores: o
desmatamento, as alterações
do ecossistema e o aumento e a
proliferação das cidades.
"É claro que o aumento da remoção da cobertura vegetal, as
alterações do ecossistema por
intervenção humana e o avanço
dos assentamentos humanos
provocam uma convivência cada vez maior de pessoas com
animais, produzindo efeitos e
desequilíbrios que não são positivos", disse.
A convivência pacífica entre
homens e animais gerou também uma prática condenável:
"Uma prática equivocada, por
falta de compreensão e de informação, de dar alimento aos
animais, criando um processo
fora da cadeia de reprodução
normal dos animais".
Ela citou como exemplo os
macacos, que têm morrido em
Goiás e Minas e podem ser vetores da febre amarela: "As pessoas, até bem intencionadas,
mas equivocadamente, põem
um cacho de bananas no fundo
do quintal de casa ou da chácara para os macacos, o que leva a
um aumento da migração".
De acordo com o coordenador de fauna e recursos pesqueiros do Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), Leo Caetano Fernandes
da Silva, a retirada de macacos
da natureza também contribui
com o aumento de animais em
áreas urbanas. Muitos, diz ele,
acabam soltos dentro das cidades porque dão muito trabalho.
O maior número de macacos
na cidade e o grande número de
mosquitos Aedes aegypti
-transmissores de febre amarela e dengue- podem ter colaborado para o aumento dos casos entre os humanos, ressalta
a bióloga Marilda Schuvartz,
professora da UFG (Universidade Federal de Goiás).
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