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MASSACRE DO CARANDIRU
Advogado de Ubiratan diz que grupos de direitos humanos elegeram coronel como bode expiatório
Governo teme repercussão no exterior
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal, por meio da
Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República, se manifestou ontem
com preocupação sobre a decisão
da Justiça paulista de inocentar o
coronel Ubiratan Guimarães. O
Palácio do Planalto, que diz contar com a insistência do Ministério Público no caso, teme que a
absolvição tenha repercussões negativas no exterior.
"A decisão preocupa particularmente esta secretaria tendo em
vista que o caso foi objeto de recomendações pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da Organização dos Estados
Americanos [OEA]. O relatório
da comissão, elaborado em 2000,
responsabiliza o Estado brasileiro
por violação aos direitos humanos e pede uma investigação
completa, imparcial e efetiva a fim
de identificar e processar as autoridades e funcionários responsáveis pelo ocorrido", informou a
secretaria, em nota.
Para não polemizar com o Judiciário, o governo condena o resultado de forma sutil, dizendo que
"reconhece a soberania e a legitimidade" das decisões da Justiça.
Para Viviana Krsticevic, do
Centro pela Justiça e Direito Internacional -uma das ONGs que
levaram o caso à OEA-, a falta de
punição até o momento pode levar o Brasil a receber uma moção
de censura do órgão.
"Em abril de 2002, a comissão
obrigou o Estado brasileiro a punir os responsáveis pelo massacre
do Carandiru. A decisão não diz
que essa ou aquela pessoa tem
que ser culpada, mas responsabiliza o Estado brasileiro pela investigação e punição dos culpados.
Obviamente, uma decisão como
essa [a absolvição] promove e
perpetua a impunidade e a recorrência de atos violentos no sistema carcerário brasileiro", diz.
O papel da comissão é o de fazer
recomendações para os países
americanos a partir de casos de
violações aos direitos humanos.
A Anistia Internacional divulgou nota ontem em que afirma
que a Justiça do país "falhou ao
permitir que uma grave violação
aos diretos humanos passasse impune". "Com esta decisão, ninguém foi responsabilizado pelas
111 mortes. Isso é uma afronta às
vítimas e aos familiares", afirmou
Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional no Brasil.
Procurado pela reportagem, o
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não comentou a decisão da Justiça paulista.
Equívoco
O advogado do coronel Ubiratan Guimarães, Vicente Cascione,
deputado federal pelo PTB-SP,
afirma que a decisão do Tribunal
de Justiça apenas corrigiu um
equívoco cometido pela juíza Maria Cristina Cotrofe na interpretação dos votos dos jurados.
"O que eu sustentei ontem [anteontem] foi que o júri já havia absolvido o coronel. O júri já havia
negado o dolo (intenção), já tinha
afirmado o estrito cumprimento
do dever legal, afirmado que era
inexigível outra conduta [por parte do coronel]", afirmou.
Sobre as críticas de que a decisão possa contribuir para o crescimento da sensação de impunidade no país, Cascione afirmou:
"Absolver o inocente não significa impunidade. Impunidade significa não punir culpado".
Para o advogado, as entidades
de direitos humanos que protestam contra a absolvição do coronel elegeram o oficial para "bode
expiatório". "Ele não tinha outra
saída senão cumprir ordens",
afirmou Cascione.
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