São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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SAÚDE
Ministro afirma que conceito de déficit público adotado pelo órgão é diferente para os "trouxas" do sul
Critério do FMI prejudica saúde, diz Serra

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O Brasil não conseguirá cumprir a meta de reduzir pela metade o número de mortes anuais de crianças com menos de 5 anos até 2002, compromisso assumido ontem com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), se não investir mais em saneamento.
O próprio ministro da Saúde, José Serra, disse ontem que o país tem problemas para investir na área e afirmou que a dificuldade é o conceito de déficit público que o FMI adota.
"Na Europa, o endividamento das empresas públicas não entra no cálculo do déficit. Parece que há duas teorias econômicas ortodoxas: a do Norte e a dos trouxas do Hemisfério Sul. Isso realmente não tem cabimento", afirmou.
Serra defendeu mudança no conceito de déficit público para permitir que empresas de saneamento contraiam empréstimos e aumentem os investimentos.
"O que falta é mudar o critério de déficit público. Se o FMI estiver tão preocupado com a pobreza, nada como promover e ajudar essa mudança para que essas empresas de saneamento possam tomar dinheiro emprestado para poder investir, inclusive do Fundo de Garantia, que foi criado para isso e está paralisado."
Serra participou ontem do lançamento da campanha "Crianças Saudáveis - 2002", da Opas, que tem como meta reduzir pela metade, nos próximos dois anos, o número de crianças que morrem em decorrências de doenças transmissíveis - no caso do Brasil, será preciso reduzir em 24 mil o número de mortes anuais.
O diretor da Opas, George Alleyne, esteve em Brasília para participar do lançamento.
Segundo Serra, para que a meta seja cumprida não bastam esforços da área de saúde. "Há 3 milhões de lares no Brasil que não têm nem banheiro. O país deveria investir mais nessa área, mas fica amarrado pela obrigação de não aumentar o déficit público."
Pelo menos 60% das consultas pediátricas e 40% das internações de menores de 5 anos nas Américas são fruto de doenças transmissíveis -como infecções respiratórias agudas, sarampo, malária, tuberculose, dengue e meningite-, que poderiam ser evitadas com vacinação e campanhas educativas.
Entre 1995 e 2000, cerca de 188,8 mil menores de 5 anos morreram nos 26 maiores países das Américas a cada ano em decorrência de doenças transmissíveis.
Segundo a pesquisa da Opas, mais de 50% das crianças que procuram a rede hospitalar nos 26 países são tratadas com antibióticos sem de fato necessitar do remédio. O abuso pode causar resistência bacteriana e desperdiça recursos públicos destinados à saúde.


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