São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

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ECSTASY

Depois de conquistar consumidores no Primeiro Mundo, droga começa a ganhar espaço em mercados "emergentes" como o brasileiro

Aumento de consumo provoca alerta global

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O alerta foi dado na semana passada: aumenta em todo o mundo o consumo de ecstasy, a droga associada à vida noturna, aos clubbers e às raves, festas dançantes em que a música eletrônica predomina madrugada adentro.
Junto com o alerta -dado por autoridades européias e norte-americanas durante a 20ª Conferência Internacional sobre Controle de Drogas, realizada na Bolívia-, informações mais recentes ampliam o espectro dos sérios danos causados pelo consumo da substância de efeito estimulante e alucinógeno nos usuários, em geral adolescentes e jovens adultos.
O encontro da semana passada contou com a presença de representantes de 59 países, que dedicaram boa parte dos trabalhos à questão do consumo do ecstasy.
As comunicações oficiais indicaram que o consumo aumentou na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália e que o mesmo deverá ocorrer em países da América Latina. Os representantes dos países dessa região -entre eles o Brasil- receberam recomendação para reforçar o combate ao tráfico da substância.
Há a expectativa de que as organizações de traficantes de ecstasy ampliem suas atividades não só nos países latino-americanos, como também no Caribe, praças dominadas atualmente pelos fornecedores de cocaína e maconha.
No Brasil, o aumento do consumo da droga também entrou para o rol das sérias preocupações das autoridades do setor.
"O problema é realmente preocupante e precisamos nos municiar. O aumento do consumo na nossa região é previsível porque trata-se de uma questão de comércio", disse o delegado Getúlio Bezerra, coordenador-geral de Prevenção e Repressão aos Entorpecentes da Polícia Federal, que
Registros falhos
Conforme Bezerra, os registros oficiais da Polícia Federal indicam apreendidos 78.300 comprimidos de ecstasy no Brasil, a maior parte em São Paulo. Os dados, no entanto, não são precisos. "As informações vindas dos Estados são falhas, defasadas", diz o delegado.
De fato: apenas em outubro de 99, 179.945 comprimidos foram apreendidos no aeroporto internacional de São Paulo. Na última sexta-feira, no mesmo local, a PF descobriu 10 mil comprimidos no fundo falso da mala de um brasileiro vindo de Amsterdã.
Não se pode quantificar o consumo baseando-se somente na droga apreendida. "É preciso que que traça as políticas para o setor" esteja começando a cuidar disso."
Para o delegado, há especificidades em relação ao ecstasy que o diferem de outras substâncias ilegais. "Essa não é uma "droga da rua", vendida por traficantes comuns. Ela pode ser feita em pequenos laboratórios e circula em ambientes muito específicos. Seu trânsito é fácil e o controle do tráfico, complicado."
A questão levantada na conferência internacional, de acordo vulto que o problema está tomando e ao fato de a droga ser, sem dúvida, letal".
Segundo o relato do representante holandês na conferência antidrogas, Martin Witteveen, o ecstasy, cuja produção em massa começou nos anos 80 em seu país, "ultrapassou as fronteiras da Europa e invadiu os Estados Unidos e outros países".
Essa opinião foi corroborada por Asa Hutchinson, diretor da DEA, a agência federal antidrogas dos EUA, também presente no evento. "Nas universidades, a droga tornou-se extremamente difundida, porque os jovens estão preferindo o ecstasy à cocaína."
Dados recentes da ONU indicam que o número de usuários de ecstasy já superou os de cocaína. As estimativas são de 29 milhões de usuários da primeira contra 14 milhões da segunda.
Na conferência da semana passada houve o registro de que comprimidos de ecstasy foram encontrados pela primeira vez na Turquia, tradicional mercado de haxixe. Nos Estados Unidos, pelo menos 25 mortes foram registradas recentemente. Numa única apreensão realizada no ano passado, a polícia recolheu um milhão de comprimidos em Nova York.
Segundo pesquisa realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos últimos três anos o consumo de ecstasy aumentou 69% entre estudantes universitários. Participaram do estudo 14 mil alunos de 119 universidades americanas.
Os números revelam que a maioria dos estudantes que disseram ter usado ecstasy (aproximadamente 5% do total de entrevistados) também apresentou outros comportamentos de risco, como beber muito, fumar e ter mais parceiros sexuais.
O relatório dos especialistas responsáveis pela pesquisa, citado pelo "Journal of Adolescent Health", afirma que "o primeiro procedimento para coibir o uso é uma campanha para propagar informações sobre os riscos do consumo do ecstasy".


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