|
Próximo Texto | Índice
ECSTASY
Depois de conquistar consumidores no Primeiro Mundo, droga
começa a ganhar espaço em mercados "emergentes" como o brasileiro
Aumento de consumo provoca alerta global
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O alerta foi dado na semana passada: aumenta em todo o mundo
o consumo de ecstasy, a droga associada à vida noturna, aos clubbers e às raves, festas dançantes
em que a música eletrônica predomina madrugada adentro.
Junto com o alerta -dado por
autoridades européias e norte-americanas durante a 20ª Conferência Internacional sobre Controle de Drogas, realizada na Bolívia-, informações mais recentes
ampliam o espectro dos sérios danos causados pelo consumo da
substância de efeito estimulante e
alucinógeno nos usuários, em geral adolescentes e jovens adultos.
O encontro da semana passada
contou com a presença de representantes de 59 países, que dedicaram boa parte dos trabalhos à
questão do consumo do ecstasy.
As comunicações oficiais indicaram que o consumo aumentou
na Europa, nos Estados Unidos e
na Austrália e que o mesmo deverá ocorrer em países da América
Latina. Os representantes dos países dessa região -entre eles o
Brasil- receberam recomendação para reforçar o combate ao
tráfico da substância.
Há a expectativa de que as organizações de traficantes de ecstasy
ampliem suas atividades não só
nos países latino-americanos, como também no Caribe, praças
dominadas atualmente pelos fornecedores de cocaína e maconha.
No Brasil, o aumento do consumo da droga também entrou para
o rol das sérias preocupações das
autoridades do setor.
"O problema é realmente preocupante e precisamos nos municiar. O aumento do consumo na
nossa região é previsível porque
trata-se de uma questão de comércio", disse o delegado Getúlio
Bezerra, coordenador-geral de
Prevenção e Repressão aos Entorpecentes da Polícia Federal, que
Registros falhos
Conforme Bezerra, os registros
oficiais da Polícia Federal indicam
apreendidos 78.300 comprimidos
de ecstasy no Brasil, a maior parte
em São Paulo. Os dados, no entanto, não são precisos. "As informações vindas dos Estados são falhas, defasadas", diz o delegado.
De fato: apenas em outubro de
99, 179.945 comprimidos foram
apreendidos no aeroporto internacional de São Paulo. Na última
sexta-feira, no mesmo local, a PF
descobriu 10 mil comprimidos no
fundo falso da mala de um brasileiro vindo de Amsterdã.
Não se pode quantificar o consumo baseando-se somente na
droga apreendida. "É preciso que
que traça as políticas para o setor"
esteja começando a cuidar disso."
Para o delegado, há especificidades em relação ao ecstasy que o
diferem de outras substâncias ilegais. "Essa não é uma "droga da
rua", vendida por traficantes comuns. Ela pode ser feita em pequenos laboratórios e circula em
ambientes muito específicos. Seu
trânsito é fácil e o controle do tráfico, complicado."
A questão levantada na conferência internacional, de acordo
vulto que o problema está tomando e ao fato de a droga ser, sem
dúvida, letal".
Segundo o relato do representante holandês na conferência antidrogas, Martin Witteveen, o ecstasy, cuja produção em massa começou nos anos 80 em seu país, "ultrapassou as fronteiras da Europa e invadiu os Estados Unidos
e outros países".
Essa opinião foi corroborada
por Asa Hutchinson, diretor da
DEA, a agência federal antidrogas
dos EUA, também presente no
evento. "Nas universidades, a
droga tornou-se extremamente
difundida, porque os jovens estão
preferindo o ecstasy à cocaína."
Dados recentes da ONU indicam que o número de usuários de
ecstasy já superou os de cocaína.
As estimativas são de 29 milhões
de usuários da primeira contra 14
milhões da segunda.
Na conferência da semana passada houve o registro de que comprimidos de ecstasy foram encontrados pela primeira vez na Turquia, tradicional mercado de haxixe. Nos Estados Unidos, pelo
menos 25 mortes foram registradas recentemente. Numa única
apreensão realizada no ano passado, a polícia recolheu um milhão
de comprimidos em Nova York.
Segundo pesquisa realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos últimos
três anos o consumo de ecstasy
aumentou 69% entre estudantes
universitários. Participaram do
estudo 14 mil alunos de 119 universidades americanas.
Os números revelam que a
maioria dos estudantes que disseram ter usado ecstasy (aproximadamente 5% do total de entrevistados) também apresentou outros comportamentos de risco,
como beber muito, fumar e ter
mais parceiros sexuais.
O relatório dos especialistas responsáveis pela pesquisa, citado
pelo "Journal of Adolescent
Health", afirma que "o primeiro
procedimento para coibir o uso é
uma campanha para propagar informações sobre os riscos do consumo do ecstasy".
Próximo Texto: Pesquisas mostram efeito devastador Índice
|