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Dona-de-casa reencontra filho depois de 4 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
A dona-de-casa Cleusa Furtado
de Araújo, 38, passou os últimos
quatro anos se alimentando mal,
dormindo pouco e sonhando
acordada com o momento em
que abraçaria o filho David, que
desapareceu em 1998. No último
dia 11, ela o reencontrou.
"Meu filho como você está lindo. Olha gente, ele é magrinho
igual a mim", disse Cleusa quando o filho acabou de subir as centenas de degraus que dão acesso à
sua casa, quase no topo da favela
do Jaguaré, na zona oeste da capital, acompanhado da polícia, da
família que o abrigou e da Folha.
David conta que um dia (25 de
fevereiro de 1998, segundo o registro policial) um conhecido da
favela, identificado apenas como
Cléber, o convidou para ir ao centro da cidade, como já haviam feito outras vezes. O menino, então
com dez anos, aceitou.
"Só que a gente viajou, viajou e
eu me perdi", diz ele, que, com
outros quatro meninos, foi obrigado a pedir dinheiro em semáforos de São Vicente (litoral de SP).
Depois de mais ou menos uma
semana, David conta ter se perdido do grupo. Foi encontrado de
madrugada pelo vendedor Carlos
Alberto, 24, chorando a poucos
metros de onde pedia dinheiro.
Teve sorte. Foi levado para a casa da aposentada Maria José da
Silva, onde vivem suas filhas, netos e "agregados", como David,
que no total somam mais ou menos 30 pessoas. Ele aprendeu a nadar, a pegar onda e a vender flores
para ajudar no orçamento doméstico. Diz que não sabia explicar onde era a casa da mãe, em
São Paulo, e que teve medo de ser
"largado no meio do caminho".
Maria José afirma que não avisou a polícia com medo de que a
família de David não fosse encontrada e que ele fosse levado para a
Febem (Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor). A polícia o
encontrou durante investigações
de outros sumiços no litoral.
A menina Mariane Perez, levada da casa da avó, em São Bernardo do Campo (Grande SP), aos
três anos, não teve a mesma sorte.
Ela foi levada em janeiro de
2000 por duas mulheres que foram à casa de sua avó, interessadas nos produtos de beleza que
ela revendia. Foram indicadas por
conhecidos da família e levaram a
garota enquanto a avó foi ao
quarto pegar o pedido. Ela foi
achada um ano depois, com piolho, suja e mal vestida, trabalhando numa pizzaria em Guarulhos.
"Quem quiser encontrar seu filho tem correr a cidade", diz Quitéria Silva, mãe de Fabiano, que
dormiu 36 dias amarrado e foi
obrigado a mendigar. Ela organizou uma rede de informação com
os meninos da favela de Paraisópolis (zona sul de SP), onde mora,
e descobriu o paradeiro do filho.
Só procurou a polícia quando teve
certeza de onde ele estava.
(GA)
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