São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

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Dona-de-casa reencontra filho depois de 4 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

A dona-de-casa Cleusa Furtado de Araújo, 38, passou os últimos quatro anos se alimentando mal, dormindo pouco e sonhando acordada com o momento em que abraçaria o filho David, que desapareceu em 1998. No último dia 11, ela o reencontrou.
"Meu filho como você está lindo. Olha gente, ele é magrinho igual a mim", disse Cleusa quando o filho acabou de subir as centenas de degraus que dão acesso à sua casa, quase no topo da favela do Jaguaré, na zona oeste da capital, acompanhado da polícia, da família que o abrigou e da Folha.
David conta que um dia (25 de fevereiro de 1998, segundo o registro policial) um conhecido da favela, identificado apenas como Cléber, o convidou para ir ao centro da cidade, como já haviam feito outras vezes. O menino, então com dez anos, aceitou.
"Só que a gente viajou, viajou e eu me perdi", diz ele, que, com outros quatro meninos, foi obrigado a pedir dinheiro em semáforos de São Vicente (litoral de SP).
Depois de mais ou menos uma semana, David conta ter se perdido do grupo. Foi encontrado de madrugada pelo vendedor Carlos Alberto, 24, chorando a poucos metros de onde pedia dinheiro.
Teve sorte. Foi levado para a casa da aposentada Maria José da Silva, onde vivem suas filhas, netos e "agregados", como David, que no total somam mais ou menos 30 pessoas. Ele aprendeu a nadar, a pegar onda e a vender flores para ajudar no orçamento doméstico. Diz que não sabia explicar onde era a casa da mãe, em São Paulo, e que teve medo de ser "largado no meio do caminho".
Maria José afirma que não avisou a polícia com medo de que a família de David não fosse encontrada e que ele fosse levado para a Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). A polícia o encontrou durante investigações de outros sumiços no litoral.
A menina Mariane Perez, levada da casa da avó, em São Bernardo do Campo (Grande SP), aos três anos, não teve a mesma sorte.
Ela foi levada em janeiro de 2000 por duas mulheres que foram à casa de sua avó, interessadas nos produtos de beleza que ela revendia. Foram indicadas por conhecidos da família e levaram a garota enquanto a avó foi ao quarto pegar o pedido. Ela foi achada um ano depois, com piolho, suja e mal vestida, trabalhando numa pizzaria em Guarulhos.
"Quem quiser encontrar seu filho tem correr a cidade", diz Quitéria Silva, mãe de Fabiano, que dormiu 36 dias amarrado e foi obrigado a mendigar. Ela organizou uma rede de informação com os meninos da favela de Paraisópolis (zona sul de SP), onde mora, e descobriu o paradeiro do filho. Só procurou a polícia quando teve certeza de onde ele estava. (GA)


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