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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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MOACYR SCLIAR

Hora da verdade

A disputa para o concurso "Mãe de todas as mães" está cada vez mais acirrada. É como se estivesse em jogo a hegemonia mundial, e, num certo sentido, é o que está em jogo, sim, a hegemonia mundial.
No começo, estavam inscritas muitas mães, mas todas foram sumindo. A "Mãe-Natureza", por exemplo, simplesmente desapareceu, sem nem sequer cancelar a sua inscrição. Nos bastidores da disputa comenta-se, a boca pequena, que tais sumiços não ocorrem por acaso. Que fazem parte de um plano para eliminar rivais.
Seja como for, o certo é que sobraram apenas duas concorrentes. Uma é a "Mãe de todas as batalhas". Seu grande promotor é o senhor Saddam Hussein, veterano destas provas. Na verdade, a "Mãe de todas as batalhas" está concorrendo pela segunda vez; trata-se, pois, de uma veterana. O primeiro concurso em que participou, há cerca de uma década, teve resultado indefinido, motivo pelo qual está se apresentando pela segunda vez.
A outra concorrente é a "Mãe de todas as bombas", promovida pelo senhor George Bush. É a sua estréia em provas deste gênero, mas ela está confiante na vitória e mais, numa vitória rápida, arrasadora. Como declarou à mídia, numa apresentação prévia feita na Flórida, quer simplesmente terminar com a "Mãe de todas as batalhas".
Recentemente houve uma apresentação pública das duas candidatas, um fato que teve ampla repercussão na mídia. Cada uma veio acompanhada de um imenso séquito belicoso. A "Mãe de todas as batalhas" trouxe a "Guerra química", a "Guerra bacteriológica", a "Eliminação de todos os adversários", todas diletas discípulas. A "Mãe de todas as bombas", mais jovem, optou por trazer as suas mestras, a "Bomba atômica", a "Bomba de hidrogênio" e outras (todas, aliás, invejadas pela "Mãe de todas as batalhas", que já tentou, sem êxito, obter estas duas mestras para a sua escola).
As duas candidatas adotam estratégias diferentes. A "Mãe de todas as bombas" confia no seu poder explosivo no poder, de maneira geral, e sustenta que, ao fim e ao cabo, é assim que as coisas se resolvem. A "Mãe de todas as batalhas" aposta no desgaste da concorrente, cuja imagem não é das melhores.
O júri está em reunião permanente para decidir a quem será conferido o prêmio. Decisão difícil. Como disse, baixinho, um dos jurados: com mães desse tipo, o melhor é ser órfão.


O escritor Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.


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