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TABAGISMO
Ministério pretende alterar mensagens de alerta contra riscos
Governo estuda ação judicial contra indústrias americanas
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
O ministro José Serra (Saúde)
disse ontem no Rio que a Advocacia-Geral da União analisa como
entrar na Justiça dos Estados Unidos com uma ação de indenização
contra as matrizes norte-americanas de fabricantes de cigarro.
Segundo o ministro, a idéia é
mover a ação em nome do governo
brasileiro, para cobrar ressarcimento pelos gastos do SUS (Sistema Único de Saúde) com doenças
provocadas pelo fumo.
Serra disse que a indenização pode ficar entre US$ 40 bilhões e US$
50 bilhões. Escritórios norte-americanos seriam contratados para
mover a ação, e a indenização, em
caso de vitória, seria usada no
atendimento a pacientes e em
campanhas antitabagistas.
O ministro afirmou que, por enquanto, o planejamento sobre a
ação judicial se limita aos fabricantes norte-americanos. Segundo
Serra, a legislação americana, por
causa da forte tradição de defesa
do consumidor e da valorização da
jurisprudência, favorece esse tipo
de ação. "As indústrias já fecharam
acordos com os Estados norte-americanos que chegam a US$ 250
bilhões", afirmou.
Alertas
O ministro anunciou que pretende tornar menos sutis as frases de
alerta contra o fumo que constam
nas embalagens dos cigarros. "Por
mim, eu colocaria um cigarro dizendo: hoje você me acende, amanhã eu te apago", afirmou.
O advogado Jorge Béja, que ganhou na 38ª Vara Cível do Rio uma
ação indenizatória contra a Souza
Cruz, disse que a legislação brasileira ainda está engatinhando nesse tipo de causa, mas que o ministro poderia perfeitamente recorrer
à Justiça brasileira.
"Nos Estados Unidos, pessoas
jurídicas, como os Estados, podem
acionar os fabricantes. No Brasil,
isso era restrito a pessoas físicas.
Agora, porém, já temos a ação civil
pública, que pode ser movida por
pessoas jurídicas."
Para conseguir a sentença favorável na 38ª Vara Cível, Béja se baseou no Código de Defesa do Consumidor e alegou que o produto (o
cigarro) causara a morte de Nelson
Soares, por infarto do miocárdio
provocado por tabagismo, em
1996.
A sentença deu à viúva e às filhas
indenização de R$ 30 mil para cada
uma. A empresa recorreu, e o recurso será analisado na semana
que vem.
Câncer
O ministro Serra lançou ontem
no Inca (Instituto Nacional de
Câncer) uma publicação com a estimativa dos casos de câncer para
este ano no Brasil. Pelos dados do
Inca, o país terá 19.600 novos casos
de câncer de pulmão em 99. Isso
equivale a 6,46% do total de
261.900 novos casos de câncer previstos para o ano.
De acordo com o Inca, o fumo é
responsável por 90% dos casos de
câncer de pulmão. Quem fuma
tem 22 vezes mais chances de morrer desse tipo de câncer. Também
estão relacionados ao fumo os cânceres de boca, laringe, esôfago,
pâncreas, rim, bexiga e colo do
útero, além das doenças cardiovasculares.
Das 104.200 mortes por câncer
previstas para 99, 12.700 (12,24%)
serão por câncer de pulmão. Entre
os tipos de câncer, é o segundo que
mais mata no país, perdendo só
para o de estômago. Entre a população masculina, porém, o câncer
de pulmão é o que mais mata; este
ano, são esperados 9.400 óbitos de
homens vítimas da doença.
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