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MARILENE FELINTO
A cara feia da elite do Norte/Nordeste
Corruptos, incultos e
feios: esta a imagem que a
elite política e econômica do Norte e do Nordeste passa para o resto do país. De políticos a empresários e usineiros, eles não inspiram
a menor confiança. A classe política, embora seja corrupta em todo lugar -basta lembrar as suspeitas nunca esclarecidas que
pairam sobre políticos de São
Paulo, de Orestes Quércia ao ex-governador Fleury até a recente
dupla dinâmica Paulo Maluf/Celso Pitta, para citar apenas alguns-, nunca pareceu tão subornável quanto a do Norte/Nordeste
que hoje estampa os noticiários.
A começar pela predatória "república das Alagoas", de Fernando Collor e sua matilha de cães famintos pelo dinheiro público, passando pela sempre suspeita Bahia
de Antonio Carlos Magalhães, alcançando o Pernambuco e o Ceará da Sudene, chegando ao Pará
de Jader Barbalho e sua Sudam, a
gente lá de cima oferece um espetáculo sem precedentes na história do lamaçal que é a administração da coisa pública brasileira.
Por que somente agora se fala
no rombo da Sudene e da Sudam?
A rede de corrupção e espoliação
está instalada há décadas nessas
duas instituições. Em Pernambuco, até pequenos funcionários da
Sudene enriqueceram de um dia
para o outro nos anos 70/80.
Imagine o que não se passa nas
reentrâncias da selva amazônica,
sob domínio de caudilhos disfarçados de empresários e homens
públicos, um Jader Barbalho, um
Amazonino Mendes. Ali eles
mandam em tudo, sem nenhuma
vigilância. Até o Ministério Público do Pará parece dominado por
Barbalho: a Promotoria não se
mostra disposta a apurar até o
fim o desvio de R$ 10 milhões do
Banpará, o banco estadual, para
contas do senador e de aliados.
Numa única visita que fiz a Belém, há dois anos, impressionou-me a fala do taxista (ou seja, a
"voz do povo") que me levava do
aeroporto ao hotel: "está vendo
aquela antena de televisão?", disse, apontando para o alto de um
morro. "É do Jader Barbalho.
Aqui ele é dono de TV, de tudo,
manda em tudo." O tom era um
misto de fatalismo com revolta.
Qual a diferença entre Jader
Barbalho e ACM? Exatamente esta: que, quando se chega a Belém,
é o taxista que dá a senha; quando se chega a Salvador, a coisa é
oficial, está no nome do aeroporto
(homenagem póstuma ao filho de
ACM, Luís Eduardo Magalhães);
os baianos já incorporaram a
submissão ao senador como um
emblema em suas testas.
Como a Amazônia fica longe
-e o Nordeste também fica longe, visto daqui do Sudeste-, é como se lá eles tivessem mais liberdade para agir. Não é à toa que se
descobriu só agora lá no Norte o
maior latifundiário do país, Falb
de Farias, suposto grileiro de terras, dono de quase metade do
Amazonas.
O rombo na Sudam chega perto
de R$ 2 bilhões. O do Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste)
a R$ 1,4 bi. Só da Sudene foram
desviados quase R$ 500 milhões.
E assim vai. De bilhão em bilhão,
a população do Norte/Nordeste
vai morrendo à míngua, enquanto a mais predadora das elites do
país enche os bolsos.
A cara feia dos políticos do Norte/Nordeste só varia de forma: do
estilo "bebe quieto" de um Tasso
Jereissati à truculência de um
ACM ou de um Jader Barbalho.
No fundo, são todos iguais: é a
chamada "integração nacional",
nome do ministério criado pelo
governo Fernando Henrique. A
lógica é a seguinte: quem manteve um ACM na presidência do Senado pode manter um Jader. Por
que não? Qual a diferença? É tudo
integração.
E-mail - mfelinto@uol.com.br
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