São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Departamento inicia recadastramento de obras de arte, pois relação não foi atualizada nas três últimas gestões

12 esculturas desaparecem do centro de SP

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão da Prefeitura de São Paulo que deveria cadastrar e proteger as obras de arte da capital, não sabe quantas esculturas existem nas ruas.
A Folha percorreu o trajeto que vai do largo do Arouche à praça da República (centro), um dos pontos da cidade que mais abriga esculturas. Das 29 obras que deveriam estar no local, 12 desapareceram. Na maioria dos casos, restou somente o pedestal de pedra.
A reportagem utilizou, como referência, o guia "Obras de Arte em Logradouros Públicos de São Paulo -Regional Sé", publicado pelo DPH, em 1987.
Apenas as administrações regionais da Sé (centro) e da Vila Mariana (zona sul) têm lista de obras públicas. Os registros, no entanto, estão desatualizados.
O estudante que consultar o livro referente à Sé, por exemplo, irá percorrer a praça da República atrás da escultura "Mulher Nua", de Charis Brandt, sem encontrá-la. A peça em bronze, de 1,70 m de altura, foi roubada em 1994.
A nova diretora do DPH, Leila Diêgoli, tenta contornar o deslize cometido pelas últimas três gestões -Luiza Erundina (1989-1992), Paulo Maluf (1993-1996), e Celso Pitta (1997-2000)-, que não atualizaram o cadastro. "Há doações e esculturas que são transferidas das quais nem temos notificação", afirma.
As obras que ficaram no local de origem estão deterioradas. Quando não estão faltando dedos, orelhas e bigodes, o bronze está coberto de limo, as placas de identificação foram arrancadas ou cobertas com uma demão de cal.
O recadastramento das esculturas começou ontem, no circuito Arouche-República. Segundo o assistente técnico da diretoria do DPH, Walter Pires, o objetivo é identificar o que restou do patrimônio para atualizar os cadastros e tentar restaurar as peças.
A decisão de fazer o levantamento foi tomada após o furto de duas esculturas, ocorrido há dez dias. "Os Anjos", de Maria Bonomi, sumiu da praça Cecília Saldiva, no Alto de Pinheiros (zona oeste), e o busto do ex-embaixador José Carlos de Macedo Soares, que ficava em frente à Academia Paulista de Letras, no Arouche (centro), desapareceu.

Ferro-velho e antiquário
O DPH obteve informações de que funcionários da Administração Regional da Sé resgataram, há dez dias, duas obras de arte roubadas. Uma delas é o busto do ex-governador de São Paulo Bernardino de Campos, que está em um depósito na praça da República.
O busto foi encontrado pelo encarregado de manutenção da praça, Sérgio Colombo, 53, caído em um canteiro. "Acho que pesou demais e os ladrões desistiram. Precisei de quatro pessoas para guardar a peça", conta Colombo.
De acordo com ele, o furto de bustos, placas e pedaços de esculturas é comum. "Nesse lugar, dá tudo quanto é tipo de gente. É difícil controlar", diz. A praça da República é vigiada por quatro policiais militares e tem ainda uma guarita da Guarda Civil -que, ontem, estava vazia.
A outra peça resgatada, ainda não identificada, está no depósito da Administração Regional da Sé. Segundo a diretora do DPH, um fiscal da prefeitura teria flagrado os ladrões enquanto carregavam a escultura. "É muito difícil proteger peças como essas. Seria preciso um guarda para cada uma", diz Leila, que arrisca existir aproximadamente 500 obras de pequeno e médio porte na cidade.
O vandalismo é o principal motivo para o sumiço das obras de arte, na opinião de Leila. Segundo a diretora do DPH, as esculturas são levadas para serem fundidas.
Ricardo Fernandes, 58, dono do ferro-velho Jaguarani, há 30 anos no ramo, discorda. Ele diz que as obras valem mais no antiquário. "Uma peça de 100 kg, difícil de encontrar e carregar, renderia R$ 120. Pelo valor artístico, poderia chegar a R$ 3.000", diz ele, ressaltando que não compra esculturas.
Em 1996, a artista plástica Claudie Hasson encontrou, em um antiquário, a escultura "Sabiá-laranjeira", de sua autoria. A peça de 60 cm de altura, em bronze, havia sido roubada do lago da praça da República, naquele ano. Recuperada, a obra não voltou ao local.


Texto Anterior: Polícia: Grupos armados assaltam três bancos em um dia em São Paulo
Próximo Texto: Órgão estuda refazer peça roubada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.