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PATRIMÔNIO
Departamento inicia recadastramento de obras de arte, pois relação não foi atualizada nas três últimas gestões
12 esculturas desaparecem do centro de SP
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Departamento do Patrimônio
Histórico (DPH), órgão da Prefeitura de São Paulo que deveria cadastrar e proteger as obras de arte
da capital, não sabe quantas esculturas existem nas ruas.
A Folha percorreu o trajeto que
vai do largo do Arouche à praça
da República (centro), um dos
pontos da cidade que mais abriga
esculturas. Das 29 obras que deveriam estar no local, 12 desapareceram. Na maioria dos casos, restou
somente o pedestal de pedra.
A reportagem utilizou, como referência, o guia "Obras de Arte em
Logradouros Públicos de São
Paulo -Regional Sé", publicado
pelo DPH, em 1987.
Apenas as administrações regionais da Sé (centro) e da Vila
Mariana (zona sul) têm lista de
obras públicas. Os registros, no
entanto, estão desatualizados.
O estudante que consultar o livro referente à Sé, por exemplo,
irá percorrer a praça da República
atrás da escultura "Mulher Nua",
de Charis Brandt, sem encontrá-la. A peça em bronze, de 1,70 m de
altura, foi roubada em 1994.
A nova diretora do DPH, Leila
Diêgoli, tenta contornar o deslize
cometido pelas últimas três gestões -Luiza Erundina (1989-1992), Paulo Maluf (1993-1996), e
Celso Pitta (1997-2000)-, que
não atualizaram o cadastro. "Há
doações e esculturas que são
transferidas das quais nem temos
notificação", afirma.
As obras que ficaram no local de
origem estão deterioradas. Quando não estão faltando dedos, orelhas e bigodes, o bronze está coberto de limo, as placas de identificação foram arrancadas ou cobertas com uma demão de cal.
O recadastramento das esculturas começou ontem, no circuito
Arouche-República. Segundo o
assistente técnico da diretoria do
DPH, Walter Pires, o objetivo é
identificar o que restou do patrimônio para atualizar os cadastros
e tentar restaurar as peças.
A decisão de fazer o levantamento foi tomada após o furto de
duas esculturas, ocorrido há dez
dias. "Os Anjos", de Maria Bonomi, sumiu da praça Cecília Saldiva, no Alto de Pinheiros (zona
oeste), e o busto do ex-embaixador José Carlos de Macedo Soares, que ficava em frente à Academia Paulista de Letras, no Arouche (centro), desapareceu.
Ferro-velho e antiquário
O DPH obteve informações de
que funcionários da Administração Regional da Sé resgataram, há
dez dias, duas obras de arte roubadas. Uma delas é o busto do ex-governador de São Paulo Bernardino de Campos, que está em um
depósito na praça da República.
O busto foi encontrado pelo encarregado de manutenção da praça, Sérgio Colombo, 53, caído em
um canteiro. "Acho que pesou demais e os ladrões desistiram. Precisei de quatro pessoas para guardar a peça", conta Colombo.
De acordo com ele, o furto de
bustos, placas e pedaços de esculturas é comum. "Nesse lugar, dá
tudo quanto é tipo de gente. É difícil controlar", diz. A praça da
República é vigiada por quatro
policiais militares e tem ainda
uma guarita da Guarda Civil
-que, ontem, estava vazia.
A outra peça resgatada, ainda
não identificada, está no depósito
da Administração Regional da Sé.
Segundo a diretora do DPH, um
fiscal da prefeitura teria flagrado
os ladrões enquanto carregavam a
escultura. "É muito difícil proteger peças como essas. Seria preciso um guarda para cada uma", diz
Leila, que arrisca existir aproximadamente 500 obras de pequeno e médio porte na cidade.
O vandalismo é o principal motivo para o sumiço das obras de
arte, na opinião de Leila. Segundo
a diretora do DPH, as esculturas
são levadas para serem fundidas.
Ricardo Fernandes, 58, dono do
ferro-velho Jaguarani, há 30 anos
no ramo, discorda. Ele diz que as
obras valem mais no antiquário.
"Uma peça de 100 kg, difícil de encontrar e carregar, renderia R$
120. Pelo valor artístico, poderia
chegar a R$ 3.000", diz ele, ressaltando que não compra esculturas.
Em 1996, a artista plástica Claudie Hasson encontrou, em um antiquário, a escultura "Sabiá-laranjeira", de sua autoria. A peça de 60
cm de altura, em bronze, havia sido roubada do lago da praça da
República, naquele ano. Recuperada, a obra não voltou ao local.
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