São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

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Casos foram verificados em hemocentros privados; risco de contágio por transfusão é 30 vezes superior ao verificado nos EUA

Novo teste já detectou 2 contaminações

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois casos de contaminação de sangue doado pelo vírus da Aids já foram detectados no Brasil, por meio da tecnologia NAT, antes das transfusões. Isso na pequena experiência de hemocentros privados que implantaram o teste após a ordem do Ministério da Saúde, de 2002.
Segundo Dante Langhi Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, o universo de testes dos serviços ainda é muito pequeno -cerca de 60 mil exames desde o início de 2003. "Não reflete a realidade."
De acordo com Langhi Júnior, "do ponto de vista técnico", países que implantaram o teste tiveram ganho de segurança. "Mas do ponto de vista político é difícil responder sobre o custo-benefício."
Segundo Luiz Amorim Filho, secretário-geral da entidade, estudos a partir do perfil epidemiológico da população mostram que o risco de contaminação na transfusão é 30 vezes maior no Brasil do que nos EUA, por exemplo, que já implantaram o teste.
Amorim Filho destaca que, no entanto, não existe sangue "100% seguro". Mesmo o NAT tem uma "janela imunológica" -tempo em que o vírus é indetectável.

Caso detectado
Um dos casos de contaminação detectados pelo NAT foi registrado por um dos sete serviços particulares que compõem o Instituto de Estudo e Pesquisa do Sangue, do Hospital Santa Catarina, de São Paulo. O trabalho, tido como o primeiro do país, foi apresentado em agosto do ano passado no congresso da sociedade. Passou despercebido, o que possivelmente não aconteceria se a bolsa de sangue fosse para frente e contaminasse alguém.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não há dados sobre contaminações pelo vírus da hepatite C por meio de transfusões.
Já o programa de Aids registra 2.667 casos de 1980 a 2002 -com aperfeiçoamento do rastreamento dos casos e do sistema de sangue, caem abruptamente a partir de 98. Em 2001, foram dez. Em 2002, três. Até esse ano, havia 257.780 casos de Aids acumulados no país.
A Hemovigilância da Anvisa ainda está em construção. Pesquisa recente da agência mostrou dificuldades para se concluir e informar casos.
Hélio Aparecido de Fazzio, advogado da família de uma menina de 11 anos contaminada pelo vírus da Aids durante transfusão em 2001 (antes da portaria do NAT, portanto), desistiu de basear a ação na contaminação.
Não foi possível saber, por exemplo, em que período da janela imunológica estava o doador.
Ele questiona, no entanto, a letargia da instituição de Ribeirão Preto (SP) para avisar a família depois de detectada a contaminação da bolsa de sangue.
A garota, que antes de ser contaminada pelo HIV já sofria de uma série de problemas de saúde, morreu em 2002. A mãe, que veio do Maranhão em busca de um atendimento de saúde melhor, vive só. (FL)


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