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DIÁRIO DE UMA GUERRA
Polícia levou seu corpo em carrinho de mão pelas ruas da Rocinha
Para amigos, traficante Maurinho era "bom menino" e deixa saudades
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Morador do beco 38 da rua 3
da Rocinha, o traficante Mauro
Barbosa Casemiro, 20, ficou famoso ao sair da favela em que
nasceu levado em um carrinho
de mão, após ser morto pela polícia, na segunda-feira, dia 12.
A história dele, como tantas
outras da Rocinha, tem muitos
percalços. A Folha ouviu amigos e pessoas que conviveram
com Maurinho desde a infância. A família não foi localizada.
Saiu da favela após a morte.
O pai, que tinha "problemas
com bebida", morreu em 1994,
de cirrose. O jovem estudou, segundo seus amigos, até a 5ª série do ensino fundamental.
História nebulosa
No protocolo do corpo no
Instituto Médico Legal, a profissão citada é a de estudante. A
informação foi dada por um tio.
O início no tráfico é nebuloso,
a maioria não sabe dizer ao certo -e, quem sabe, não fala. Um
vizinho, que disse ter brincado
com ele quando eram crianças,
pediu: "Escreve só isto: saudades de um grande amigo".
Maurinho era pai de um menino de dois anos, Davidson,
que mora com a mãe, ex-namorada do morto. A Folha não
conseguiu encontrá-la. Na casa
de outra ex-namorada, ninguém abriu a porta. Pelo relato
dos amigos, o filho se parece
com ele. "Só o chamo de Maurinho Júnior", contou um deles.
Versões da morte
Como em outras situações, os
moradores relatam que Mauro
foi assassinado pela polícia
quando dormia. No dia 12, a
versão oficial era a de que PMs
foram recebidos a tiros pelo traficante, escondido em uma casa
na favela. Os policiais teriam revidado, e Maurinho morreu
com um tiro no peito.
Para vizinhos e amigos, era
uma pessoa calma. Ninguém
nega sua relação com o tráfico.
"Aqui ele era um bom menino,
o que ele fazia aí fora não é da
minha conta", diz uma vizinha.
A casa de alvenaria em que
morava fica no beco do beco. A
"rua 3" é uma viela íngreme, estreita e fechada, e não passam
carros. A rua sai do lado do posto policial na estrada da Gávea,
que corta a favela. O beco 38 fica
um quilômetro rua 3 abaixo.
"Isso não se faz"
A mãe e uma irmã também
moravam na casa. O traficante
aparecia lá freqüentemente,
mas sua estadia era incerta. A
mãe, empregada doméstica, teria tido câncer há quatro anos.
A imagem do corpo de Maurinho dentro de um carrinho de
mão sendo empurrado por policiais pela rua do Valão, uma
das mais movimentadas da favela, ficará na memória da Rocinha. "Isso aí não se faz nem
com um cachorro", falou um
amigo.
(PEDRO DIAS LEITE)
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