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Órgão federal admite que há problemas em Catanduvas
Depen afirma que alguns pontos já foram sanados
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
Em nota divulgada ontem, o
Depen (Departamento Penitenciário Nacional) admitiu falhas na contratação de agentes
penitenciários com antecedentes criminais, denúncia de tortura a presos e problemas estruturais na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR).
A Folha revelou ontem documento interno da Polícia Federal que aponta uma situação
de caos na penitenciária.
O Depen afirma que os problemas citados pela reportagem constam de relatórios que
traçaram um "cenário" relativo
ao final de 2006 e que muitos
deles já foram sanados.
O diretor do Depen, Maurício Kuehne, disse que, com relação ao comportamento de
carcereiros federais, que extrapolam suas funções e agem como policiais, o departamento
encaminha os casos à corregedoria quando há denúncias.
Na nota, o Depen não comenta as denúncias de abuso
de agentes e a prática de "carteiraços" em restaurantes e
boates de Cascavel, município
próximo a Catanduvas.
Kuehne disse, em entrevista
por telefone, que não existe nenhum documento comprobatório do envolvimento de agentes com o crime organizado. No
relatório, é citada a influência
do traficante Fernandinho Beira-Mar sobre outros internos e
alguns agentes penitenciários.
O diretor declarou não ter
conhecimento sobre essas denúncias, mas que iria mandar
investigar o caso.
Leia a seguir a íntegra da nota divulgada ontem.
Os relatórios citados na matéria datam
de 17 de agosto e de 24 de novembro de
2006. As pendências apontadas retratam
um cenário referente ao período de inauguração e não refletem a atual situação.
Todas as atividades da Penitenciária Federal de Catanduvas, bem como as de Campo Grande, são objeto de monitoramento
por meio de câmeras de circuito interno
que funcionam 24 h/dia. As imagens, além
de captadas na própria unidade, são transmitidas em tempo real para uma sala especial na sede do Depen, em Brasília. A direção do Depen, através da área de tecnologia
da informação, está terminando os preparativos para que a Polícia Federal de Cascavel
tenha acesso online às atividades da unidade de Catanduvas.
No fim de 2006, o diretor-geral do Depen e o diretor do Sistema Penitenciário
Federal foram à unidade de Catanduvas
com o intuito de realizar uma reunião com a
direção do presídio, com a diretoria do sindicato e com os agentes penitenciários lotados naquela unidade. Essas reuniões são habituais e acontecem de forma periódica. À
época havia descontentamento de pequeno
segmento dos agentes penitenciários com
relação ao chefe da divisão de segurança,
um agente da PF com larga experiência em
sistema prisional. Decorridos cinco meses,
nenhuma outra reclamação veio ao conhecimento da Diretoria do Sistema no que se
refere a problemas de relacionamento com
o chefe de disciplina ou ainda com o diretor
da unidade.
Não procede a informação de que a unidade não possui um plano de contingenciamento para atentados, rebeliões ou incêndios. Existe um plano de ação e um manual
de procedimentos elaborados pelo Depen.
Ambos são aplicados na unidade e são constantemente aprimorados.
Atualmente está em vigor o decreto
6.049/2007, que criou o Regulamento Penitenciário Federal. Esse regulamento dita as
normas de conduta no interior das unidades federais. Paralelamente, profissionais
qualificados exercitam a assistência e o tratamento penitenciário aos detentos no que
se refere à saúde, educação, trabalho, assistência social e jurídica. Dessa forma, não
procede a denúncia de que não há norma de
tratamento dos presos.
Em razão de a Lei 10.693/ 2003 não ter
exigido a investigação social nem previsto
concurso em 2 etapas (prova escrita e treinamento), a área de inteligência do Depen
detectou que alguns agentes penitenciários
federais registravam antecedentes criminais. Como esses agentes já eram servidores
públicos e os processos-crimes que respondiam, praticamente todos, já estão julgados,
em fase de julgamento ou condutas típicas
desclassificadas, a Diretoria do Sistema Penitenciário Federal, juntamente com os diretores das unidades penais, resolveu manter rigoroso controle sobre esses profissionais evitando, inclusive, que tenham contato direto com o detento. O Depen propôs
Medida Provisória com o aval do ministro
da Justiça, sob análise do Ministério do Planejamento, que cria mais 750 cargos de
agentes penitenciários federais e 250 cargos de especialistas em gestão e tratamento
penitenciário. Além disso, a referida MP
prevê também a realização de um novo concurso em 2 etapas, ambas eliminatórias:
prova escrita e psicotécnico e curso de capacitação. Durante a fase de recrutamento,
sob pena de serem eliminados, todos os
candidatos deverão apresentar "procedimento irrepreensível e idoneidade moral
inatacável" que serão definidas no edital do
concurso.
Com relação à denúncia de tortura, a direção da unidade, de forma proativa, adotou
todas as providências necessárias à sua apuração, ou seja, exame de corpo de delito do
preso, instauração de procedimento administrativo disciplinar e inquérito policial.
Os procedimentos estão em andamento e
somente o resultado dessas apurações dirá
se houve maus tratos ou não.
Há rigor absoluto no acesso de pessoas à
penitenciária, inclusive, de autoridades. Para entrar na unidade, agentes, prestadores
de serviço, advogados e visitantes são submetidos a identificação biométrica digital,
cujos dados estão armazenados na unidade
e na sede do Depen, em Brasília.
Os problemas de água já foram devidamente sanados. Além de estar conectada à
rede pública de abastecimento, a unidade
possui um poço artesiano. De acordo com
levantamentos efetivados pela direção da
unidade, havia nas tubulações um redutor
da pressão da água. Essa inadequação já foi
resolvida.
A Diretoria do Sistema Penitenciário Federal tem a convicção de que suas unidades
são as mais seguras de todo o país. A pretensão do Depen, inclusive, é torná-las referência nacional.
O Depen esclarece ainda que suas unidades são sistematicamente vistoriadas por
autoridades do Ministério Público Federal
e Estadual, da Justiça Federal e Estadual e
da própria OAB. Essas instituições, habitualmente, apresentam relatórios enaltecendo a qualidade dos serviços prestados
nas unidades federais.
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