|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morador aponta "ajuste de contas"
DA SUCURSAL DO RIO
Moradores do complexo de
morros Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, em Copacabana (zona
sul), onde cinco supostos traficantes foram mortos anteontem
pela PM, deram ontem nova versão para as mortes.
Segundo moradores do morro e
parentes dos mortos, a operação
foi um "ajuste de contas" organizado por soldados do 19º BPM
(Batalhão de Polícia Militar) em
represália contra um abaixo-assinado denunciando arbitrariedades dos soldados Leite e Cosme
-ambos participantes da operação de anteontem.
O comandante do 19º BPM, Fernando Belo, disse que a versão
dos moradores é irreal. Na versão
da polícia, houve uma operação
de rotina de combate ao tráfico,
com uma troca de tiros entre três
PMs e 15 traficantes que embalavam drogas. Depois disso, moradores desceram o morro, fecharam ruas e depredaram carros. O
morro está ocupado.
Para a polícia, eram ligados ao
tráfico todos os mortos: Nilton
Fernando Sodré Oliveira, 20, José
Maria da Silva, 17, Sergio Almeida
de Lima, 24, Marcelo Solano Sampaio Júnior, 17, Roberto de Souza
do Nascimento, 20.
Na versão de 12 moradores ouvidos pela Folha -incluindo cinco parentes dos mortos-, os
PMs subiram o morro para identificar os responsáveis pelo abaixo-assinado. Encontraram Sodré
e Silva -que estariam organizando o documento- e mataram os
dois, junto com mais três pessoas.
De acordo com as denúncias dos
moradores, os soldados extorquiam dinheiro de traficantes, viciados e trabalhadores da região.
Os parentes dos mortos não
confirmaram que eles eram de fato envolvidos com o tráfico. Dulcineide da Silva, irmã de José Maria da Silva, disse que o irmão estava ameaçado de morte pelos
soldados porque organizava o
abaixo-assinado. Ela disse que o
irmão trabalhava num supermercado próximo à favela, mas a informação foi desmentida no local.
Kátia Fernandes, viúva de Nilton Fernando Sodré Oliveira
-apontado pela polícia como o
traficante Amendoim-, negou
que seu marido fosse traficante e
disse que ele estava também
ameaçado de morte porque reagia aos supostos achaques.
A tesoureira da associação dos
moradores do Pavão-Pavãozinho, Alzira Maria Barros do
Amaral, confirmou a existência
do abaixo-assinado, embora diga
que a iniciativa de organizá-lo
não foi da associação.
Medo
Os mortos foram levados ao
Hospital Miguel Couto, com tiros
no tórax, na cabeça e no abdômen. Segundo a Polícia Civil, os
laudos sobre as mortes só ficam
prontos daqui a um mês.
A PM e a Polícia Civil informaram que os mortos são ligados ao
tráfico e que suas fichas policiais
estão sendo levantadas. Segundo
o delegado Ivo Raposo, os apelidos são de fato conhecidos como
sendo de pessoas ligadas ao tráfico, mas é preciso checar se apelidos e nomes verdadeiros se referem às mesmas pessoas.
Duas pessoas ficaram feridas no
tiroteio: L.T.S., 17, e Wilson do
Nascimento, 18. Segundo a PM,
os dois estariam envolvidos com
o tráfico, mas eles acabaram sendo liberados nos hospitais onde
foram atendidos. L. prestou depoimento, disse que era guardador de carros. Nascimento desapareceu e está sendo procurado.
Texto Anterior: Ação foi legal, afirma coronel Próximo Texto: Batalha jurídica: Governo tenta barrar ações contra Febem Índice
|