São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2000


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Morador aponta "ajuste de contas"

DA SUCURSAL DO RIO

Moradores do complexo de morros Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, em Copacabana (zona sul), onde cinco supostos traficantes foram mortos anteontem pela PM, deram ontem nova versão para as mortes.
Segundo moradores do morro e parentes dos mortos, a operação foi um "ajuste de contas" organizado por soldados do 19º BPM (Batalhão de Polícia Militar) em represália contra um abaixo-assinado denunciando arbitrariedades dos soldados Leite e Cosme -ambos participantes da operação de anteontem.
O comandante do 19º BPM, Fernando Belo, disse que a versão dos moradores é irreal. Na versão da polícia, houve uma operação de rotina de combate ao tráfico, com uma troca de tiros entre três PMs e 15 traficantes que embalavam drogas. Depois disso, moradores desceram o morro, fecharam ruas e depredaram carros. O morro está ocupado.
Para a polícia, eram ligados ao tráfico todos os mortos: Nilton Fernando Sodré Oliveira, 20, José Maria da Silva, 17, Sergio Almeida de Lima, 24, Marcelo Solano Sampaio Júnior, 17, Roberto de Souza do Nascimento, 20.
Na versão de 12 moradores ouvidos pela Folha -incluindo cinco parentes dos mortos-, os PMs subiram o morro para identificar os responsáveis pelo abaixo-assinado. Encontraram Sodré e Silva -que estariam organizando o documento- e mataram os dois, junto com mais três pessoas. De acordo com as denúncias dos moradores, os soldados extorquiam dinheiro de traficantes, viciados e trabalhadores da região.
Os parentes dos mortos não confirmaram que eles eram de fato envolvidos com o tráfico. Dulcineide da Silva, irmã de José Maria da Silva, disse que o irmão estava ameaçado de morte pelos soldados porque organizava o abaixo-assinado. Ela disse que o irmão trabalhava num supermercado próximo à favela, mas a informação foi desmentida no local.
Kátia Fernandes, viúva de Nilton Fernando Sodré Oliveira -apontado pela polícia como o traficante Amendoim-, negou que seu marido fosse traficante e disse que ele estava também ameaçado de morte porque reagia aos supostos achaques.
A tesoureira da associação dos moradores do Pavão-Pavãozinho, Alzira Maria Barros do Amaral, confirmou a existência do abaixo-assinado, embora diga que a iniciativa de organizá-lo não foi da associação.

Medo
Os mortos foram levados ao Hospital Miguel Couto, com tiros no tórax, na cabeça e no abdômen. Segundo a Polícia Civil, os laudos sobre as mortes só ficam prontos daqui a um mês.
A PM e a Polícia Civil informaram que os mortos são ligados ao tráfico e que suas fichas policiais estão sendo levantadas. Segundo o delegado Ivo Raposo, os apelidos são de fato conhecidos como sendo de pessoas ligadas ao tráfico, mas é preciso checar se apelidos e nomes verdadeiros se referem às mesmas pessoas.
Duas pessoas ficaram feridas no tiroteio: L.T.S., 17, e Wilson do Nascimento, 18. Segundo a PM, os dois estariam envolvidos com o tráfico, mas eles acabaram sendo liberados nos hospitais onde foram atendidos. L. prestou depoimento, disse que era guardador de carros. Nascimento desapareceu e está sendo procurado.


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